Irajá Rodrigues é candidato a prefeito de Pelotas pelo MDB. Aos 88 anos, tem o sobrinho-neto Danilo Rodrigues (MDB) como candidato a vice. Irajá foi deputado federal e prefeito de Pelotas por dois mandatos, entre 1977 e 1982 e entre 1993 e 1996. Ele é o terceiro entrevistado pelo A Hora do Sul na primeira rodada de conversas com os candidatos de Pelotas.
A próxima conversa será com Marciano Perondi (PL). Fernando Estima (PSDB) e Reginaldo Bacci (PDT) tiveram suas entrevistas publicadas nas edições de segunda e terça-feira, respectivamente. Na sexta-feira, será a vez de Fernando Marroni (PT), conforme a ordem de aprovação em convenções partidárias.
Por que ser prefeito de Pelotas?
Porque eu senti a derrocada de Pelotas. Nós tínhamos cinco frigoríficos, fecharam, nós tínhamos cinco curtumes, fecharam, nós tínhamos 13 esmagadoras de óleo de soja, fecharam. Tínhamos umas 18 fábricas de conserva, sobrou muito pouco. Nós tínhamos uns 40 engenhos de arroz, a maior parte fechou também. Eu mesmo tive uma montadora de tratores, fechamos também. Esse fato mostra uma enorme carência de emprego. A cada uma das empresas que foi fechando, isso se projetou sobre a realidade social da cidade e faz com que alguém tenha que dizer ‘vamos parar para olhar isso aqui e tomar um outro rumo’. Pelotas tem condições de centralizar um turismo de passagem, por isso eu entendo que o turismo é o nosso futuro imediato. A ideia é fazer um parque temático em áreas que já são da prefeitura e atrair turistas de passagem e depois difundir a ideia de que existe um grande parque. Pelotas já tem, em razão da confluência da região, um milhão de pessoas, então eu entendo que o turismo é a grande saída para Pelotas.
Quais são os maiores problemas de Pelotas?
O grande problema é que Pelotas parou. Não tem mais Carnaval, por exemplo. Pelotas já teve um dos carnavais mais famosos do Brasil. A ideia é fazer um sambódromo onde as escolas de samba possam fazer os seus os seus ensaios, obter recursos, e embaixo das arquibancadas fazer o turno inverso das escolas municipais, que nós não temos. Vem para ali depois de fazer a sua aula normal. A educação é indispensável, precisamos melhorar os nossos índices no Pisa. O Laranjal é uma excelente praia, mas sempre tem placas de água poluída. Precisamos completar o tratamento de esgoto, e nós temos um método que experimentamos, que deu certo e é barato.
Sobre o problema da zeladoria, o que pode ser feito?
Precisamos de instrumentos de valorização econômica para poder sobrar dinheiro para fazer a manutenção. Hoje a prefeitura gasta um bom dinheiro em aluguel de prédios para secretarias. Nós fizemos uma rodoviária grande, a ideia é transformar num centro administrativo e economizar esse dinheiro para poder botar em manutenção. A extinta Cientec vinha desenvolvendo um sistema de pavimentação com uma combinação de cinza e resíduo de carvão mineral com calcário. No final do meu segundo governo resolvi fazer uma experiência do lado do Laranjal Praia Clube. 20 anos depois, não conseguiam quebrar com picareta nem nada. Nós vamos usar intensivamente, inclusive com a possibilidade de utilização de trabalho voluntário das pessoas que não querem mais pisar barro. Quer ver a rua calçada, dá uma mãozinha. Nós fizemos 200 pontes em regime de mutirão no interior todo, e fizemos 200 quilômetros de redes elétricas.
Como vê o cenário político atualmente?
Eu fui expurgado pela direita em 1964, mas isso não alterou a minha vida, nem como político, eu sempre fui bem recebido. Eu não acho que haja razões para nos preocuparmos com essa radicalização, primeiro que a radicalização não serve para nada, em segundo que não acho que não há nenhuma razão lógica para radicalizar. Ao contrário, nós temos que pensar que nós somos uma grande comunidade pobre e que precisamos resolver os nossos problemas, então eu não sou nem um pouco preocupado com este ambiente que dizem que a internet aguçou. Não vou preocupar com o passado, me interessa o futuro.
Caso eleito, como começaria o seu governo?
Primeiro, acabar com os aluguéis. Quero pegar os funcionários e trazer para participar, refazer esse contato com o funcionalismo, dar posições de destaque dentro da administração em vez de captar gente de fora que nunca trabalhou em administração nenhuma e botar em cargo de chefia. Pelotas tem excelentes ventos para produzirmos energia eólica e a própria prefeitura produzir a sua energia elétrica em vez de ter uma conta de luz. Quero aproveitar essa disponibilidade de energia para atrair empresas, oferecer terrenos e energia elétrica.
O senhor tem 88 anos, começou sua carreira política há mais de 60. Como vê essa questão da idade?
Eu vejo que ninguém tem a experiência que eu tenho. O Brasil não é para principiantes, tem que ter experiência mesmo. Essa experiência me dá condições. Eu não tô me candidatando a uma vaga para calceteiro da prefeitura, é uma vaga para prefeito. O prefeito tem que ter é a cabeça boa. Eu fiz todas as campanhas caminhando, vila por vila. Agora eu vou de carro. Consegui um Jeep, porque é resistente aos buracos e preciso de um carrinho de confiança pra essa realidade que estamos vivendo (risos). Politicamente eu me acho muito bem, porque nós fizemos coisas que antes não tinham sido feitas. Pelotas não tinha creche, não tinha postos de saúde. O MDB fez quase todas as creches, quase todos os postos de saúde, todas as grandes avenidas, as caixas d’água, a isenção do IPTU para as pequenas propriedades, projeto Esperança, com 30 mil almoços diários para as crianças, a rodoviária, os calçadões, os loteamentos populares, o parque e Museu da Baronesa, o auditório do Pelotense, o Carnaval de sete dias, o teatro Sete de Abril, o sistema de transporte público entre os bairros, pavimentação dos trajetos de ônibus.
O que os demais partidos fizeram quando estiveram na prefeitura? Eu senti que a minha vida não tinha sido em vão. Lá no fundo, isso vai me garantir uns dez anos de vida a mais.