Irajá Rodrigues (MDB), ex-prefeito de Pelotas entre 1977 e 1982 e 1993 e 1997, compõe a chapa pura dos emedebistas ao lado do sobrinho-neto, Danilo Rodrigues, candidato a vice. Na segunda rodada de entrevistas dos candidatos a prefeito de Pelotas ao A Hora do Sul, Irajá relembrou políticas adotadas enquanto chefe do Executivo de Pelotas e propôs uma expansão turística para o município e a Zona Sul caso seja eleito. A entrevista na íntegra está disponível em youtube.com/@ahoradosul.
Qual sua avaliação sobre a campanha até agora?
Uma campanha rápida e com poucos meios. A nova legislação implica essa campanha reduzida. Meu nome e atuação já são conhecidos, então é bom, o tempo me ajudou. Estou muito satisfeito.
Como está sua condição de saúde?
Vejo-me muito bem. Um cidadão com 88 anos, com naturais problemas de saúde da idade. Coloco-me à disposição de ser candidato a prefeito, coisa que pessoas mais jovens não se habilitam, porque não lhes interessa a cidade, os moradores e o que as pessoas passam na vida.
Fala-se muito na desindustrialização de Pelotas. Como o senhor avalia esse tema?
A minha ideia é uma retomada não pela industrialização inicialmente, mas pela preparação para o comércio. Existe uma perspectiva ótima no turismo, que prepara para o comércio. Pelotas terá mais facilidade em locar pontos turísticos ou comerciais do que ficar na dependência de um estabelecimento industrial.
O senhor fala em construção de um parque temático. Como será isso?
Seria em PPP [parceria público-privada]. A prefeitura entraria com área de terreno no entroncamento das BRs, em um ponto muito bonito de Pelotas. Vamos fazer um parque de diversões característico, com a presença de várias demonstrações de elementos formadores da nossa viabilidade econômica, como qualquer parque temático no mundo para atrair gente, como a Disney e o Beto Carrero, para que as pessoas sejam convidadas a vir a Pelotas e criar um fluxo turístico.
Como lidar com uma possível minoria no Legislativo?
Muito tranquilo. Fui vereador e deputado, então tenho essa vivência do Legislativo. Não me custa visitar a Câmara duas a três vezes por semana ou por mês. É um prazer, antes de lançar projetos, explicar as ideias. É preciso convencer os membros do Legislativo de que o que é bom para a cidade é bom para eles também.
Caso eleito, qual seria seu primeiro ato de gestão?
Juntar com a procuradoria os integrantes, um corpo de pessoas, que hoje alugam imóveis utilizados para a instalação de secretarias. Minha ideia é utilizar o espaço aberto pela enorme disponibilidade da rodoviária. Tivemos a pressão, na época [de construção], para que a rodoviária fosse de grandes dimensões, depois ela mostrou-se não tão necessária em espaços. Hoje, muitas secretarias pagam altos alugueis, uma das maneiras de diminuir os gastos é fazer com que tenhamos recontrato dessas áreas, passando-as para os espaços da rodoviária. Facilita o desempenho interno de proximidade dos órgãos e externo pela facilidade de acesso.
Como seria a formatação de secretariado? Amplia-se ou reduz-se o número de secretarias?
Não acho necessário ampliar, não sinto essa necessidade. Parece-me que facilita a vida das pessoas que os pleitos sejam analisados por menos órgãos. O próprio funcionamento das secretarias torna-se mais fácil sem a necessidade dos enormes deslocamentos de pessoas.
Como o senhor projeta a organização do novo Pronto Socorro?
A direção dos órgãos de saúde é tripartite, com funcionamento integrado de um bom hospital, com que sonhamos há tempos. Tenho certeza de que a saúde será melhor atendida e haverá um aprofundamento científico de aparelhos e setores de atendimento à saúde. Vamos trabalhar cada vez mais integrados neste processo tripartite de administração.
Após as enchentes de maio, qual deve ser o olhar na cidade para prevenção aos eventos climáticos?
