Alto índice de acidentes em trecho de Canguçu preocupa
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quarta-Feira4 de Dezembro de 2024

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Alto índice de acidentes em trecho de Canguçu preocupa

Apontamento feito pelo Sindicam é que nesta época há muitos condutores de fora da região

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Alto índice de acidentes em trecho de Canguçu preocupa
Curvas fechadas e ultrapassagens em local proibido são comuns no trecho. (Foto: Jô Folha)

Um trecho de pista única, com curvas sinuosas, vários guardrails e bem sinalizado horizontalmente e verticalmente está entre os campeões de acidentes e mortes nas rodovias federais que cortam a Zona Sul do Estado. Até meados de novembro foram 39 acidentes, com 33 feridos, sendo seis graves e quatro mortes entre os quilômetros 100 e 130 da BR-392 em Pelotas e Canguçu.

Para especialistas que atuam na área, a imprudência está como apontamento principal, somado à falta de experiência com o trecho que é a principal rota de escoamento de grãos do centro do Estado para o Porto de Rio Grande. Os indicadores apontam que o aumento, segundo a PRF, é em todo RS, sendo que 5% é de causa humana.

Basta passar pelo trecho para ver que o comportamento do trânsito depende do bom senso de todos. Entre os flagrantes vistos, dois chamam a atenção: o primeiro é de uma motociclista que saiu de uma via secundária sem nenhuma sinalização e ingressou na faixa. A outra, e mais grave: a reportagem teve que “jogar” o carro para o acostamento por causa da ultrapassagem de um caminhão – no sentido contrário – em local proibido. Excesso de velocidade e mais ultrapassagens também foram presenciadas, embora o trecho tenha, pelo menos, quatro pardais.

O frentista Marcos Leandro, 41, e o gerente de supervisão, Leo Rodrigues Vargas, 43, contam que os motoristas não respeitam a velocidade permitida. “Quem carrega uma carga muito pesada e está acima da velocidade, numa curva vai ser impossível frear sem que aconteça algo”, comenta. Um deles conta ainda que há casos em que os condutores estão alcoolizados. Uma jovem que foi calibrar os pneus da moto, e que prefere não se identificar, garante que os caminhoneiros não respeitam veículos menores. “Eles não querem saber. Passam por cima. Nós temos que ter muita atenção ao usar a faixa”, desabafa. Bem na entrada da cidade há um desmanche que mais parece um cemitério de carros.

As causas

O presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Bens de Rio Grande (Sindicam), Dieck Sena, relata conversa com alguns associados que apontam a incidência de motoristas de caminhão de outras regiões trabalhando na Zona Sul. “Infelizmente o pessoal de fora não conhece as nossas estradas e se depara com muitas curvas fechadas e com uma pista muito mais estreita, além dos desníveis de pista entre o acostamento e a pista de rolamento. Isso também leva muitas vezes a tirarem o caminhão de cima da faixa de rolamento quando o motorista acaba errando o trajeto com o seu caminhão”, observa. Um dos associados que não se identificou acrescenta ainda a imprudência como fator dos sinistros. “Está muito ruim para dirigir. Com a safra de trigo vem muito motorista de fora e ‘eles abrem para morrer’. Os acidentes são nada mais que imprudência da categoria”, revela.

Sinalização

A Ecosul, concessionária responsável pela gestão do Polo Rodoviário Pelotas, diz que realiza monitoramentos constantes e criteriosos das condições de pavimento, sinalização e infraestrutura em todo o trecho sob sua gestão. Não raros são os informes de pista bloqueada para a retirada de caminhões tombados, processo que causa pequenos engarrafamentos e atraso na entrega de mercadorias. Entre os quilômetros 129 e 130 da BR-392, por exemplo, é possível ver que o material do guardrail é novo, pois recentemente houve um acidente com morte no local. O presidente do Programa de Redução de Acidentes da Ecosul, Everson Ávila, diz que a empresa tem o compromisso de garantir que as rodovias operem dentro dos padrões técnicos e de segurança, em conformidade com a legislação vigente, promovendo um tráfego mais seguro e eficiente para todos os usuários.

“Referente ao quilômetro 130 da BR-392, destacamos que não há registro de problemas técnicos que expliquem o recente aumento de incidentes no local. Nossos levantamentos apontam que fatores associados ao comportamento dos condutores têm se tornado as principais causas desses acidentes”, revela. Ávila observa que entre as práticas mais recorrentes estão o desrespeito à sinalização, excesso de velocidade, uso do celular ao volante e sonolência, evidenciando a importância da conscientização dos condutores para uma condução responsável.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) também diz estar atenta ao trecho por este acumular algumas ocorrências graves no seu histórico, por ser um trecho de pista simples, em relevo de serra e com uma série de curvas sinuosas que exigem mais atenção e prudência dos condutores. “Os índices de acidentalidade aumentaram no Brasil inteiro e no Rio Grande do Sul foi acima da média nacional”, diz o inspetor chefe da 7ª Delegacia de PRF, Daniel Pitrez.

Foco na redução

Entre junho e julho deste ano, a PRF do Rio Grande do Sul registrou 213 acidentes, uma alta de aproximadamente 15% em relação ao mesmo período de 2023, que foi de 185. O número de mortos nas rodovias federais, durante o mesmo período, também aumentou, passando de 43 em 2023 para 76 neste ano, um incremento de 76%. Diante desse cenário, o órgão afirma que ampliou o reforço na fiscalização. Entre as justificativas para o aumento da acidentalidade nas rodovias federais estão as obras em andamento devido aos danos causados pelas enchentes (aumento de 6% nos acidentes envolvendo problemas na via) e o comportamento do motorista e dos demais envolvidos no trânsito (aumento de 5% no número de acidentes envolvendo causa humana).

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