“A gente precisa encontrar um novo caminho de gestão”

Eleição xavante

“A gente precisa encontrar um novo caminho de gestão”

Candidata à presidência do Brasil por chapa que teve recurso negado, Gabriela David fala sobre planos

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Atualizado sexta-feira,
27 de Setembro de 2024 às 17:02

“A gente precisa encontrar um novo caminho de gestão”
Gabriela compõe chapa ao lado de Carlos Monks, Régis Andrades e Renato Rezende (Foto: Marcelo Prestes)

A chapa 2 entregou nesta quinta-feira (26) um recurso à comissão eleitoral do Brasil para tentar reverter a invalidação da candidatura do grupo. O prazo para avaliação da contestação terminou às 12h de sexta e o pedido foi negado. Nome do movimento Xavante do Futuro para a presidência do clube, Gabriela David concedeu entrevista ao A Hora do Sul.

O candidato à presidência pela chapa 1, Vilmar Xavier, cuja candidatura está válida, foi procurado para responder aos mesmos questionamentos. Entretanto, não teve disponibilidade para atender. O espaço fica aberto para que o postulante ao cargo máximo do clube tenha o igual direito de falar sobre suas propostas para o biênio 2025/26.

Confira a conversa com Gabriela.

O último balanço oficial publicado pelo clube indica que a dívida aumentou. Qual é o plano para não só estancar o aumento da dívida e também trazer novos recursos?

A dívida já está três vezes maior do que isso [valor do balanço]. Quando não se paga essa dívida, a cada ano ela se torna maior em função dos juros. A gente precisa parar o aumento da dívida. A gente vai trazer recursos para estancar essas dívidas. A primeira negociação é de acordos. Está na justiça, ok, mas vamos conversar com os credores para escolher a melhor forma de pagar essa dívida sem ter o aumento da dívida. Se negociar e pagar de forma melhor, digamos, a gente consegue um valor melhor também. Será que as pessoas vão preferir receber em, sei lá, dez anos, na justiça, ou em um ano diretamente do clube? Nossa ideia principal é negociar diretamente com os credores para diminuir a dívida e tirar ela do condomínio. Outra forma é negociar a diminuição do condomínio. A partir desse modelo de negociação que a gente pretende criar, a gente pretende mostrar isso para que o juiz entenda que, a partir dos recursos que vão entrar no clube, vai se conseguir pagar as pessoas.

A gente quer gerar novas fontes de receita. Como? Exemplo: o Brasil tem aquela estrutura embaixo da arquibancada da Juscelino que no projeto inicial teria lojas comerciais. O projeto da Porto 5 já foi concluído por ela. A gente tem o projeto de seguir o que foi planejado. Nada nos impede de fazer uma proposta para a Porto 5 e para outra construtora, de parceria, para ter a construção desses espaços e para que os valores de aluguéis dessas lojas sejam negociados. Por exemplo, meu parceiro vai colocar um valor X e aí, durante um período de anos, ele vai receber metade do valor do aluguel e o Brasil a outra metade.

Também criar eventos no período sem jogos. Precisa otimizar a estrutura do clube. Assim também a gente aproxima o torcedor, criando eventos para a nação xavante, e tirando recursos desses eventos. Temos ideias de fazer eventos até mesmo em dias de jogos. Eventos em jogos fora de casa para movimentar o entorno do estádio. Talvez, futuramente, uma escolinha do clube. Digo futuramente porque hoje se tem dois contratos de categorias de base e não sabemos quando eles terminam. E essas escolinhas vão alimentar a categoria de base e também podem alimentar o clube. É explorar a marca do clube de diferentes formas.

Qual é o planejamento de organograma de cargos para o departamento de futebol?

A gente vem elaborando um esboço desse projeto desde fevereiro. Aos poucos fomos aprofundando. No futebol às vezes se cria muitos cargos, coloca muitas pessoas onde não é necessário e se perde um pouco do controle. A gente tem nosso vice de futebol da chapa. Quem sabe um diretor junto para fazer o elo do vestiário com a direção. Efetivamente, para trabalhar no futebol, a gente pretende contar com um gerente de futebol e a comissão técnica, que, claro, é subdividida em áreas. É importante uma comissão estruturada do clube e uma comissão que venha para que, se houver demissão de um técnico, não ficar sem ter quem comande a equipe. Essa comissão permanente seria principalmente formada por analista de desempenho, que tem que ter dentro do clube, e a gente precisa dar material e suporte para trabalhar. Preparador de goleiros, fisiologista. A gente tem muitos dados para trabalhar com uma análise simples que o fisiologista acompanhando consegue ter um bom retorno do que está acontecendo com os atletas.

