De teatro, cinema, igreja e até danceteria, o Theatro Avenida, famoso pela estrutura e localização na avenida Bento Gonçalves, finalmente pode ser restaurado. Foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre o Ministério Público, a proprietária do prédio – a Viderus Participações Ltda, de Santa Catarina – e a prefeitura de Pelotas. O valor entre projeto e restauro ainda não foi elaborado. Mas, pelo acordo, o primeiro deve ser apresentado no prazo de dois meses e o segundo em três anos. Caso contrário haverá aplicação de multa.
O TAC é resultado de uma investigação que tramita há anos na Primeira Promotoria de Justiça Especializada sobre o estado precário que se encontra a edificação. O teatro consta no Inventário do Patrimônio Histórico e Cultural de Pelotas, portanto é protegido por lei municipal. Com isso, a obra deve considerar a integralidade da fachada. De acordo com o promotor José Alexandre Zachia Alan, os proprietários teriam recebido o imóvel como pagamento de dívida. “Nós procuramos eles e se construiu esse acordo para garantir o restauro do bem”. A reportagem tentou contato com a empresa de Santa Catarina, mas não obteve retorno.
Divisão de funções
A prefeitura terá como responsabilidade receber e dar tramitação adequada aos pedidos apresentados, independentemente de dívidas ou pendências de natureza tributárias. O procurador-geral adjunto do município, Maurício Brodt, diz que a administração municipal, através do TAC, ratificou o reconhecimento acerca da importância histórica do bem e a necessidade da realização de atividades de recuperação, conforme critérios de preservação estabelecidos na legislação municipal.
“Sobre as obrigações estabelecidas no instrumento, em razão de ser um bem privado, o município exerce o papel de fiscalizador do restauro, o que compreende o recebimento e avaliação dos projetos, bem como, em caso de aprovação, a execução da proposta de recuperação do bem”, esclarece. A Promotoria terá a função de fiscalizar o andamento do processo de restauro.
História
Construído pela empresa Xavier Santos, na avenida Bento Gonçalves, o Theatro Avenida foi inaugurado no dia 13 de julho de 1927, com a exibição do filme Cavalheiro Audaz. No dia seguinte, estreou a Companhia Brasileira de Comédias Álvaro Fonseca, com a peça A dama dos cinemas. O auge veio nas décadas de 60 e 70, com a exibição de matinês e como alternativa para a população de classe média, que enfrentava filas para acompanhar os filmes. Na década de 80, recebeu shows como Roupa Nova, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana e Engenheiros do Hawaii, além de concursos de beleza e a Danceteria Mamão com Açúcar.
A aposentada Vera Lúcia Costa Antunes, 68, viu algumas janelas abertas na fachada e logo quis saber se estavam mexendo no prédio. A notícia de que a estrutura poderá ser restaurada a deixou muito feliz, pois o Theatro Avenida fez parte da sua infância e juventude. “Meu sogro cuidava de tudo aqui. Eu vinha com meu marido. O teatro conta uma parte da história de Pelotas. Ele tem raiz, tem essência. Possibilitou que parte da sociedade tivesse acesso à cultura”, conta ela, emocionada. “Sempre que passo por aqui, pergunto: por que acabou?”.