Santiago Valentino Palma Paz, de 28 anos, é indígena Taurepang, etnia da região de fronteira entre o sul da Venezuela e o norte do Brasil. Nascido na Venezuela, ele morou no país por quase toda a sua vida, aproximadamente 25 anos, antes de se estabelecer de forma mais definitiva em Roraima, onde vive há três anos. Por conta da proximidade entre os dois países, sua vivência sempre alternou entre os territórios venezuelano e brasileiro. Este ano, Santiago tem a segunda oportunidade de visitar Pelotas através do Festival de Música. Ele já havia vindo na edição do ano passado.
Como iniciou a sua relação com a música?
Na verdade, eu comecei após uma operação de apendicite quando eu tinha 14 anos. Comecei tocando piano e continuei tocando violão, depois entrei na orquestra. Lá na Venezuela tem um sistema de orquestra em cada povoado. Agora, em Roraima, faço parte do projeto social do Sesc tocando violoncelo. Mas, além disso, sou solista de ópera também, como tenor. Toco piano, violão, contrabaixo. Também toco clarinete, guitarra e bateria, entre outros. Tudo que aprendi foi depois dos 14 anos. Antes disso eu não tinha noção de nenhuma coisa. Fui estudando, pouco a pouco, levando as coisas com calma e realmente gostando do que eu faço. O maior aprendizado é gostar de aprender coisas novas.
O que a música representa na sua vida multi instrumental?
Eu sempre falo que pra mim é como se fosse uma terapia que me desconecta um pouco do mundo. Porque, normalmente, na rotina vivemos momentos de relações com pessoas, ambientes sociais, trabalho. Para mim, essa terapia aqui me conecta com meus sentimentos, eu descubro como realmente estou me sentindo. Com ela, sei como posso resolver as coisas do dia a dia. Além disso, ela me ajuda a me expressar ante muitas pessoas e ser livre.
Para quais lugares o seu talento já o levou? O que achou de Pelotas?
Ano passado, fui para o Rio de Janeiro, fiz uma apresentação. Fui para a Bahia, Brasília também, e quase no final do ano fui para Natal, no Rio Grande do Norte, só por causa da música, como violoncelista e como cantor também. Esta é a segunda vez aqui em Pelotas. É uma experiência muito especial, já havia sido no primeiro ano. Gosto muito do festival que fazem aqui. Acho que é um dos festivais de música do Sesc de maior sucesso, porque tem essa mistura de culturas. Não tem apenas pessoas do Sul; chegam do Norte também, como a gente, e também tem pessoas que falam espanhol, que não são necessariamente venezuelanas. Essa mistura é muito especial. Me sinto privilegiado de poder estar aqui de novo.
Como você avalia as oportunidades que a vida musical proporciona?
Sinto que a orquestra deixa um aprendizado grande para todo mundo. Não é só porque as pessoas brilham e conseguem fazer muitas coisas. Mas, em conjunto, tentamos nos entender, e os momentos se tornam ainda mais especiais. Eu acho que entendemos um pouco mais da vida, como somos apenas uma pequena parte desse mundo, um fragmento de um povo, de uma cidade. A vida tem sentido quando aprendemos a compartilhar as coisas boas com pessoas diferentes de nós.