O que você faz da vida?
Sou natural daqui de Pelotas. Eu estudo, estou no segundo ano do Ensino Médio no colégio Pedro Osório. Vendo biscoitos para ter um dinheiro, é um trabalho mesmo, para comprar as minhas coisinhas. O meu primo veio de Porto Alegre para cá e já trabalhava nisso, só que ele vendia brigadeiro. Agora, com 18 anos, achei outras coisas para vender. Fui vendendo coisas diferentes e achei o biscoito bem mais fácil. Meus pais me apoiam nisso, eles me ajudaram desde o início. Me ajudaram a comprar os primeiros biscoitos, e agora que estou por mim mesma.
Como funciona a comercialização dos biscoitos?
Eu compro, não sei quantos quilos de biscoitos, mas compro cem reais e duram uns dois dias. Vendo tudo e compro de novo, vai indo assim. Acho que ganho bem comparado com um outro tipo de trabalho, larguei currículo em outros lugares, mas prefiro fazer isso. Posso faltar a hora que quero, posso vir a hora que quero, no momento prefiro trabalhar nisso. Trabalho das 9h às 11h30min, depois almoço e vou para a escola. Hoje, por exemplo, vim cheia de biscoitos. Trouxe 23 e já está com três. Início de mês vai mais rápido e trago mais. Mas hoje está sendo bom.
O que você mais gosta deste trabalho, além da carga horária facilitada?
Tem um lado bom e um lado ruim, porque trabalhar com o público é meio complicado. Como hoje, por exemplo, aconteceu uma coisa ruim. Fui oferecer para uma senhora e ela falou que não era para eu estar trabalhando, que era para estar estudando. Só que estudo já, ela não sabe. E ela foi embora xingando ainda. Mas também tem pessoas completamente carinhosas. Uma mulher esses dias me deu um café, achei muito bonitinho. Já tenho clientes que são bem legais comigo. […] Mas trabalho porque já tenho 18 anos e preciso de um emprego. Não vou ficar dependendo do pai e da mãe. Mas é de boa. A minha mãe sempre fala que tem muito orgulho de mim.
Como você avalia o aprendizado que está tendo ao exercer esse trabalho?
Eu era muito envergonhada. Era uma pessoa extremamente fechada. Comecei a trabalhar e mudei muito depois, pela responsabilidade e convivência com as pessoas. Uma vez veio uma mulher aqui, ela comprou um biscoitinho e começou a desabafar. Começou a falar que tinha um filho autista, que era muito difícil para ela, começou a chorar. Aí já virei psicóloga, comecei a conversar com ela e ela ficou muito feliz. No mesmo dia, um pouco antes dessa mulher aparecer, veio uma outra mulher que já me conhecia. Estava num dia ruim, acordei chorando, com ansiedade. E ela começou a perguntar se eu estava bem, falar muito sobre Deus, e comecei a chorar. Ela me abraçou e depois foi embora. Então as pessoas ajudam. Tem dias que nem estou muito a fim de trabalhar, só que venho mesmo assim porque o trabalho melhora o meu dia realmente.