Nicole Schmitt é coordenadora técnica do projeto de ginástica artística do Colégio Gonzaga, que no último fim de semana teve quatro atletas premiados em cerimônia da Federação Gaúcha em Porto Alegre – duas representantes do Grupo Tholl também receberam a honraria. Nicole fala sobre a parceria do projeto do Gonzaga com o Grêmio Náutico União (GNU) e a respeito da iniciação de jovens na ginástica artística.
Como é feito o trabalho de iniciação de crianças na ginástica artística?
Começa nas escolas. A gente tem iniciação no Gonzaga, em outras escolas na cidade. Quando a gente percebe que a criança tem um potencial e que a família está pré-disposta a entrar num processo de treinamento, a gente encaminha para as turmas de treinamento. Na iniciação, nosso principal foco é trabalhar o desenvolvimento psicomotor da criança através da ginástica e não pensar em técnica, em performance, e sim em habilidade motora, com brincadeiras lúdicas, passagem pelos aparelhos de forma organizada, mas trabalhando isso pensando sempre na melhoria da diversidade motora. Quando a gente observa que elas têm um potencial, um talento, encaminha para as turmas de treinamento. Começa a pensar em “limpar o movimento”, que é trabalhar isso com uma forma estética que a modalidade exige. Aí se tem uma exigência, a gente tem uma carga horária de trabalho um pouquinho maior, tentando refinar o movimento. Isso mudou muito no nosso trabalho desde que começou essa parceria com o GNU, porque a gente começou a adotar o treinamento vindo de lá. A gente tem no Gonzaga quatro ginastas que fazem intercâmbio com o União. Isso traz para dentro do nosso ginásio uma qualidade técnica bem maior, porque tem a supervisão de grandes treinadores e a sequência no trabalho aqui.
O que se considera na hora de levar crianças para o universo de competições?
Para o universo de competição, a gente tem que ver uma aptidão mútua, da ginasta querer estar no ambiente competitivo. Não basta ela ter só aptidão de talento físico como ser forte, flexível ou ter facilidade de aprender os movimentos. Ela precisa ter uma habilidade emocional, de suportar a frustração, a rotina, o treino, e isso é uma escolha mútua, tanto da ginasta para o treinamento quanto do treinamento para a ginasta. E não só da ginasta, mas da família como um todo, porque a família precisa adotar isso, porque ela vai ter uma carga horária maior de trabalho. Ela, às vezes, vai precisar se organizar na sua rotina diária, para estar no ginásio, treinando, e isso vai mexendo com a estrutura de toda a família.
Em nível nacional, como tu enxerga a ginástica pelotense?
Faz mais ou menos uns 15 anos que a gente começou a participar de eventos nacionais de segunda divisão, que são o que a Federação e a Confederação chamam de torneio nacional ou torneio estadual. Por muito tempo a gente ficou participando desses eventos como forma de ganhar experiência, como forma de mostrar para as meninas que praticam ginástica aqui na cidade como é o cenário nacional. Quando o nosso trabalho começou a evoluir tecnicamente, a gente começou a despontar alguns resultados no cenário nacional. A gente já teve campeãs do torneio nacional adulto. Quando começou essa parceria com o GNU, a gente conseguiu colocar meninas a competir na primeira divisão, que eu comparo como a Série A do campeonato de futebol, e continuou com meninas na segunda divisão, e aí tivemos cinco resultados bem expressivos dentro do cenário nacional. Hoje a gente já pode dizer que o Colégio Gonzaga tem uma frente, é uma instituição que se mostra com um poder técnico dentro do cenário nacional da ginástica. Porém tem limitações, até por isso a gente faz essa parceria com o GNU, porque aqui na cidade nós não temos ginásio com estrutura física adequada para o treinamento de alto rendimento. A gente precisaria de um espaço muito maior, equipamentos oficiais, alguns equipamentos de suporte, que são essenciais para que as meninas expressem ou exerçam os elementos de base com qualidade. E a gente não tem isso porque é um recurso financeiro muito grande investir num ginásio de ginástica artística hoje aqui na cidade. Quando a gente observa que tem ginastas com talento, é muito mais importante a gente perder essa ginasta de competir pela nossa instituição e poder evoluir tecnicamente fazendo essa parceria e competir por outro clube mas mantendo o nosso vínculo, do que a gente segurar essa ginasta aqui na nossa cidade sem estrutura técnica e sem a carga de trabalho efetivo que precisaria para se manter no topo do alto rendimento.