Um dos cientistas mais influentes na área, o climatologista do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), José Antonio Marengo, foi o convidado de destaque do primeiro dia do 2º Workshop Gaúcho de Mudanças Climáticas realizado na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Para o pesquisador, o cenário global exige foco em ações coordenadas de prevenção e de educação para que a população adquira consciência de risco diante de um evento climático.
“O Rio Grande do Sul está muito exposto”, diz Marengo. Para exemplificar, o climatologista cita os três anos de estiagem, as chuvas intensas e os ciclones que atingiram o Estado. “É um território vulnerável”. Um dos pesquisadores mais citados em referência a estudos de mudanças climáticas, ele ressalta que o futuro reserva maiores ocorrências de eventos extremos. “Mais ondas de calor, frio muito intenso, secas e inundações. Isso acontece aqui [Estado] como em São Paulo”.
De acordo com Marengo, o risco de desastres naturais tem três componentes e apenas um depende da ciência. A primeira é a ameaça, que pode ser uma chuva intensa e para ser alertada precisa da previsão meteorológica. Já a segunda seria a vulnerabilidade da população e a terceira a área de exposição em que vivem. Ambos os fatores dependem de providências de políticas públicas.
“Temos que pensar em prevenção, porque muitas vezes a gente investe mais em reação, o depois do desastre”. Para isso, Marengo destaca a importância de conscientizar a população e o poder público sobre a percepção de risco. “Que uma chuva intensa em uma área exposta e vulnerável pode matar pessoas. E quando as pessoas recebem o alerta da Defesa Civil, tem que evacuar as casas”.
Prevenção e adaptação
Marengo salienta que o trabalho para mitigar os efeitos dos próximos eventos climáticos requer ações coordenadas entre a ciência e a política pública, bem como um comprometimento a longo prazo. “Porque não adianta ter a melhor ciência se os governantes não escutam os cientistas e se a população não entende o que eles falam”.
O climatologista complementa ainda que “em alguns casos tem que construir infraestrutura para poder se adaptar, em outros utilizar a vegetação. Uma adaptação baseada na natureza, mesma natureza para nos proteger da natureza”.
Comitê de Adaptação e Resiliência
O primeiro dia de Workshop também foi sede da segunda reunião extraordinária aberta do Comitê Científico de Adaptação e Resiliência do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. O colegiado formado após as enchentes de maio conta com mais de 40 pesquisadores e especialistas.
O comitê trata de diversos temas, desde sistemas de proteção de cidades até estudos voltados para a ativação econômica e questões de saúde pública. Conforme o secretário executivo, Joel Goldenfum, em seis meses já foram desenvolvidas 54 ações emergências, sendo 26 concluídas. Além de 19 medidas de reconstrução que estão em andamento e 40 projetos para iniciativas de prevenção.
Workshop
A programação do 2º Workshop Gaúcho de Mudanças Climáticas segue hoje no campus Capão do Leão da UFPel. A primeira atividade tem como tema: “Cidades, Gestão de riscos e desastres”. Também serão debatidos tópicos como zona costeira e oceanos, além de educação ambiental. A programação pode ser conferida neste link.