O advogado Fabrício Cagol é presidente da Associação Comercial de Pelotas (ACP) pelo segundo biênio consecutivo. Em entrevista ao A Hora do Sul, Cagol demonstra otimismo com os potenciais da região e destaca a importância da integração entre os setores público e privado.
Como avalia o momento político de Pelotas?
É um cenário desafiador, mas que traz expectativa e esperança. Vínhamos de uma repetição do mesmo grupo no poder, em que a gente mais ou menos conhecia as pessoas e as ideias, se tinha uma certa segurança dos passos que eram dados. Agora vai haver uma ruptura, que por um lado traz insegurança, porque a gente não sabe quem serão as pessoas e como vai ser a ideia do prefeito, mas também gera a expectativa positiva. Sou sempre otimista, acredito na cidade, nas pessoas, nas empresas daqui.
Qual é a expectativa para o futuro governo?
Espero que o governo possa fazer uma gestão séria, principalmente na questão das contas públicas, porque Pelotas vem fechando no vermelho e isso impacta todo mundo. Uma segunda expectativa é que haja um bom apoio para os empreendedores locais, quem gera emprego e renda e paga impostos são as empresas. Não estou dizendo que o governo tem que dar dinheiro para as empresas, mas que haja processos de ajuda pro empresariado, menos burocracia, liberações mais rápidas, incentivos no ITBI, no IPTU. Que o governo tenha seu viés social, mas que não esqueça o lado empreendedor da cidade, porque a gente vê tanta gente se destacando, e queremos que fiquem aqui.
Qual é o panorama econômico de Pelotas?
A cidade subiu no ranking de renda per capita e na arrecadação, e diminuiu o número de inadimplentes. Pode até não dizer muita coisa, mas se estamos melhorando em algumas coisas, significa que a cidade está melhor do que estava antes. O agronegócio está forte, comércio e serviços continuam fortes. Se a administração pública conseguir fazer um bom governo e ajude a questão empresarial, eu tenho um otimismo bastante grande. Temos qualificação, aeroporto reformado, a duplicação está praticamente pronta, temos proximidade com o Porto de Rio Grande. As enchentes não tiveram o mesmo impacto aqui que tiveram em outras regiões e não afetaram tanto os setores da economia. Se a gente olhar um pouco mais para a educação e para a zeladoria, até para melhorar a autoestima das pessoas, e tiver um olhar especial para as empresas, tenho certeza que Pelotas vai se desenvolver.
Como preparar a cidade para os potenciais que estão se desenvolvendo, como o próprio Porto de Rio Grande e a Bacia de Pelotas?
As coisas vão chegando aos poucos. O aeroporto aumentando voos, para o Porto tem que duplicar o lote 4, se a termelétrica se instalar, vai demorar um pouco. A CMPC vai investir R$ 25 bilhões na Barra do Ribeiro, e o escoamento da madeira é através do Porto de Pelotas. Precisamos qualificar a educação pública, escolas técnicas e profissionalizantes, porque vai precisar de mão-de-obra. Grande parte das pessoas vai querer morar em Pelotas, então a cidade tem que se preparar. Temos que criar um lugar para atrair novas empresas de forma agressiva. Um distrito industrial público ou privado, que tenha infraestrutura para atrair empresas com incentivos, seja no IPTU, no ISSQN. Nada de graça, dá pra fazer proporcional ao número de empregos gerados. Se gerar 500 empregos, são 500 famílias morando em Pelotas, comprando casa, pagando escola, transporte, alimentação, tudo tem imposto que vai pro cofre público e aumenta a qualidade de vida. A rede hoteleira tem que ser ampliada. Quando tem jogos ou Fenadoce a gente vê uma capacidade saturada, então é preciso ampliar. Outra questão é que Pelotas, como tem um destaque regional importante, tem que pensar na criação de um centro de eventos, público, privado ou em parceria, onde tenha um auditório grande com restaurante e estacionamento. Quantos eventos têm em Pelotas sem uma estrutura adequada? Geralmente a gente perde para a Serra porque a rede hoteleira está melhor estruturada e têm centros de eventos qualificados.
Como alcançar todos os potenciais que a região tem sem perder o foco?
A Serra é focada no turismo, e Pelotas tem um potencial muito maior do que só isso. A região é grande e tem tantos potenciais que não dá para focar em uma coisa só. Temos potencial para aumentar a capilaridade das nossas virtudes. Temos agro forte, comércio e serviços são muito fortes, a indústria é um desafio para aumentar, no turismo dá para aumentar muito mais a atração de pessoas. Não podemos priorizar um setor específico. Temos que, através do setor público, setorizar com as secretarias para trabalhar com as entidades de cada segmento. Ainda tem a inovação, em que Pelotas tem um dos potenciais mais fortes do Estado. Temos o Una e o Quartier, o Parque Tecnológico, e ainda vai ter o parque tecnológico só de saúde na Lifemed. Outras regiões não tem, e Pelotas cresceu muito em ciência, tecnologia e inovação. Antes do segundo turno, os dois candidatos se comprometeram em ter uma secretaria de projetos, com quatro, cinco técnicos para pensar em projetos bons para a cidade junto com o setor privado. Espero com o novo governo estreitar a relação para que projetos saiam do papel, para planejar e executar. Pelotas tem tudo para dar certo, para ser uma grande região do Estado e competir diretamente com Porto Alegre, Vale dos Sinos e Serra, só tem que ter uma política estratégica, caminhando juntos os poderes público e privado.
Como ampliar a integração da região?
O lançamento do consórcio regional de inspeção para agroindústria já é um sinal de como a região está integrada para um setor específico que é muito importante. É um exemplo de que dá para fazer. A Agência de Desenvolvimento Regional é importante, tem representantes do poder público e de várias entidades privadas. Talvez seja a oportunidade de estabelecer por segmento algumas estratégias, para buscar recursos. Aqui em Pelotas as entidades estão bem harmônicas, se dando muito bem com o poder público. Temos a Aliança Pelotas, que nunca esteve tão forte e integrada, e não tem mais a rivalidade que existia com Rio Grande. Tem a Aliança Rio Grande que também está muito integrada. É o melhor momento de Pelotas, tendo todos esses potenciais, que não adiantaria se houvesse um distanciamento entre os setores. Estamos num momento bom de sintonia, e, tendo todo esse potencial, falta só uma boa abertura do governo que vai assumir de aproveitar essas oportunidades que Pelotas tem. Vai depender do poder público ter essa receptividade de pensar o lado empresarial, sem esquecer o viés do governo que se elegeu com objetivos legítimos. Temos muito a ajudar e queremos ajudar, é para o bem comum da comunidade de Pelotas e da região. Empresas fortes significam uma cidade mais forte e um poder público com mais dinheiro, e um poder público com mais dinheiro consegue aplicar no social, na pavimentação, na educação, na segurança, enfim, é um ganha-ganha. Se o poder público ajudar o setor privado, o setor privado gera receita que não vai pra fora, fica aqui, o que retroalimenta a economia.