O despendimento de recursos federais para um porto privado em Arroio do Sal é um desrespeito com a população da Zona Sul do Estado. Em um momento em que a região precisa passar o chapéu e ir a Brasília constantemente por migalhas em recursos, qual a razão de colocar dinheiro público para criar uma concorrência para o Porto de Rio Grande?
Faz sentido o argumento de que beneficia outra região, claro. Mas já há um porto público, com capacidade de sobra e atuação de excelência no Estado. Criar concorrência interna é não apenas um tiro no pé, mas também um desrespeito com uma região que vem, com muito suor, tentando estabelecer sua economia através do potencial portuário.
Tamanho montante seria suficiente para terminar obras de extrema necessidade para colocar o Porto de Rio Grande no primeiro escalão de portos do continente: finalização da duplicação da BR-116, criação de um acesso a seco a São José do Norte, duplicação do lote 4 da BR-392 e a construção de uma segunda ponte sobre o canal São Gonçalo.
A indignação de lideranças locais, trazida pela repórter Cíntia Piegas nas páginas 10 e 11 da edição impressa desta quarta-feira (2) do A Hora do Sul é mais do que justa. É necessário um movimento coletivo e ordenado da Zona Sul contra medida tão descabida do governo federal, que prejudica o cerne de uma comunidade com mais de um milhão de pessoas em prol de alguns poucos beneficiados dentro da nova entidade privada que será implementada mais ao norte. A impressão é que os interesses coletivos em momento algum foram levados em consideração ao fazer tamanho aporte bilionário neste projeto.
Mesmo que não venha a ser possível reverter tal medida, agora é hora de cobrar que o governo federal entre também com tudo para fortalecer o Porto de Rio Grande. Se o argumento é o desenvolvimento, nosso terminal é fundamental para fazer crescer uma região com mais de um milhão de pessoas e que hoje ainda luta com falta de incentivos. Seria o mínimo após tamanho disparate.