Conhecido por alcançar o auge do seu potencial econômico no verão, o Laranjal é um dos pontos turísticos mais procurados por quem busca descanso às margens da Lagoa dos Patos. Nesta temporada, enquanto as feridas da enchente de maio ainda cicatrizam, comerciantes e empresários que superaram a crise climática trabalham para recuperar seus negócios e o caráter promissor do bairro como um todo. Até o momento, a expectativa é pela chegada das temperaturas mais altas, características de dezembro, e o consequente aumento do movimento.
Em alguns casos, nem os piores cenários estimulam a desistência. O proprietário de uma lancheria ambulante, Anderson da Silva, 32 anos, demonstra isso dia após dia, desde 2009. Independentemente da estação do ano, o restaurante sobre rodas se faz presente em todos os dias de sol, de domingo a domingo, na praia do Laranjal. O caos climático quebrou essa lógica, forçando da Silva e a esposa, que ajuda no preparo dos alimentos, a ficarem afastados do Laranjal por cerca de 30 dias, distantes de sua residência e de sua fonte de renda.
“Ficamos parados, sem poder trabalhar. Água pelo pescoço, situação de muitos aqui dentro. Economicamente falando foi bem difícil, complicado. Quem teve economia de capital guardada para investir em outro lugar e continuar, conseguiu. Quem não teve, parou”, relata. “Quando voltamos para cá, estava tudo uma bagunça, destruição, cenário de guerra. Vários comerciantes autônomos como nós perderam tudo”, define.
Para o empresário, a partir de agosto o panorama melhorou, mas segue longe das expectativas. Um dos motivos disso segue sendo o clima. Em outros anos, dezembro era marcado por um calor superior a 30ºC em praticamente todos os seus dias. Agora, o período tem contado com diversas oscilações térmicas causadas por frentes frias que atingem o Rio Grande do Sul, provocando temperaturas mais amenas do que o comum para o fim de ano.
Novas oportunidades
Ao mesmo tempo, Thiago Daneres, 31 anos, optou por abrir uma filial da sua distribuidora de bebidas em uma das salas externas do Shopping Mar de Dentro. Há cerca de dois meses no local, o empresário enxergou chances de evoluir o negócio na praia, aproveitando a onda do verão. “Eu vejo um potencial no Laranjal a ser explorado, e acho que muita gente ainda não tem essa visão de investimento. É a praia da cidade de Pelotas”, ressalta.
A ideia de Daneres ampliar o empreendimento surgiu depois das enchentes, quando apareceram muitos espaços disponíveis para alugar no Laranjal. Com a chegada da época mais quente, ele pretende se estabelecer de fato no local e, depois, permanecer o restante do ano. “Os finais de semana estão sendo bem legais. A gente sempre espera um pouquinho mais de movimento, mas o tempo não está dos melhores. Quando entrar no verão mesmo, espero que eu venda o dobro do que vendi até agora”, adianta o comerciante.
Processo de retomada
Em relação ao Laranjal, o gerente regional do Sebrae, Ciro Vives, explica que o foco da entidade ao longo do ano se deu em manter a sobrevivência e o assessoramento aos micro e pequenos empreendedores depois das enchentes de maio. “De lá para cá, implementamos o Programa Supera e passamos a acompanhá-los semanalmente no sentido de ajudar a recuperar os níveis de vendas e serviços de antes”, diz Vives.
Em setembro e outubro, o Sebrae fez uma pesquisa entre os empreendedores das regiões do Estado mais afetadas pelas enchentes, mas não especificamente do Laranjal. A pesquisa demonstra que várias empresas tiveram forte impacto, especialmente nos quesitos de interrupção da operação, problemas na estrutura física, redução de clientes, endividamento do negócio e falta de recursos financeiros.
“Após o período mais crítico, empreendedores como os do Shopping Mar de Dentro, estão tentando voltar à normalidade, encarando o desafio de peito aberto e mais motivados do que antes, pela força e disposição que vêm empregando nesse momento”, avalia.