Pelo menos oito empreendedores de um quarteirão que abrange seis ruas no centro de Pelotas foram vítimas de arrombamentos em dezembro e no início de janeiro. Os ataques estão cada vez mais especializados, ao ponto de os bandidos cortarem a energia do prédio para descarregar a bateria das câmeras de monitoramento. Cansados de acumular prejuízos patrimoniais e emocionais, alguns pedem providência para não ter que fechar as portas, o que representaria menos investimentos para a cidade. A Brigada Militar diz que via intensificar as patrulhas no local.
Os alvos ficam no quarteirão formado entre as ruas Marechal Deodoro e Santos Dumont com Voluntários da Pátria até a Major Cícero. Em um deles, na rua Barão de Santa Tecla, já foram cinco furtos e a proprietária não aguenta mais a sensação de impotência e a inércia da segurança pública. Na manhã de ontem, ao abrirem o Café Curcuma, os proprietários tiveram uma triste surpresa. A porta lateral estava quebrada e o espaço que reúne ambiente vintage estava todo revirado. Nas imagens de segurança, o registro do ladrão passando pelo buraco que fez na porta.
Os empreendedores Nicolas Mielke e Eduardo Klug vão registrar Boletim de Ocorrência, mas reclamam da burocracia. “Perguntaram o nome da minha mãe. Para quê?” A vítima conta que na primeira vez que entraram no estabelecimento há dois anos, a Brigada Militar teria perguntado sobre a existência da nota fiscal do que foi levado. Como não havia, o PM disse que não seria prioridade e que demoraria umas quatro horas para aparecer. “Disse então que nem precisaria aparecer.” Dessa vez foi diferente. Três horas depois do chamado, uma guarnição esteve no local analisando por onde o ladrão acessou o local.
Expertise
A proprietária da loja na esquina da Barão de Santa Tecla com Voluntários da Pátria, Karina Raubach, é a mais indignada. Ela pede soluções imediatas para a situação de insegurança no local. “Eu saí da Dom Pedro II por causa dos arrombamentos. Vim para este lugar e já foram três invasões. Eu pago impostos e não tenho segurança. Ninguém faz nada. Registrei as cinco vezes e até agora nada”, desabafa. Os empresários garantem que os arrombamentos são rotineiros nessa região central. “Não temos suporte nenhum, as pessoas não querem denunciar porque sabem que não vai acontecer nada.”
A expertise dos ladrões só aumenta a indignação das vítimas. Na loja de Karina, eles desligaram os disjuntores junto e esperaram acabar a bateria das câmeras internas para invadir o local. “Nem o alarme tocou quando a energia foi desligada”, comenta.
Polícias negam burocracia
O titular da 18ª Delegacia Regional de Polícia Civil, delegado Márcio Steffens, diz que não há burocratização para o boletim e que se não há como se deslocar até a DPPA, é possível fazer registro online. Ele destaca que são os boletins que possibilitam montar estratégias de segurança para agir. “Prendemos a todo momento criminosos que furtam e roubam”, relata. Pelo levantamento feito pelo delegado, na região citada, foram apenas três registros nos últimos três meses: um em outubro, nenhum em novembro e dois em dezembro. “Nós trabalhamos com dados estatísticos”, lembra a autoridade policial.
O comandante do 4º Batalhão de Polícia Militar (4ºBPM), tenente-coronel Paulo Renato Scherdien, também garante que não há burocracia para registro da ocorrência e que pode ser feita de várias formas: pela BM, online ou na DPPA. “São três opções de registro que irão nos dar a dimensão dos fatos, a localização e o quantitativo exato, onde através das informações e dos indicadores realizamos o planejamento e lançamento dos recursos humanos e viaturas”, esclarece.
Pela pesquisa no sistema integrado, o comandante informa que não são todos os empreendimentos que foram alvos de arrombamentos e que têm registro policial da ocorrência, mas garante que a Brigada Militar vai intensificar os patrulhamentos no local, ampliando a ostensividade e a presença policial. “Também destaco que nestes crimes de furto temos muitas reincidências. Os mesmos indivíduos são presos várias vezes e reincidem no crime”.