Considerada região estratégica dentro de um estudo encomendado pelo governo do Estado sobre o hidrogênio verde, não apenas os bons ventos gerados pela energia eólica prometem mudar a matriz econômica da região Sul do Estado.
Também desponta como grande potencial transformador a produção de biogás e biometano, gerados a partir de material animal e resíduos do agro como casca e palha.
A nova aposta da região Sul para alavancar o desenvolvimento são os parques eólicos marítimos (offshore). Cerca de 20 projetos na costa gaúcha, incluindo na Zona Sul, aguardam a definição de um marco regulatório para a energia offshore que vai determinar como se dará o uso do território marinho.
De acordo com o presidente da Portos RS, Cristiano Klinger, a implantação desses projetos trará um potencial de desenvolvimento muito grande para a região.
“É fundamental essa atenção aos projetos eólicos. Primeiro por ser uma energia renovável, segundo pela indústria toda que vem junto com esses parques, tanto pela implementação deles quanto depois em sua manutenção”, avalia Klinger.
De acordo com o presidente da Portos RS, os novos projetos que podem se instalar no Estado devem criar uma nova indústria, responsável por trazer novos investimentos.
Transição energética
Encomendado pelo governo do Estado, o estudo da consultoria McKinsey & Company analisou as perspectivas do mercado de hidrogênio verde e elaborou um plano detalhado para o desenvolvimento do setor. Com mais de 600 quilômetros de extensão entre Chuí e Torres, o Estado apresenta potencial eólico sobre água (offshore) de 80 gigawatts (GW) e sobre solo (onshore) de 103 GW, para ventos com velocidades maiores que sete metros por segundo a cem metros de altura.
Conforme a professora da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Fernanda Trombetta, a extensa planície costeira, somada a baixa rugosidade de terreno, apresenta enorme potencial para a instalação de parques eólicos offshore e onshore.
Na avaliação da presidente do Sindienergia-RS, Daniela Cardeal, o RS está vivendo um momento único na indústria eólica tanto na terra como no mar, assim como no hidrogênio verde. “Nós temos margem de conexão para novos projetos que outras regiões do Brasil não tem; nossa margem, que hoje está com 3.8 GW, vai para 8 GW até o ano que vem”, diz.
Daniela ainda destaca a existência de um planejamento espacial marinho no Estado com dados atuais. “Temos também um zoneamento ambiental eólico, que é uma ferramenta que recomenda a instalação de parques eólicos em regiões que no futuro vão gerar menos conflitos, diferente do caso que estamos vendo em outras regiões do Brasil”, enumera.
Competitividade da Zona Sul
Além de todas as possibilidades de exploração da energia eólica e solar, a região Sul e a região Oeste também despontam com maior potencial de produção de biometano, demonstra estudo da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema). “Nós não falamos só com hidrogênio verde, mas falamos também com o biogás transformado em biometano como uma das grandes potências que o RS tem para desenvolver e que pode transformar não só a matriz energética, mas a matriz econômica do Estado”, diz a titular da Sema, Marjorie Kauffmann.
Conforme Marjorie, o estudo sobre hidrogênio verde encomendado pelo Estado não destaca uma região em especial. Entretanto, a Zona Sul vem tendo um olhar especial para receber esses investimentos devido a necessidade de renovar sua matriz econômica.
“O hidrogênio verde precisa de muita energia. Muita energia se dá geralmente por plantas de energia eólica, que precisam de bastante espaço e que convivem muito bem com a pecuária e com a agricultura. Por isso que a gente potencializa a região Oeste e a região Sul, por essa capacidade de produção de energia eólica e de espaço físico”, explica.
Menor custo benefício
A cidade de Rio Grande foi a cidade que apresentou menor custo benefício para produção de hidrogênio verde, por diferentes motivos, comenta Marjorie. Dentre eles, a capacidade de produção e energia eólica, disponibilidade hídrica, e, principalmente, o complexo industrial existente no distrito industrial do município, que conta com uma planta de produção de fertilizante, potencial consumidora.
Ainda, a prefeitura de Rio Grande tem um plano estratégico de redução de emissão de conformidades ambientais e traz também a transição energética na parte do transporte público municipal. “Devido esse planejamento, o município tem atraído uma série de potencialidades. Também, devido a localização do porto e por ser sede de indústrias internacionais que acabam já praticando essa transição energética em outros países e vêm em Rio Grande um potencial a mais”, explica a secretária.
Legislação aprovada
Recentemente aprovada, a Política Nacional do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono, chamado de hidrogênio verde, além de apresentar definições importantes para o setor, traz a previsão de incentivos fiscais na ordem de R$ 18,3 bilhões. De acordo com a titular da Sema, a nova legislação prevê a concessão de crédito fiscal para produtores ou compradores de hidrogênio de baixo carbono no período de 1º de janeiro de 2028 a 31 de dezembro de 2032.
Hidrogênio verde
O hidrogênio verde (H2V) é produzido de forma sustentável e ecológica por meio do processo de eletrólise da água, utilizando eletricidade gerada por fontes renováveis como solar, eólica ou hidrelétrica, explica a docente da Furg. A eletrólise da água transforma a molécula de água (H2O) em dois gases hidrogênio (H2) e oxigênio (O2), por meio de uma fonte externa de energia. O gás hidrogênio é considerado um vetor energético com grande potencialidade de uso nas indústrias e no setor de transporte, podendo substituir os motores a combustão. Nesse processo o hidrogênio (H2V) é gerado com emissões zero de gases de efeito estufa.