O Porto de Rio Grande deve estar atento a possíveis alterações na relação comercial com os Estados Unidos, o quarto maior parceiro do terminal e o segundo do Brasil. Diante da promessa de uma política norte-americana protecionista, especialistas e lideranças locais debatem os possíveis impactos das transações entre os países.
“Com o protecionismo, Trump vai forçar com que as empresas voltem a abrir fábricas e indústrias nos Estados Unidos. Para isso, ele vai criar tarifas e sanções para o mercado internacional”, explica o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Gustavo Feddersen.
Somente em 2024, mais de 892 mil toneladas de produtos saíram do Porto de Rio Grande com destino aos Estados Unidos. Em 2022, o número de movimentações bateu recorde e chegou a 986 mil toneladas.
Incerteza
Antônio Carlos Bacchieri, coordenador de operações portuárias da Bianchini S/A e diretor de infraestrutura da Federasul, comenta que o momento ainda não assusta, mas exige atenção. “O mercado está atento às possíveis medidas dos Estados Unidos. Apesar disso, não se tem nada claro ainda sobre como vai funcionar”, diz.
Novas tarifas
O diretor afirma que a partir do anúncio da sobretaxação será possível identificar quais setores serão afetados. “Vamos ter que observar como essa medida vai funcionar e quais produtos ela vai impactar”, destaca.
Com posicionamento semelhante ao de Bacchieri, o presidente da Portos RS, Cristiano Klinger, comenta que uma sobretaxação da soja poderia causar um impacto na competitividade do produto brasileiro.
“Se o governo norte-americano sobretaxar a soja, produto importante para economia gaúcha e por consequência para a Portos RS e bastante exportado para os Estados Unidos, certamente impactaria a exportação e diminuiria a capacidade de competir no mercado americano”, comenta.
Tensão comercial
Com a posse de Donald Trump, a tensão entre os Estados Unidos e a China segue aumentando e influenciando o mercado comercial internacional. Conforme Feddersen, essa disputa pode ser prejudicial para o Brasil.
“O discurso de Trump garante que quem mantiver relações comerciais com a China vai perder espaço nos Estados Unidos, o que para o Brasil é muito ruim, porque é um conflito entre os nossos dois principais parceiros”, explica.
Oportunidade
Já Bacchieri entende que a tensão pode gerar uma oportunidade para o mercado brasileiro na exportação de soja, na qual Brasil e Estados Unidos são concorrentes. “Se o Trump entrar em conflito comercial com a China, como ele tem dito que vai entrar, nossa exportação de soja deve aumentar. É mais fácil um chinês deixar de comprar a soja norte-americana e aumentar o volume de importação do Brasil”, argumenta.
Caso o último cenário se confirme, o Porto de Rio Grande, referência na exportação de soja, poderá ampliar o seu volume de movimentações para os países asiáticos, conforme Klinger.
“Se por um lado existe preocupação com possíveis perdas, há outro para o qual estamos olhando que nos traz oportunidades em mercados que já são nossos consumidores e devem aumentar seu apetite pelo Brasil”, ressalta.
Exportações do Porto de Rio Grande para os Estados Unidos
• 2024 – 892.853 toneladas (4º)
• 2023 – 859.571 toneladas (4º)
• 2022 – 986.859 toneladas (3º)
• 2021 – 967.401 toneladas (3º)