E ter uma comissão da casa. Então um auxiliar técnico e um preparador físico. ‘Ah, mas a comissão vem e traz um preparador físico’. Ok, mas a gente sempre vai precisar daquele cara que vai estar atendendo o atleta que está voltando de uma lesão ou afastado por algum motivo. Isso não quer dizer que vai ter um profissional contratado, que seja o cara da carteira assinada nesse momento, mas vamos buscar ter essa pessoa, quem sabe um estagiário. Para ter essa estrutura de comissão técnica que seja uma base de trabalho independente da comissão técnica que passar.

O gerente de futebol vai cuidar de toda a questão do futebol. Cadastro de jogadores, o dia a dia dos jogadores, materiais, inscrições. Toda essa questão vinculada ao futebol propriamente dito. Viagens, alimentação. No início, ele tem uma carga de trabalho alta, porque a gente vai partir praticamente do zero, relacionada a contratações. Mas a partir do momento que contrata 90% do time, essa carga de trabalho diminui, e começam outras questões. Não precisa de uma pessoa para isso e outra para aquilo. A mesma pessoa consegue ir trabalhando essas duas questões.

Qual é o projeto sobre as categorias de base?

A gente tem uma estrutura pensada, mas precisamos estudar ela melhor depois que soubermos como estão os contratos atuais. A melhor maneira de ter uma categoria de base bem estruturada é com uma parceria forte de um investidor que traga uma categoria de base para dentro do clube, que seja uma categoria de base do Brasil. E essa pessoa vai dividir lá na frente os lucros com o clube. Mas não que a gente não tenha o controle. Ela não vai ser terceirizada. É do clube, apenas o investidor colocou dinheiro nela.

A base é fundamental para o desenvolvimento do clube. Ter atletas para treinar junto. Que eles possam almejar o futuro. A gente precisa fomentar as categorias de base, por isso é importante pensar nas escolinhas. A gente não pode pensar só a partir do atleta sub-11 que já faz parte de uma equipe e que vai competir. Para ter sub-11, precisa do atleta que vai vir da escolinha. A gente pretende que elas cresçam dentro do clube, e as escolinhas são a melhor forma para conseguir fazer esse elo e fomentar essa paixão do torcedor. Que o pai leve para a escolinha e que ela vá jogar com o uniforme do Brasil.

Tem algum planejamento para a parte estrutural, seja de CT, de estádio ou qualquer patrimônio do clube?

A gente tem seis principais objetivos dentro da nossa proposta, e uma delas é essa de gerar patrimônio para o clube. A questão do CT conversa entre base e profissional. Não precisa ter duas academias, dois refeitórios, duas fisioterapias. Precisa de um, de tudo, muito bem feito. Campo, sim, a gente precisa ter mais de um. A gente tem um investidor possível para isso e também uma opção via programa do governo, que a partir de um projeto bem desenvolvido se consegue recurso para promover isso.

Tem a opção do CT do Brasil na Sanga Funda mas também tem outras opções. Nada impede de ter esse CT em outro local, por exemplo. A gente já tem isso pré-conversado, um esboço de um projeto e o quanto vai necessitar de custo. Para nós, falar em R$ 1 milhão para desenvolver o CT é fora da realidade. Mas para alguém que vai investir no futebol não é um valor absurdo. Tem pessoas interessadas em investir e que a partir do momento que verem o projeto estruturado, podem começar a aprofundar essa conversa.

Há uma meta de número de sócios, campanhas e planos?

Tem uma proposta de campanha de sócios estruturada. Uma coisa é a campanha e outra são os planos. Se tudo der certo, a gente coloca em prática essa campanha o mais rápido possível. A meta é bater, inicialmente, cinco mil sócios. A verba de sócios é o principal recurso com que a gente vai trabalhar. Essa receita está trancada na Justiça nesse momento e nos passaram que o Brasil já está tentando desbloquear. É algo que o advogado com quem pretendemos trabalhar já está sabendo.

