Como foi o desenvolvimento do seu processo artístico?
Sou completamente autodidata. Não fiz nenhuma faculdade. Fiz cursos profissionalizantes de pintores profissionais que tinham mais a ver com o que eu buscava na época. A minha ideia com a aquarela era sempre trazer um aspecto da pintura a óleo com a aquarela, então desenvolvi esse método para poder fazer essa pintura. As outras pessoas não faziam isso. Porque a aquarela tem uma linguagem muito fluida, e eu gosto de uma paisagem mais concreta. O meu foco são retratos e patrimônios.
Quais foram as suas inspirações para começar na pintura?
Isso já acontecia no meu trabalho de designer. Sempre gostei de contar histórias, sempre desenhei. E gostava de saber sobre as pessoas. E trabalhando na Praia do Rosa, onde morei por algum tempo, lidava com muitas pessoas diferentes todos os dias, o que me deixava inspirada para saber mais sobre elas, o que estavam fazendo de positivo para o mundo. Comecei a me questionar sobre o que estamos deixando para as novas gerações. As coisas estão passando tão rápido e são tão impermanentes. O foco principal com a pintura era isso: deixar a história marcada.
Como você percebeu que a arte poderia ser uma fonte de renda?
Eu já vendia no começo. A arte não era um hobby. Sempre li muito e sei que tem muitos artistas que se dão bem. Por que não comigo? Existe uma chance de dar certo e ser a fonte de renda, fazer o que eu amo e ser remunerada por isso. Eu nunca tinha pintado, pintei um retrato e saiu excelente. Depois daquele, sempre tive encomendas. Aqui em Pelotas, comecei a pintar muito patrimônios.
Como funciona o processo de produção das obras?
Eu passo um período estudando como as pessoas se comportam naquele lugar e enxergo o que as pessoas estão vendo. Na maior parte do tempo, elas não vêem o valor daquilo, mas só o espaço que elas passam. O quadro Golden Hour (foto), que é “a hora dourada do mercado”, quando todo mundo, no final do dia, sai do trabalho, se reúne ali e confraterniza. Só que as pessoas não se dão conta desse processo. O cotidiano nos desliga. Eu fico, pelo menos, uns dez dias analisando como as pessoas se comportam ali, e eu começo a tentar entender o que elas fazem de significativo naquele espaço. Sempre analiso a sensação das pessoas naquele lugar, e como traduzir isso em uma pintura, que é o mais importante. Tenho várias pinturas do Mercado porque ele é bem versátil nesse sentido.
Como transmitir com exatidão os sentimentos do lugar na pintura?
Tenho uma playlist específica de música, com 432 megahertz, para ficar sempre alinhada com a frequência do universo. E me coloco nesses lugares, vou ali e tomo um café, vivo aquela emoção. Depois de uns dias, aquilo vira um compilado de sensações que naturalmente eu consigo pintar. Nos retratos, como eu não tenho convívio com as pessoas, busco saber da história delas. Questiono muitas coisas até vir, de fato, a pintura.