A manchete da edição impressa de quarta-feira (16) de A Hora do Sul traz um dado estarrecedor: mais da metade dos alunos que ingressam nas universidades federais de Pelotas (UFPel) e Rio Grande (Furg) não concluem a graduação. Fora o susto que o número traz, já que o ensino superior é um sonho tão almejado pelas pessoas. Surpreende ver que, quando muita gente o alcança, não dá continuidade. Há pontos a serem levados em consideração, que passam por bases sociais necessárias para que as universidades funcionem.
Uma questão inicial é o fato de que a régua é muito mais alta que em boa parte do restante do ensino público. Passar no vestibular é bem menos difícil do que atingir as metas exigidas em muitos cursos, especialmente nos de exatas. Sem uma base forte dos níveis fundamental e médio, o aluno naturalmente vai padecer no superior. Por isso, é fundamental que esse reforço educacional que tanto se promete desde que o Brasil existe passe, de fato, a existir na formação inicial.
Um outro ponto é o amadurecimento mais tardio dos jovens, por incrível que pareça. Embora ajam como adultos em muitos pontos de suas vidas, emocionalmente é um desafio enorme tomar aos 16, 18 anos, uma decisão de futuro de carreira. É natural que as opiniões mudem e se consolidem nos anos a seguir e, com isso, se opte por reorientar os passos.
À parte de tudo isso, entender os estudantes e o ambiente universitário também é um desafio. Conciliar vida pessoal e financeira com estudos em alguns momentos da vida se torna uma questão bastante complexa. As universidades não podem, de maneira alguma, baixar suas réguas de exigências para formar profissionais qualificados. Ainda assim, precisam compreender as particularidades de cada indivíduo e os percalços e detalhes que fazem tomar a decisão por seguir ou abandonar os estudos.
Entender o ensino superior não é tarefa fácil e tamanha taxa de desistência é um problema coletivo: de recursos despejados sem retorno, de oportunidades cerceadas e de individualidades a serem compreendidas. O fato é que tal estatística precisa ser encarada e ações para sua redução se tornam extremamente necessárias, cada dia mais.