“Uma experiência incrível representar Pelotas e a arte negra da cidade”
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Terça-Feira10 de Dezembro de 2024

Abre aspas

“Uma experiência incrível representar Pelotas e a arte negra da cidade”

Daniel Amaro usa a arte como forma de expressão e resistência

Por

Atualizado quarta-feira,
20 de Novembro de 2024 às 13:54

“Uma experiência incrível representar Pelotas e a arte negra da cidade”
Relação de Amaro com a dança afro começou nos anos 1980. (Foto: Divulgação)

Daniel Amaro, 51 anos, fundador da Companhia de Dança Afro que leva seu nome, descobriu sua paixão pela arte aos sete anos, crescendo na Vila Castilho, periferia de Pelotas. Influenciado pela black music dos anos 1970 e pelo samba, ele transformou essas referências culturais em dança, formando seu primeiro grupo no início dos anos 1980. Desde então, Daniel usa a arte como forma de expressão e resistência, valorizando a cultura negra e consolidando sua trajetória como um dos principais nomes da dança afro-brasileira na região.

Como a sua relação com a dança afro se desenvolveu ao longo dos anos?

Minha relação com a dança afro começou nos anos 1980, quando eu dançava contemporâneo no Grupo de Dança Pó Pelotense, da professora Beatriz Canaã. Em 1988, durante um festival em Alegrete, o bailarino Rubens Barbot sugeriu que meu corpo tinha afinidade com a dança afro. Fiz uma oficina com Augusto Omulu, do Teatro Castro Alves, e me apaixonei. Percebi, então, que já tinha contato com essa cultura no centro de umbanda da minha mãe, ativo há mais de 50 anos. Na década de 90, comecei a dar aulas de dança afro em várias academias de Pelotas. Após morar em Montevidéu e Buenos Aires por mais de um ano, fundei, em Pelotas, a Companhia de Dança Afro Daniel Amaro, que completa 24 anos em dezembro e é reconhecida nacionalmente.

Como a vivência na Vila Castilho influenciou na sua vida?

Minha vivência na Vila Castilho influenciou minha trajetória. Comecei a dançar aos sete anos, nas festinhas de garagem, com inspirações no samba e no funk, comuns nas periferias. Lá, formei com meu irmão o grupo Brother Show, que durou dez anos e se apresentou em concursos e eventos como o BlackPel. Hoje, aos 51 anos, sigo conectado à dança e às minhas raízes. Se eu não tivesse passado pela Vila Castilho, não teria o conhecimento e a bagagem que tenho hoje, não só na dança, que é o foco do meu trabalho, mas também como ser humano. A periferia brasileira ensina resistência, força e proporciona uma formação humana única.

Como é para você hoje participar de diversos eventos e ser reconhecido como uma personalidade negra importante da cidade?

Pensando em onde consegui chegar, sei que isso não aconteceu apenas por mim. Minha companhia e os bailarinos que por ela passaram, assim como os que estão por vir, foram essenciais para esse reconhecimento. Sem eles e sem os grandes parceiros que tivemos ao longo desses 24 anos de história – incluindo o poder público, o setor privado, o sistema S e a imprensa -, nada disso seria possível. Como uma personalidade negra importante em Pelotas, sinto um grande orgulho. Afinal, o Rio Grande do Sul, fora do Estado, não é reconhecido como um lugar de homens e mulheres negras. Recentemente, fui convidado pelo governo da Bahia para dar oficinas na Semana Negra de Salvador, na Funcep. Foi uma experiência incrível representar Pelotas e a arte negra da cidade.

Como você enxerga este primeiro feriado nacional em virtude do Dia da Consciência Negra?

Eu acho que o feriado é um reconhecimento dos homens e mulheres escravizados que construíram este país com sua mão de obra e nunca foram valorizados. Fico feliz em saber que temos um feriado nacional, pois isso reconhece o trabalho que nossos ancestrais fizeram antes de nós. É algo fundamental.

Acompanhe
nossas
redes sociais