“É preciso puxar as qualidades deles e não ver os defeitos”

Abre aspas

“É preciso puxar as qualidades deles e não ver os defeitos”

Gabriel Veiz, 27, é professor de graffiti no projeto Graffiti Down

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“É preciso puxar as qualidades deles e não ver os defeitos”
Coordenador da iniciativa (D) transferiu a atividade da última segunda ao Parque Dom Antônio Zattera. (Foto: João Pedro Goulart)

Com a intenção de passar o conhecimento e as técnicas sobre o graffiti e a cultura hip hop para pessoas com a Síndrome de Down, o projeto Graffiti Down é coordenado pelo professor Gabriel Veiz, 37 anos. Na última segunda-feira (28), o Dia do Servidor Público pegou de surpresa o grupo que costuma se reunir no prédio da reitoria do IFSul. Como alternativa, Gabriel sugeriu um piquenique no Parque Dom Antônio Zattera, o que também foi importante para proporcionar um contato mais próximo entre os integrantes e uma outra forma de expressão artística relacionada aos espaços públicos, o skate. Além disso, a conexão com a natureza em uma tarde de céu azul elevou o nível do encontro.

De que maneira o projeto promove a discussão sobre a cultura hip hop?

É um projeto que a gente traz a inclusão social para essas pessoas através da arte. A intenção é passar um certo conhecimento da cultura hip hop e do graffiti, da pintura. A gente vem conquistando muitas coisas legais através da arte, mostrando para a sociedade a parte boa que podemos explorar dessas pessoas, e que elas também têm muito a nos ensinar com isso. É preciso puxar as qualidades deles e não ver os defeitos.

Qual a sensação de tornar o parque também um espaço das atividades do grupo?

Aqui eu sempre me senti seguro. Andei de skate por muito tempo, desde pequeno, então vivi muito tempo aqui na praça. Ela está muito bem revitalizada. A gente costuma passear bastante, e aqui é um lugar muito interessante, bem arborizado, dá pra sentir a natureza. E ao mesmo tempo, ver a parte do skate. Isso é muito interessante. Pintei muito aqui também, havia vários graffitis meus. Com o passar do tempo, a galera foi revitalizando, tirando em alguns pontos.

O que o trabalho artístico junto às pessoas com Down representa para ti?

É muito importante. Tenho um irmão com Síndrome de Down. Eu vi ele e minha família passarem por muito preconceito causado pela falta de noção do ser humano, de querer menosprezar alguém que tenha certas dificuldades em alguma coisa. Para mim é legal, porque eu consegui passar um empoderamento para eles. Eles já chegam nos lugares sabendo que não são menos que ninguém e não podem ser destratados. Mas isso o pessoal tem que enxergar um pouco melhor ainda, a inclusão. Cada ser humano é único e cada pessoa tem a sua dificuldade.

Como os elos criados dentro do projeto expandiram a sua visão de vida?

Antigamente eu saía com alguns amigos típicos, sem nenhuma síndrome ou deficiência. Era sempre uma disputa de ego. Eles queriam dizer todas suas conquistas: casa nova, carro novo ou bom salário. Não por maldade, mas o sistema que vivemos é competitivo e individualista. Enquanto isso, as pessoas do projeto acabaram virando meus amigos. Comecei a me afastar dos amigos antigos e preferi me rodear de pessoas que só me passam amor, são mais verdadeiros e conscientes. Hoje, para ver o pôr do sol ou tomar um chopp, eu convido eles primeiro.

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