Os médicos chacoalhavam o professor Krüger, que, sem forças devido ao enrijecimento pulmonar que não o permitia filtrar oxigênio, dormia no leito de UTI da Santa Casa de Porto Alegre. “Vocês estão me ressuscitando, doutora? Eu tô morrendo?”, o professor perguntou.
Depois de 18 meses à espera de um transplante de pulmão, e horas depois que os médicos deram a notícia terminal de que o caso estava praticamente perdido, o professor Krüger recebeu, na madrugada de um domingo, a informação de que os pulmões que necessitava estavam vindo do oeste paranaense.
A autorização da doação de órgãos pelos familiares de um jovem morto em acidente de trânsito salvou a vida de Krüger – e de outras sete pessoas no Brasil. Na véspera da notícia redentora, o professor despedira-se da mulher e dos filhos, aos 67 anos.
Associação visa conscientizar população
Krüger, como é conhecido em Pelotas, na verdade se chama Edelbert Lörsch. Ele diz-se abençoado por um milagre e luta pela conscientização sobre a importância da doação de órgãos.
Ele criou, há dois anos, a Associação Nacional de Pré e Pós Transplantados (ANPPT). A sede é em Porto Alegre e atualmente conta com 200 sócios espalhados pelo Brasil – a meta é atingir 500 até o fim do ano.
“O objetivo é divulgar a doação de órgãos e tecidos, não tem objetivo de filantropia ou apoio. Está dando resultados, tanto que os índices de transplantes no Rio Grande do Sul aumentaram e diminuiu a lista de espera”, diz.
A ANPPT tem núcleo no Ceará, em Minas Gerais e Santa Maria, além da sede em Porto Alegre. “Toda a equipe da diretoria tem feito caminhadas, panfletagem e palestras [para reforçar a conscientização sobre a doação de órgãos]”, completa o professor. “A grande maioria da população desconhece a realidade do que é e quantas pessoas estão na lista à espera de transplante”, argumenta.
Uma das lutas do professor do Instituto Federal Sul-Riograndense é pela compulsoriedade da doação de órgãos. Atualmente, os familiares precisam declará-la; a ideia é que se manifestem caso desejem recusá-la. “Ainda é um tabu, as pessoas têm medo, mas é uma questão de saúde pública”, diz.
Estado virou referência
Porto Alegre é uma das referências do transplante de órgãos, mas o Rio Grande do Sul é apenas o quinto Estado com mais doadores, segundo Krüger. Há atualmente 2,5 mil gaúchos, aproximadamente, na fila de espera.
No primeiro semestre deste ano, o Estado teve 339 transplantes de coração, pulmão, fígado e rim, além de 392 transplantes de córneas. De um total de 404 mortes encefálicas computadas, apenas 116 efetivaram-se em doações de órgãos – o principal motivo é a recusa de familiares e a não-declaração de doação em vida.