Uma placa de bronze datada de 1968, homenagem do Clube Comercial ao então presidente da República na ditadura militar, Marechal Costa e Silva, estava numa lixeira na tarde desta segunda-feira (14). Uma catadora que passava pelo local recolheu-a e a vendeu a um pedestre que transitava na calçada da rua Padre Anchieta no mesmo momento, por R$ 5. O comprador colocou-a no carro e foi embora.
Segundo testemunhas, a placa – patrimônio do Clube Comercial, um prédio tombado pelo município em estado de quase abandono no Centro Histórico de Pelotas – estava desde as primeiras horas da manhã atirada na calçada.
A catadora afirmou que desde o domingo peças do interior do clube estão sendo descartadas na lixeira. A reportagem contatou a diretoria do clube, que afirmou não estar jogando fora nenhum item do patrimônio e que estaria sendo alvo de furtos. Um dos diretores ainda afirmou que a partir deste fato contratou uma equipe de segurança para monitorar o local.
O imóvel do Clube Comercial, localizado nas ruas Padre Anchieta, General Neto e Félix da Cunha, data de 1871 e é tombado pelo município desde 1982. Segundo a prefeitura, está classificado em nível 1 de preservação:
- Inclui os imóveis componentes do Patrimônio Cultural que ensejam a preservação das características arquitetônicas, artísticas e decorativas internas e externas. Os bens enquadrados neste nível não poderão, em hipótese alguma, ser destruídos, descaracterizados ou inutilizados, podendo vir a ser tombados. Sua preservação é de extrema importância para o resgate da memória da cidade.
O prédio está praticamente abandonado, destelhado com janelas e portas arrombadas. As obras de restauro estão paradas, devido à falta de recursos. A prefeitura afirma que, por ser tombado, concede ao clube isenção de IPTU, mas “não repassa recursos para a recuperação de imóveis privados”.
Descaso do poder público
A reportagem avisou à prefeitura sobre a placa na lixeira no começo da tarde, antes de a peça ser vendida pela catadora de lixo. Recebeu como resposta, inicialmente, que o acervo privado do clube é de responsabilidade do próprio clube.
Ainda antes da venda, outro catador iria recolhê-la, mas desistiu quando soube que pertencia ao Clube Comercial.
Importância cultural
Para o professor do curso de Conservação-restauração da UFPel, Roberto Heiden, o acervo do Clube Comercial, como a placa de bronze furtada e comercializada nesta segunda em plena luz do dia numa rua central em Pelotas, tem importância cultural para a cidade.
“Acredito que as questões culturais da cidade são de interesse da secretaria de Cultura. Considerando a importância cultural do Clube Comercial, entendo que poderia ter um esforço da Secult de ajudar com a recuperação da peça e sua reinserção no clube”, diz.
“[O Clube Comercial] é um prédio praticamente abandonado, que não demora pode virar uma ruína. Isso revela o descaso da cidade com o seu patrimônio”, conclui.