Comecei isso há mais de 40 anos. Quando assumi a prefeitura pela primeira vez, tínhamos um conjunto de diques e bombas capaz de resguardar a cidade na várzea para o São Gonçalo. Uma das primeiras providências que tomei foi a continuidade da estrada dique que serviria de anteparo ao possível aumento do São Gonçalo. Dependia de uma ponte no entroncamento do arroio Pelotas, obtive o dinheiro para o projeto, lastimavelmente por interferência do pessoal de barcos de mastro, foi impedida pela Marinha. Com isso, não conseguimos dar continuidade àquele traçado inicial e, em razão disso, nem eu e nem meus sucessores tomaram para si a obra de construir esse dique, que ainda hoje é necessário. Também é necessária a pressão junto ao governo federal e estadual para aumentarmos a capacidade de recepção de um volume maior de águas na Lagoa dos Patos.
Em relação ao saneamento básico, como cumprir o Marco do Saneamento?
Não vejo necessidade de privatizar o Sanep, que sempre prestou excelentes serviços para o município. Não precisa da privatização para melhorarmos a qualidade da água da Lagoa dos Patos para servir de balneário. Quando fui prefeito, tínhamos em mente utilizar da forma mais globalizada possível o processo de tratamento de esgoto através de métodos naturais, a colocação das chamadas marrequinhas em áreas preservadas de água, de maneira que as impurezas sejam absorvidas por massas vegetais, o que nos permite fazer uma obra mais barata para o tratamento de esgoto, com igualdade de resultados. A ideia é aumentar as áreas atendidas pelo sistema natural.
Como se daria a ideia de ampliar o turno integral nas escolas?
As nossas crianças ficam pouco tempo dentro das salas de aula, a ideia é duplicar esse tempo, transformando o sistema em garantia de segurança a elas. A ideia é transformar a parte de baixo do nosso futuro local de desfiles de carnaval, que é necessário para melhoria do turismo de Pelotas, e pela geração de um local onde as crianças poderão fazer o turno inverso, com almoço, desenvolvimento de esporte, música e o que for necessário para que as crianças pobres tenham o mesmo tratamento dispensado às crianças de maior condição financeira.
Como solucionar os problemas de zeladoria do município, principalmente dos buracos nas ruas?
Mudar a forma de enfrentamento do problema. Hoje, usa-se em larga escala o sistema de asfalto. A ideia é substituí-lo por uma combinação entre a cinza do carvão com o calcário. Essa mistura forma uma textura muito dura, que tivemos a oportunidade de experimentar no Laranjal e se mostrou tão resistente quanto o concreto cimento, que é melhor do que o asfalto. A ideia é fazer como fizemos na avenida Ferreira Viana, JK e prolongamento da Bento Gonçalves, que construídos há mais de 40 anos ainda prestam excelente serviço com o mínimo de manutenção.
Como Pelotas pode exercer o papel de liderança para a região se tornar um polo turístico?
Ter um processo de integração da serra do sudeste, áreas altas e bonitas de vegetação característica, morros e montanhas, vai nos permitir desenvolver na região o turismo da serra do sudeste. A partir daí, fazer com que a região toda se beneficie do nosso esforço.
Seu vice é seu sobrinho-neto. Qual será o papel dele caso sejam eleitos?
Quero ter o Danilo como minhas outras pernas e outros braços, uma cabeça mista entre o jovem e o velho, embora ainda me considere com uma cabeça jovem. A disponibilidade, saúde e predisposição que o Danilo tem fazem com que feche muito bem com a necessidade que vemos de, talvez, eu precisar de um corpo duplicado. É mais ou menos o que pode acontecer. Ele tem mais facilidade de se deslocar por Brasília, por todo o Brasil e pelo exterior, quando houver necessidade. Quero dividir muito as responsabilidades de busca de recursos e novos instrumentos para a administração pública. Conto com o Danilo, talvez mais do que normalmente se conte no Executivo. Há um vínculo familiar e de pensamentos muito grande entre nós.