O psicanalista, psiquiatra e médico pediatra, Paulo Rosa, foi professor na Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e na Universidade de Belgrano, em Buenos Aires, durante 40 anos. Em entrevista ao A Hora do Sul, ele fala sobre o estabelecimento de metas de fim de ano e como lidar com as frustrações naturais, também citando a imperfeição humana. Além disso, ele comenta sobre a melhor maneira de lidar com emoções difíceis, e traça o equilíbrio adequado para uma boa saúde mental.
Como evitar que as metas de ano novo virem motivo de estresse?
Evitar estresse é muito difícil para o ser humano, quase impossível. A ansiedade é própria da natureza humana, e qualquer mudança no cotidiano, seja para bem ou mal, aumenta a ansiedade. Sobre as metas: é comum que a gente estabeleça algumas. São desejos legítimos que a pessoa tem. Implementar o desejo é uma atividade mental muito complexa, por isso, com frequência, a pessoa não alcança a meta, ainda mais se forem muito elevadas. O problema do ser humano é poder agir na justa medida para si próprio e para o outro. Estabelecer metas, mas em uma medida adequada. A passagem do tempo é um simbolismo que tem um enorme efeito na alma humana. E nesses momentos, a pessoa se propõe e faz promessas, muitas vezes inalcançáveis. É preciso ser prudente, traçar as metas de maneira plausível para cada pessoa.
O que fazer para lidar com a pressão de começar o ano de forma perfeita?
Uma das grandes questões humanas é compreender a incompletude humana. O fato que somos imperfeitos todo mundo sabe, o que não implica que nós aceitemos ou cultivemos a imperfeição. Pelo contrário, a gente cultiva a fazer as coisas de forma perfeita. A arte, por exemplo, em qualquer forma de expressão, é onde o ser humano consegue se aproximar dessa utopia saudável da perfeição. A imperfeição é uma condição humana muito interessante para refletir nessa passagem de ano.
Como trabalhar emoções difíceis ao refletir sobre o ano que passou?
Nós precisamos desenvolver uma capacidade de ser amigo de si próprio, assim como nos ensinam a sermos amigos dos outros. Isso é muito válido para essa reflexão de mudança de ano. No fim do ano, as pessoas pensam no que fizeram de bom, no que falharam. Isso é geral, todos fazem. Mas para fazer isso de modo proveitoso, tem que ser como um amigo de si. Isso precisa ser cultivado. Na família ou nas escolas, de modo geral, não se ensina isso. É um valor muito importante para o ser humano: chegar a ser amigo de si.
Que hábitos ajudam a manter a saúde mental no dia a dia?
Em primeiro lugar, a saúde mental deve ser avaliada pelo bem-estar. É um conceito muito útil da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 1948. Saúde é o bem-estar físico, psíquico, social e espiritual. O ser humano deve buscar como fator de equilíbrio cuidar das quatro dimensões. Tem que ter atividade física. Devemos fazer o que nosso coração faz pela gente, ele não para e nós não podemos parar. Se não der para ir na academia, caminhe. A atividade psíquica é buscar boas leituras, apreciar obras de arte, enfim, estímulos de valor. No campo social, é buscar ter bons relacionamentos, ter um bom grupo de amigos, participar de grupos de amigos que gostem de uma mesma atividade. Por último, é preciso que a pessoa busque uma dimensão espiritual. Não é necessário ter uma religião definida, mas que haja uma forma suave de espiritualidade. Valorizar os grandes mistérios da natureza, refletir sobre isso. E qualquer tipo de fanatismo ou vício em alguma das dimensões é inadequado e leva ao adoecimento.