Pelotas tem no Carnaval uma de suas principais tradições. Nos anos 1920, o momento de celebração e ocupação dos espaços da cidade separava brancos e negros, herança de um país escravocrata. É nesse contexto que em 1921 nascia um novo cordão carnavalesco negro.
Os amigos Osvaldo Guimarães da Silva, Renato Monteiro de Souza e João Francisco Ferreira reuniram-se na Praça da República, atual Praça Coronel Pedro Osório, e decidiram criar seu próprio grupo. Como um ímpeto, dois foram avisar os demais companheiros e um ficou na praça para dizer a quem passasse que ali estava se formando um novo cordão. Assim, em 27 de janeiro de 1921, nasceu o Fica Ahí Pra Ir Dizendo.
Diferentemente de muitos cordões da época que tiveram duração efêmera, o Fica Ahí se manteve ativo e de cordão passou a Clube Carnavalesco em 1948, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae). Em 1953, o clube passa a ser cultural e em 1954 foi inaugurada a sede onde até os dias de hoje o grupo se reúne.
102 anos se passaram e muita história foi vivenciada no prédio da rua Marechal Deodoro nº 368. Bailes de debutante, coroações de rainhas e duquesinhas e a criação da biblioteca totalmente voltada para literatura negra. Em 2012, em reconhecimento a luta antirracista, a sede do clube foi tombada como Patrimônio Cultural do Estado do Rio Grande do Sul. No ano seguinte foi declarado Patrimônio Cultural do Município.
O clube hoje
Em 2024, o clube enfrentou momentos difíceis. Com uma dívida de aproximadamente R$ 300 mil reais, a sede histórica quase foi a leilão, porém, a diretoria do clube se articulou e reverteu a situação com um acordo judicial. A atual vice-presidente do clube, Cláudia Mendes, explica que a emenda recebida pelo Deputado Daniel Trzeciak (PSDB) no ano passado não pode ser utilizada para saldar a dívida, mas vai servir para a manutenção do espaço que já está em andamento.
Assim, o grupo entra em 2025 precisando de movimentação e, por isso, decidiram colocar o cordão na rua novamente, algo que aconteceu pela última vez em 1953. Cláudia conta que a ideia de voltar como cordão já vem sendo discutida há anos incentivada pela secretária Maria Teresa Barbosa. A diretoria entendeu que 2025 seria o ano de voltar. “Tivemos todas essas questões judiciais, os processos em andamento, muita especulação ao redor do clube. Por isso, nossa ideia de botar o nosso cordão na rua é mostrar que a família Fica Ahí continua cada vez mais unida, mais ativa com a nossa cultura lá em cima!”, afirma Claudia.
O cordão está confirmado para o próximo sábado (22). A concentração acontece às 16h na esquina entre as ruas 15 de Novembro e Tiradentes. O cordão sai às 18h. Os abadás ainda estão à venda a R$ 30 na sede do clube ou pelo telefone (53) 9144-3374 com Luana Costa. Ainda nas comemorações de carnaval, o clube promoverá um baile no dia 3 de março e divulgará mais informações no perfil do instagram @ccficaahi.