A gente não quer pensar no sócio só em dia de jogo. O sócio precisa entender que o clube depende dele e que o clube pode dar um retorno para ele. Vai pagar a mensalidade e ter contrapartidas. Nossa maior ideia é aproximar o comércio local do clube, trazendo benefícios para o sócio. Já aconteceu de o clube ter descontos em alguns pontos do comércio, ou que, abastecendo no posto X, parte do valor vai para o clube. Daqui a pouco o sócio tem 10% de desconto na farmácia X. Daqui a pouco o desconto deu R$ 30. Já é metade da mensalidade, então o valor da mensalidade pode sair entre aspas de graça. Dependendo do quanto conseguir usar essas vantagens, o dinheiro que ele coloca no clube ele tira e ainda consegue ganhar a mais usando fontes do comércio. É fazer o sócio entregar a contrapartida.

Possibilidades de SAF [transformação do clube em Sociedade Anônima do Futebol] ou recuperação judicial (RJ) já foram debatidas?

É um tema muito difícil e uma discussão muito ampla precisa ser relacionada a isso. Vamos pensar em uma RJ. Como o clube pode funcionar, o que a gente precisa fazer? Bom, vamos supor que a gente montou um planejamento e solicita a RJ. Não quer dizer que vá ganhar. O Figueirense, semana passada, teve a RJ negada. É um time que estava em uma divisão superior. Não é tão simples. E pode ser arriscado. Tu vê todo o dinheiro entrando e o futebol é um meio perigoso, tu pode achar que pode investir mais e daqui a pouco perde a mão nesse volume de dinheiro. Acaba gerando mais despesas, não cumprindo com o dever para ter essa RJ e corre grandes riscos. O Paraná não estava cumprindo o primeiro acordo. Estava gerando mais despesa do que estava entrando, e isso pode fazer o clube fechar.

As pessoas dizem muito que o Brasil é inviável, mas a gente acredita que é viável. Mas é viável contando que se tenha parceiros, investidores, patrocinadores, e principalmente os pés no chão. Trazer mais profissionais, literalmente profissionalizar o clube. Quanto à SAF, primeiro precisa se organizar. Hoje pode montar uma SAF e, pensando em fazer uma coisa, acabar fazendo outra.

A empresa que vai colocar o dinheiro no clube, hoje seria para pagar dívidas. A gente estaria dando o patrimônio do clube em troca da dívida. Talvez não seja a melhor opção. O Brasil não vale somente sua dívida. Para qualquer torcedor que perguntar, ele vai dizer que o clube não vale somente a dívida. E para pessoas do meio do futebol também. Quando a gente fala nos números, para nós, aqui em Pelotas, no interior, R$ 30 milhões é algo absurdo. No centro do país, esse valor não é nada. E o Brasil tem uma marca muito forte. Não pode entregar isso tudo por tão pouco.

O modelo associativo do clube está defasado. A gente precisa encontrar um novo caminho de gestão e administração. A gente também não concorda com o modelo associativo que funciona hoje, através de doações, sempre pedindo ajuda sem dar contrapartida. Tem que pensar como empresa. Preciso que a minha empresa se faça existir por ela mesma. Precisa gerar esses recursos internamente para ser autossustentável. Tem como fazer isso, fazer o clube gerar lucro. Não lucro no sentido da gente tirar dinheiro disso, mas para se fazer uma contratação melhor, ou um investimento melhor, ou criar um novo CT.

Administrativamente, precisa haver uma mudança. A gente não concorda com o modelo associativo de hoje. A gente não está dizendo que ele é ruim, mas é defasado. Se a gente quer ser diferente, então precisa administrar isso e colocar uma gestão como se fosse uma empresa para não depender de doações e sim ter patrocinadores, investidores, parceiros e propriamente receita do clube. Atrair cada vez mais parceiros para virar uma roda que gire sozinha e se alimente.

O planejamento não é para dois anos, mas precisa estruturar ele nos dois anos.

Calendário eleitoral do Brasil

Eleições para Executiva (biênio 2025/26)

Sexta (27)
12h | Prazo final para recursos de impugnação
18h30min | Primeira chamada de Assembleia Geral (*)
19h | Segunda chamada de Assembleia Geral (*)

* Se houver apenas uma chapa com candidatura apta, já ocorrerá a aclamação.

Sábado (28)
Das 8h30min às 18h | Votação (no caso de duas ou mais chapas inscritas, sendo considerada vencedora aquela mais votada, em turno único).

Candidatos

Chapa 1: Vilmar Xavier (presidente), Gonzalo Russomano (vice de futebol), Jerri Madruga (vice de finanças) e Chavélli Curi Halal (vice administrativa)

Chapa 2: Gabriela David (presidente), Carlos Monks (vice de futebol), Régis Andrades (vice de finanças) e Renato Rezende (vice administrativo)

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