O primeiro Boletim da Saúde da População Negra de Pelotas demonstra que doenças do aparelho respiratório e circulatório foram 92% das causas de mortes de pessoas pretas e pardas em 2023. Além disso, as mães realizam menos exames de pré-natal em comparação com mulheres brancas. Esses são apenas parte dos dados levantados no relatório que busca revelar as condições de saúde desse grupo para reduzir as desigualdades.
Os dados epidemiológicos foram reunidos durante dois anos de trabalho do GT da Saúde Negra da Secretaria de Saúde (SMS) do município. O resultado motivou ainda a realização do 1º Encontro Saúde da População Negra para fomentar o debate sobre deficiências de acesso à assistência de saúde e prevenção de doenças. “Para que a partir daí a gente possa construir política, sem dados a gente não consegue isso”, diz a coordenadora da Rede de Atenção às Equidades da SMS, Bianca Medeiros.
Menos consultas e mães mais jovens
Entre outros dados revelados que necessitam de atenção da saúde pública, a coordenadora destaca o cenário das mães negras. Cerca de 40% das mulheres grávidas realizaram três ou menos consultas de pré-natal. Além disso, 39% das mães jovens, entre dez e 19 anos, são negras. Em comparação com a etnia da população de Pelotas, o índice é alto já que a população preta e parda representa 23% dos moradores.
“A gente precisa entender por que as mulheres negras têm menos consultas que as brancas. É por que não têm acesso ou por não serem acolhidas?”, diz a coordenadora. Além disso, Bianca destaca que a maioria das mulheres negras têm partos em hospitais 100% SUS, principalmente no Hospital Escola da UFPel. “É mais difícil ter o acompanhamento em um hospital privado”.
Causa de mortes e violência
O boletim também expõe as principais causas de mortes da população negra em Pelotas. As doenças do aparelho respiratório foram responsáveis por 92% dos óbitos, já as patologias do sistema circulatório por 50%. Na distribuição de mortes por causas externas destacam-se os suicídios (40%) e homicídios (60%) como principais motivos.
Entre as mulheres, a violência física liderou o número de casos (54), seguida de violência autoprovocada (48) e violência sexual (47). Em 2023, 68,9% dos casos relativos à violência população negra foram contra mulheres.
A conclusão a partir dos dados revelados pelo boletim é a necessidade de permanência e fortalecimento de ações de combate às desigualdades raciais em saúde, especialmente no que se refere à sobrerrepresentação da população negra nas causas de mortes. “Ainda, faz-se imprescindível o desenvolvimento de estratégias de monitoramento da situação, contínua avaliação e fomento à produção de dados por raça/cor com o objetivo de qualificar as políticas públicas de saúde”, diz o documento.