Ao impedir o avanço da mensagem que cria a estrutura do governo eleito, o presidente da Câmara Anderson Garcia (PSD) impôs a primeira grande derrota política ao prefeito Fernando Marroni (PT), que terá de iniciar sua gestão sem todas as secretarias anunciadas.
A decisão de Anderson não é nenhuma surpresa: nos últimos meses, a relação do Legislativo com o Executivo azedou e diversas pautas importantes do governo não avançaram, incluindo a autorização para o consórcio de inspeção às agroindústrias da região.
Ao que tudo indica, nem mesmo a saída de Garcia da Câmara, já que não foi reeleito, irá facilitar a vida do prefeito com o Legislativo e uma nova derrota política já está no horizonte, logo no dia 1º de janeiro, quando o bloco formado por vereadores de oposição deve eleger o presidente do primeiro ano de mandato.
O primeiro desafio de Marroni não será cumprir a promessa de iniciar a limpeza da cidade, mas sim melhorar a relação com a Câmara. Se o novo governo não resolver politicamente a relação com os vereadores, corre o risco de não conseguir aprovar sua minirreforma tão cedo e ainda por cima ficar refém da oposição durante todo o mandato.
Falta harmonia entre os poderes
É palavra corrente entre os vereadores e os postulantes à presidência do Legislativo a defesa da independência e da harmonia entre os poderes. É o correto, mas não é o que tem se visto. Pelo contrário, mesmo que o governo falhe no diálogo com a Câmara, quem tem causado a desarmonia institucional em Pelotas é justamente a presidência da Câmara, que agora lança moda ao embargar o processo de transição e defender que somente a próxima legislatura vote a reforma administrativa.
Se todos entendem que é prerrogativa do prefeito eleito colocar em prática o governo que deseja, qual o sentido de adiar esse processo? Não é nenhuma aberração que o prefeito no cargo antecipe medidas para permitir que o sucessor possa trabalhar e é republicano que, antes mesmo de o governo começar, o poder Legislativo dê o benefício da dúvida e permite ao Executivo se organizar como quiser..
- Por outro lado… faltou habilidade política da equipe de Marroni para defender o projeto, desde a criação até o começo da tramitação na Câmara. Se já há um clima hostil na relação com os vereadores, faltou tato para entender que a reforma não seria aprovada com facilidade e abriu margem para a derrota e para o desgaste.