O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) completa 20 anos desde que foi calculado pela primeira vez. Nas dez medições realizadas desde 2005, Pelotas nunca figurou no ranking das melhores médias do RS. Além disso, na última avaliação, pela primeira vez a cidade teve um decréscimo de nota. Para especialistas, o resultado de 2023 reflete as consequências da pandemia. Outras questões como falta de infraestrutura e valorização docente são apontadas como causa do histórico baixo desempenho.
Divulgado a cada dois anos, em 2025 o Ideb voltará a ser calculado e passará por mudanças com a proposta de identificar melhor as perdas de aprendizagem entre os Ensinos Fundamental e Médio e as desigualdades existentes nas redes educacionais. No índice de 2023, a nota de Pelotas foi de 4,9, o que representa uma queda de 0,6 pontos ante 2021.
Pandemia, currículo e infraestrutura
Para a pesquisadora e professora da Faculdade de Educação da UFPel, Maria de Fátima Cóssio, o principal fator para a queda de desempenho no último Ideb é a pandemia, pois afastou os estudantes dos espaços escolares. O fenômeno teria afetado sobretudo as escolas públicas, na medida em que as condições das famílias e das escolas para o uso de tecnologias e acompanhamento ao desempenho escolar era frágil e, em alguns casos, inexistente, o que provocou lacunas significativas na aprendizagem.
Em apenas dois momentos da série histórica do Ideb, Pelotas figurou na metade de cima do ranking de municípios, em 2005 e 2021. Mesmo assim, próximo do limite da parte de baixo da tabela. Conforme a professora, os desafios da rede pública são vários, tanto para melhorar os indicadores quanto para propiciar uma formação sólida às futuras gerações.
“Eu destacaria a falta de valorização docente, tanto no que se refere à salários dignos, quanto às condições de trabalho”, diz. Além disso, Maria de Fátima cita que as estruturas escolares precarizadas em boa parte das redes não permitem ambientes adequados à formação ampla e qualificada.
Melhor desempenho requer a combinação de vários fatores
Para a professora, melhorar o cenário educacional de Pelotas requer investimentos na formação continuada de docentes, melhoria da remuneração e condições de trabalho, bem como qualificação dos espaços físicos e discussão aprofundada sobre os currículos. “É um combinado de vários fatores e investimentos. Não há uma fórmula mágica, é priorizar de fato a educação”.
Diagnóstico municipal
“São índices realmente bastante preocupantes”, diz o secretário de educação de Pelotas, Mauro Del Pino. O diagnóstico preliminar da rede municipal realizado pelo novo governo aponta as mesmas questões elencadas por Maria Fátima como fonte do baixo desempenho educacional: falta de infraestrutura, desvalorização do magistério e problemas nas bases curriculares.
“Dão conta dos motivos pelos quais a realidade educacional da cidade de Pelotas vem se agravando nos últimos anos”, diz Del Pino. Conforme o secretário, no levantamento foram encontradas três escolas interditadas e oito obras paralisadas. “Escolas com áreas internas muito degradadas, sem áreas de lazer, sem nenhum conforto térmico, banheiros e refeitórios em condições precárias”. Há demanda de qualificação de infraestrutura em todas as escolas.
Pesquisador na área da educação e ex-reitor da UFPel, Del Pino considera que a evolução no índice de aprendizagem passa pela qualificação da educação infantil de forma que as crianças dominem a leitura, a escrita e outras habilidades na idade correta. Ele avalia que há degradação do currículo escolar, com a exclusão de disciplinas de humanas, por exemplo, para introdução de matérias como empreendedorismo e projeto de vida.
Medidas
Diante disso, entre as primeiras ações da Secretaria de Educação está a mudança de componentes curriculares. Conforme Del Pino, reuniões têm sido realizadas com as equipes diretivas para debater as transformações necessárias. “Vamos construir junto com os professores uma nova formação que repercuta na qualidade da educação”. Algumas disciplinas devem ser adicionadas em substituição a outras.
Del Pino promete que, em março, três escolas de educação infantil que estavam fechadas serão reabertas e o governo busca recursos para a construção de novos educandários, além de esforço para a execução das melhorias necessárias na infraestrutura das escolas. Outro investimento planejado é na formação continuada de professores e outros profissionais da educação.
Segundo Del Pino, a partir dessas ações a meta é que ao final do atual governo, Pelotas ultrapasse a nota de 5,3 no Ideb. “Talvez na próxima leitura, a gente consiga se aproximar dela”.
Pai e professor
O filho de David Rodrigues ingressará neste ano na pré-escola da rede municipal, com isso a expectativa do pai é de que a criança tenha acesso a um ensino de qualidade, pois para ele tanto as escolas do município quanto as do Estado têm excelentes profissionais.
No entanto, para ele um fator que pode ser melhorado nas escolas é o aumento de efetivo. “Pois em algumas escolas existe um déficit de funcionários, que por muitas vezes acabam se sobrecarregando e não conseguindo entregar o 100% do que os alunos podem receber”, diz o professor.
O Ideb
É um indicador do Inep que mede a qualidade do ensino no Brasil, permitindo comparar a performance das escolas, redes e sistemas de ensino. O índice varia de 0 a 10, sendo que quanto maior o número, melhor é o desempenho. O Ideb é usado para estabelecer metas de qualidade para a educação, que devem ser atingidas por escolas, municípios e estados.