Fevereiro Roxo: mês para falar sobre lúpus, fibromialgia e Alzheimer
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Fevereiro Roxo: mês para falar sobre lúpus, fibromialgia e Alzheimer

Mesmo sem existir formas de prevenção, a adoção de um estilo de vida saudável pode controlar os sintomas

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Atualizado domingo,
02 de Fevereiro de 2025 às 10:09

Fevereiro Roxo: mês para falar sobre lúpus, fibromialgia e Alzheimer
Dor crônica generalizada é um dos sintomas da fibromialgia. (Foto: Jô Folha)

Como tradicionalmente, cada ano do mês além de ganhar uma cor também dá destaque a um tema de importante debate social. O Fevereiro Roxo chama a atenção para as doenças lúpus, fibromialgia e Alzheimer. Apesar de muito diferentes entre si, elas têm em comum o fato de serem crônicas e incuráveis. Um dos objetivos da campanha é justamente informar para facilitar o acesso ao diagnóstico e tratamento adequados.

Conforme o professor de Reumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Daniel Brito de Araujo, a campanha é importante por informar a população sobre as condições das três doenças, reduzir o estigma, promover o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.

Apesar de muito diferentes, lúpus e fibromialgia são condições crônicas que podem causar fadiga e dor. “Afetam mais mulheres do que homens e podem ter sintomas que se sobrepõem, como dor articular e fadiga”, explica o docente. Já o Alzheimer é uma doença neuro-degenerativa que provoca o declínio das funções cognitivas, reduzindo as capacidades de trabalho e relação social.

Conheça mais sobre as três doenças

Lúpus

O lúpus é uma doença autoimune crônica em que as defesas do organismo, ao invés de defendê-lo, ataca tecidos saudáveis do corpo, causando inflamação e danos em várias partes, como pele, articulações, rins, coração e pulmões.

Segundo o Ministério da Saúde, o Lúpus Sistêmico é a forma mais séria da doença e a mais comum, pois afeta 70% dos pacientes com lúpus, sendo a maior parte mulheres em idade fértil.

Sintomas

  • – Fadiga extrema
  • – Dor e inchaço nas articulações
  • – Manchas vermelhas no rosto
  • – Febre
  • – Sensibilidade à luz solar
  • – Queda de cabelo
  • – Problemas renais, cardíacos ou pulmonares

Fibromialgia

A fibromialgia é uma síndrome caracterizada por dor crônica generalizada, fadiga, distúrbios do sono, problemas de memória e alterações de humor. É uma condição em que ocorre uma amplificação das sensações de dor, afetando a forma como o cérebro processa os sinais dolorosos.

Embora a causa exata seja desconhecida, fatores como genética, traumas físicos ou emocionais podem contribuir para o seu desenvolvimento. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) calcula que a fibromialgia afeta cerca de 3% da população. De cada dez pacientes com fibromialgia, sete a nove são mulheres.

Sintomas

  • – Dor generalizada por mais de três meses
  • – Fadiga crônica
  • – Distúrbios do sono
  • – Dificuldades cognitivas (“fibro fog”)
  • – Sensibilidade em pontos específicos do corpo

Alzheimer

O Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo e fatal que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades de vida diária e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais.

Sintomas

  • – Falta de memória para acontecimentos recentes;
  • – Repetição da mesma pergunta várias vezes;
  • – Dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos complexos;
  • – Incapacidade de elaborar estratégias para resolver problemas;
  • – Irritabilidade, desconfiança sem justificativa, agressividade

Quando procurar ajuda médica

Conforme Araujo, sintomas persistentes como dores articulares, fadiga extrema, lesões de pele inexplicáveis ou dor generalizada é o indicativo para procurar suporte médico, especialmente um reumatologista.

Para lúpus, o diagnóstico é feito por meio da avaliação dos sintomas do paciente, exames de sangue e urina. “Não existe um único exame que confirme a doença, então os médicos analisam um conjunto de sinais clínicos e testes laboratoriais”, explica.

Já o diagnóstico da fibromialgia é clínico, baseado em sintomas de dor generalizada por mais de três meses e sensibilidade em pontos específicos do corpo. Embora não existam exames que confirmem a doença, alguns são utilizados para descartar condições que podem se parecer com a fibromialgia como o hipotireoidismo, menopausa, doenças inflamatórias dos músculos.

No caso do Alzheimer, o primeiro sintoma mais característico é a perda de memória recente. Com a progressão da doença, vão aparecendo sintomas mais graves como a perda de memória remota, bem como irritabilidade, falhas na linguagem, prejuízo na capacidade de se orientar no espaço e no tempo.

