Pelotense é a única brasileira a fazer parte da restauração de pinturas da Catedral de Notre-Dame

Patrimônio histórico

Pelotense é a única brasileira a fazer parte da restauração de pinturas da Catedral de Notre-Dame

Juliana Rodrighiero foi responsável pela recuperação de murais decorativos de duas capelas

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Atualizado domingo,
15 de Dezembro de 2024 às 08:49

Pelotense é a única brasileira a fazer parte da restauração de pinturas da Catedral de Notre-Dame
Juliana atuou na recuperação dos murais. (Foto: Jô Folha)

Assim como pessoas no mundo todo, em abril de 2019, Juliana Rodrighiero, 30 anos, assistia pela televisão na sala de casa as imagens ao vivo do incêndio que atingia a Catedral de Notre-Dame. Fascinada pela arquitetura gótica, a conservadora-restauradora lamentava a possibilidade de nunca conhecer o monumento símbolo do estilo. Ela não imaginava que cerca de três anos depois estaria entre os dois mil profissionais que trabalharam para restaurar a igreja.

Após cinco anos de trabalho de recuperação desenvolvido por especialistas de várias partes do mundo e um investimento de 700 milhões de euros (R$ 4,4 bilhões), a Notre-Dame foi reaberta em cerimônia especial no último sábado. Juliana estava entre os trabalhadores homenageados. A pelotense foi a única brasileira que integrou as equipes de restauração de pinturas decorativas, atuando nas capelas Porte Rouge e Saint-Germain.

Os processos do restauro

Ela conta que antes da restauração iniciar foi necessário um meticuloso trabalho de limpeza das paredes para a retirada de fuligens e outras substâncias deixadas pelo fogo. Juliana destaca também que a umidade deixada pela água que apagou o fogo foi outro fator que degradava ainda mais as características do monumento e demandava mais tempo de trabalho.

As cores vivas das capelas e as estrelas douradas nas abóbadas foram aos poucos sendo descobertas conforme a limpeza. “Foi bem interessante a limpeza porque realmente foi a parte que a gente tira aquela camada escurecida e começa a trazer à tona essas coisas”, diz.

No processo de restauração, Juliana ressalta a oportunidade de, além de recuperar as obras, o fato de poder ter acesso a toda a Catedral e às obras primas de grandes artistas. “E também pela beleza das pinturas. Eram capelas que tinham pinturas murais bastante minuciosas, com detalhes bem diferentes e interessantes”.

Trabalho que ficará para a história

A conclusão da restauração provocou em Juliana a sensação de dever cumprido. Além disso ela define como “indescritíveis” os sentimentos que teve após a retirada dos andaimes e a primeira visão de toda a Catedral recuperada. “Por vezes a gente está muito concentrado numa parte específica e às vezes é difícil imaginar o trabalho como um todo”, explica.

A restauradora destaca que sabe cada detalhe recuperado por ela na igreja de cerca de 800 anos. Trabalho que fica gravado na história de um dos monumentos mais importantes e visitados do mundo. “Eu sei exatamente cada pincelada, cada lugar que eu havia feito alguma intervenção, cada lugar que eu tinha feito a limpeza”.

Catedral foi reaberta cinco anos depois de incêndio que destruiu boa parte do local. (Foto: Divulgação)

De acordo com Juliana, graças ao trabalho dedicado de todos os profissionais, foi entregue uma Notre Dame ainda melhor do que a anterior ao incêndio, já que na época já havia várias partes do monumento em degradação. “Ela é considerada a restauração do século. Então eu acredito que é o ápice da minha carreira. Para mim foi uma oportunidade inimaginável, acho que é praticamente a realização de um sonho”, ressalta.

A trajetória até Paris

Juliana é Doutora em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e doutora em Antropologia pela Université de Bourgogne Franche-Comté. Contratada por um renomado ateliê de Paris, o Mériguet-Carrère, em 2022, além da Catedral de Notre-Dame, a restauradora também trabalhou em monumentos importantes como Palácio do Eliseu, a residência do presidente da República, no prédio da Prefeitura de Paris e no Palácio da Justiça.

Na sua trajetória acadêmica, uma das primeiras experiências práticas durante o curso de Conservação e Restauro da UFPel, foi o estágio realizado na Biblioteca Pública de Pelotas.

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