A escassez de chuvas na região obrigou Canguçu a declarar situação de emergência nesta semana. A estiagem afetou gravemente o município e resultou em índices pluviométricos abaixo da média nos últimos três meses. Isso afetou a produção agropecuária e a subsistência de diversas famílias, causando prejuízos estimados em R$ 83,9 milhões. Diante disso, outras cidades também sofrem com a predominância do tempo seco e planejam, se necessário, recorrer à mesma medida de decreto.
No caso de Piratini, por exemplo, já há perdas significativas nas culturas de soja precoce e milho e a Emater/RS monitora a situação com vistorias periódicas no caso de eventual solicitação de decreto de emergência. No entanto, ainda é difícil definir um percentual exato de quebra na produção. Segundo nota da prefeitura, estão sendo feitas entregas de água potável às propriedades e há demanda por abertura de poços e bebedouros, pois a água para os animais está cada vez mais escassa.
Em Herval, um relatório de perdas gerais deve ser apresentado dentro dos próximos dias, segundo a prefeitura. Sobre a situação de emergência, já foi realizada uma reunião entre a Defesa Civil, secretarias e entidades para estudar a situação. O município aguardou as chuvas previstas para os últimos dias, esperando cerca de 50mm, mas apenas 20mm foram registrados.
De acordo com o supervisor regional da Emater, Edgar Norenberg, os municípios ainda enxergam perdas pequenas, mas como ocorreu alguma chuva nos últimos dias há possibilidade de recuperação. “Semana passada choveu, essa semana também de maneira mais uniforme. Há uma região de Canguçu que é a mais afetada”, diz Norenberg. “Nas outras cidades, a expectativa melhorou com as chuvas.”
Canguçu tem prejuízos no campo e na mesa
Segundo o secretário municipal de Agricultura, Pecuária, Cooperativismo e Recursos Hídricos de Canguçu, José Fernando Goetzke, a produção em Canguçu foi fortemente impactada. Ele explica que o período de estiagem ocorreu em um momento crucial para o desenvolvimento especialmente da soja e do milho.
Estimativas da Emater apontam que as perdas ultrapassam R$ 55 milhões na soja, e mais de R$ 15 milhões na produção de milho, sem contar os danos na agropecuária. “Isso reflete direta e indiretamente na rentabilidade das famílias, que, em sua maioria, ainda dependem dessas culturas para subsistência, especialmente nas pequenas propriedades rurais, que caracterizam a maior parte do município”, aponta o secretário.
Providências emergenciais
Sobre as medidas que estão sendo tomadas, o coordenador da Defesa Civil em Canguçu, Cesar Madrid, destaca que o órgão tem atendido às famílias afetadas, explicando sobre a recorrência da estiagem e a necessidade de uma preparação maior. Além disso, cita o abastecimento de água através da abertura de cacimbas pela Secretaria Municipal de Estratégias Rurais, com acompanhamento da Emater e da pasta municipal.
O abastecimento de água ocorre conforme a chegada de solicitações e buscam atender as necessidades básicas das famílias enquanto a situação persistir. Em localidades do 3º, 4º e 5º distritos, as regiões mais afetadas pela seca, o maquinário vai até duas vezes por dia. Na média, são 40 mil litros distribuídos por dia no interior.
Qual o cenário em Canguçu?
Conforme decreto de emergência:
- Cerca de 178 famílias em 30 localidades estão sem acesso à água, com distribuição sendo feita pela prefeitura.
- A produção de soja, milho, feijão, batata, frutas, hortaliças, tabaco, e criação de rebanho bovino e ovino foram impactadas.
- O desastre é classificado como de Nível II
- Medidas de mitigação estão sendo implementadas, como a abertura de 49 bebedouros para dessedentação e a distribuição de alimentos e insumos agrícolas.
- Órgãos municipais se mobilizam para ações de reabilitação do cenário.
- Convocação de voluntários e realização de campanhas de arrecadação de recursos.
- Autoridades administrativas e agentes de defesa civil podem adentrar residências e usar propriedades particulares em casos de risco iminente.
- Há possibilidade de prorrogação dos débitos dos produtores afetados e renegociação de dívidas do Pronaf e ProAgro.
- O decreto tem validade de 180 dias e pode ser prorrogado.
Impactos econômicos no RS
Em nota, a Federação da Agricultura do RS (Farsul) destacou na última terça-feira os impactos das estiagens na economia do Rio Grande do Sul entre 2020 e 2024. As perdas acumuladas chegam a R$ 117,8 bilhões no campo, considerando o IPCA. No total, incluindo agropecuária, indústria, serviços e impostos indiretos, as perdas somam R$ 319,1 bilhões, o que representa 49% do PIB do Estado em 2023. As culturas analisadas foram arroz, soja, milho e trigo.