O cravista e professor Marcelo Fagerlande lança nesta quarta-feira (13) em Pelotas o livro Muito além dos salões: Bebê Lima e Castro, musa do Rio em 1900 (Editora 7Letras). A obra é uma biografia da socialite, cantora lírica e declamadora carioca Violeta Lima e Castro, mais conhecida como Bebê, que se tornou musa da belle époque do Rio de Janeiro. A sessão de autógrafos ocorre às 17h no Museu da Arte Leopoldo Gotuzzo (Malg/UFPel), com bate-papo com o autor.
Fagerlande levou três anos para produzir a obra, que não surgiu por acaso. Os bisavós maternos do músico eram muito amigos da cantora. O casal Irene e Aloysio Sussekind inclusive foi um dos beneficiados pela artista em seu testamento. “Os meus bisavôs eram amigos dela, uma amizade que vinha de antes, e conviveram com ela. Era uma mulher muito rica e não tinha descendentes, por isso ela distribuiu os bens entre os amigos, funcionários e instituições de caridade”, conta.
Além das relações familiares com a cantora, a própria história de Bebê Lima e Castro chamou a atenção do professor, que ao ler uma citação do escritor Ruy Castro sobre a carioca, no livro Metrópole à beira mar. Fagerlande percebeu que pouco sabia sobre a pessoa ao legar um solitário de brilhante, que foi herdado por sua mãe, acabou por financiar seu primeiro cravo, história que ele conta no livro.
“Comecei a pesquisar e ia achando coisas nos jornais, cheguei a 300 páginas de notícias sobre ela”, conta. O professor percebeu que ela teve uma vida muito rica. “Ela teve notoriedade na sociedade da época, mas ficou esquecida, ela por um período ela teve uma inserção profissional, mas não teve uma carreira na música que justificasse ser lembrada, mas ela fez parte da história do Rio”, comenta.
A riqueza dos Lima e Castro vinha de latifúndios na região de Macaé, Estado do Rio de Janeiro, mas seu pai era médico cirurgião. Bebê, que nasceu em Paris, começou cantando de maneira amadora, porém encantava nos salões pela voz e pela presença teatral, além da beleza, sempre destacada pela imprensa.
Decidida a cantar ópera, estudou na Itália e chegou a cantar bem, conta o biógrafo. “Ela teve boas críticas e foi ovacionada no Teatro Municipal do Rio”, relembra. Porém quando tinha 50 anos foi vaiada, após uma apresentação, um golpe mortal na autoestima, que a tirou de cena dos grandes palcos. Porém ela não deixou de frequentar os teatros, nem de fazer apresentações em saraus ou eventos beneficentes.
Amizade com os Gotuzzo
Entre os herdeiros de Bebê estava também o médico pelotense Humberto Gotuzzo, irmão do artista Leopoldo Gotuzzo. “Se conheceram no Rio, encontrei muitas notícias de espetáculos e de reuniões nos salões dela, encontrando o Humberto Gotuzzo, eram muito amigos mesmo e no final da vida, ele foi muito próximo dela, às vezes atuava como médico dela”, conta o escritor.
Bebê apoiava o artista da família Gotuzzo, Leopoldo, e chegou a comprar telas dele. “Ela adquiriu cinco obras de Gotuzzo em vernissages entre 1939 e 19140 e ele (Leopoldo) a pessoa que fez o registro do atestado de óbito dela”, relembra.
Marcelo Fagerlande não tem certeza se a socialite conheceu Pelotas, porém ela passou pelo Rio Grande do Sul e sua beleza foi registrada na imprensa. “Mas é possível que ela tenha conhecido Pelotas, porque era uma cidade importante no século 19”, comenta.
A obra é ilustrada com mais de 50 imagens (parte dessas imagens são do acervo do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo), entre fotos, programas e anúncios de espetáculos e festivais. O livro ainda tem a apresentação do escritor Ruy Castro: “Onde estivemos por todos esses anos que não soubemos de Violeta — Bebê — Lima e Castro? Como considerar contada a história de uma época, não por acaso bela, sem reservar o protagonismo a essa carioca nascida em berço de luxo que, ao tentar levar para os palcos a elegância dos salões, viveu sonhos e decepções para várias vidas?”
Serviço
O quê: sessão de autógrafos do escritor Marcelo Fagerlande, que lança Muito além dos salões
Quando: quarta-feira (13), às 17h
Onde: Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, praça Sete de Julho, 180