O diagnóstico do Alzheimer é por exclusão. O rastreamento inicial deve incluir avaliação de depressão e exames de laboratório com ênfase especial na função da tireoide e nos níveis de vitamina B12 no sangue.

Como funciona o tratamento após diagnóstico

Para lúpus, doença que tem várias manifestações clínicas, o tratamento é focado no órgão acometido e inclui anti-inflamatórios, corticosteroides e imunossupressores. “Também existem medicamentos mais modernos que são os imunobiológicos, usados quando os remédios tradicionais não são suficientes”, explica o docente.

Além disso, mudanças no estilo de vida, como evitar exposição ao sol, uso de protetor solar, realizar atividade física regular e adotar uma dieta equilibrada, também são recomendados.

Para fibromialgia o tratamento foca no controle da dor crônica com medicamentos como antidepressivos e anticonvulsivantes e, principalmente, com mudanças no estilo de vida. É recomendada a prática de exercícios físicos, melhora do padrão do sono, terapia e técnicas de relaxamento.

O tratamento do alzheimer é medicamentoso. O objetivo é propiciar a estabilização do comprometimento cognitivo e da realização das atividades da vida diária do paciente com um mínimo de efeitos adversos.

Onde obter ajuda

A Faculdade de Medicina da UFPel possui um ambulatório de Reumatologia com atendimento via Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, o curso conta com a “Unidade Cuidativa”, um Centro de Referência em Cuidados Paliativos, em que pacientes com dor crônica podem encontrar diversas atividades que auxiliam no seu manejo.

Conforme o reumatologista, é possível ter qualidade de vida com lúpus e fibromialgia, mas isso requer um manejo adequado da doença, incluindo tratamento médico, ajustes no estilo de vida e suporte emocional. “A adesão ao tratamento e o acompanhamento regular são fundamentais”, orienta. As Unidades Básicas de Saúde (UBS) são os espaços adequados para a busca de atendimento.

Diagnóstico difícil

A professora Diva Figueiredo, de 29 anos, conviveu com os sintomas iniciais de mal estar, dor no corpo e extremidades roxas por vários anos sem o diagnóstico de Lúpus. “Meus sintomas foram confundidos com estresse provocado pelo final da graduação. Terminei a faculdade e nada mudou. Passei a conviver com sintomas e achar que não era nada de mais. Até que eu piorei bastante e precisei voltar ao médico”, relembra.

A partir de uma segunda opinião médica que Diva obteve o diagnóstico em setembro de 2018. “Eu perdi todo meu cabelo, fiquei careca, foi o fim do mundo pra mim. Sempre fui muito vaidosa e de repente não tinha um fio de cabelo na cabeça”, conta.

Depois do diagnóstico, Diva passou a tomar medicamentos diários e realizar exames com frequência. “Não é uma vida fácil, a gente aprende a conviver com as dores articulares, desânimo e fadiga, afeta o psicológico. E mesmo com tudo isso, ir trabalhar todos os dias com sorriso no rosto”, diz.

Alguns dos novos hábitos adotados para aumentar a qualidade de vida são evitar exposição ao sol e alimentação saudável. “Não tenho mais o peso de antes por causa dos corticóides, mas sei que é pelo bem da minha saúde. Tenho uma filha de quatro anos, foi uma gestação de risco e ela está aqui linda e saudável”.

Avaliação correta

Isabelle Chaves, de 26 anos, mestranda em História na UFPel, relembra que sempre teve algumas algumas doenças como gastrite, fadiga, tendinite, enxaqueca crônica, e buscava ajuda médica de forma isolada. Foi ao chegar a um médico reumatologista que ela obteve o diagnóstico de fibromialgia. “Após chegar ao reumatologista o diagnóstico foi certeiro. Então para mim foi fácil, mas outras pessoas podem ir a outros médicos e ter dificuldade de obter o diagnóstico”, conta.

Após o diagnóstico, Isabelle começou a prestar mais atenção em si mesma, e aumentar os cuidados com a saúde. “Antes eu achava que eu era uma pessoa preguiçosa, muito sensível, que vivia com dor. Que isso ocorria porque não me cuidava, e agora que eu entendo o que é”, avalia.

Também, a fibromialgia vem sendo uma forma da mestranda descobrir e respeitar os seus limites para, com paciência, vencê-los. “Digo ultrapassar meus limites porque muitas coisas eu não consigo fazer por causa da fibromialgia, mas eu sei que se for com calma e treinando, tendo um apoio, eu vou conseguir fazer e chegar onde eu quero, mas é um caminho complicado”, diz.

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