Poucos meses após o Rio Grande do Sul viver a maior tragédia de sua história, com cheias recordes, o resto do Brasil arde em chamas e vive sua pior estiagem. E vai piorar. A Metsul Meteorologia projeta que este será um dos setembros mais quentes da história no Brasil, com marcas acima de 40°C em diversas regiões do país.
Na terça-feira, ao menos 244 cidades brasileiras registraram umidade relativa do ar menor ou igual à do deserto do Saara, segundo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Enquanto por aqui chove, dezenas de cidades no sudeste e no centro-oeste registraram umidade relativa do ar abaixo de 10% – no Saara, varia de 14% a 20%.
Enquanto as enxurradas deixam um rastro de destruição imediato, a seca consome gradativamente a saúde das populações e a produção agrícola. Ao mesmo tempo que o PIB do Brasil cresceu 1,4% no segundo trimestre, o PIB da agricultura caiu 2,3%, impactado pela tragédia de maio, e a estiagem no resto do país não vai ajudar em nada.
Essas catástrofes ambientais e humanitárias coincidem com as eleições municipais. No entanto, o meio ambiente pouco aparece na campanha eleitoral, seja aqui ou em outras cidades. A ação dos prefeitos é limitada, claro, e depende-se muito do governo federal e dos estados para ações efetivas, mas é nos municípios que as pessoas sofrem, têm suas casas e plantações destruídas. É nas cidades que estão os empregos.
Este é o momento em que a sociedade pode decidir quem vai estar nos espaços de decisões mais próximos. É preciso que a população cobre agora respostas para que o que está acontecendo não seja ainda pior. Daqueles que assumem posições de poder, espera-se a dignidade e a obrigação moral de agir. As tragédias climáticas não perguntam se numa cidade o prefeito é de esquerda ou de direita. Os mais fragilizados socialmente são os mais afetados, mas todos vamos pagar um preço muito alto pela ação que não é tomada hoje.