A educadora Ísis Toralles, professora de Química, é fundadora e atual presidente da comunidade educacional Eu Que Lute. Hoje se preparando para se tornar oficialmente uma Organização Não-Governamental (Ong), a iniciativa nasceu como um projeto social criado em 2020, com o objetivo de auxiliar estudantes de escolas públicas saindo do Ensino Médio a enfrentarem o Enem. Nos últimos quatro anos a proposta cresceu e hoje tem alunos e professores de diferentes partes do país.
Como surgiu a iniciativa?
A iniciativa é minha e do Rômulo Diel, que não está mais. Eu e o Rômulo, professor na área de Letras, estávamos conversando na praça Coronel Pedro Osório e tomando chimarrão, aí a gente veio com essa ideia de ajudar estudantes a se prepararem para o Enem. Cada um pegaria um aluno e depois a gente iria trocar de aluno. Mas a internet tem uma potência que às vezes a gente esquece. Isso acabou sendo levado para a Internet e de dois professores e dois alunos, viraram dez. A gente começou a construir um trabalho, que era um projeto social, que aos poucos tomou uma proporção cada vez maior. Em 2020 ficou local; 2021 a gente abriu para todo o Brasil, para alunos e professores. Em 2022 entrou o presencial com a parceria que a gente fez com o Senac. A grande novidade deste ano é o presencial em Porto Alegre.
O que é a Eu Que Lute?
Estamos em vias de ter um CNPJ para a gente, aos olhos da sociedade, sermos vistos como uma organização sem fins lucrativos. A Eu Que Lute é uma comunidade educacional que faz várias ações educacionais de forma gratuita. Por que a gente não chama de cursinho? Porque está muito vinculado à ideia de um cursinho preparatório, mas não fazemos só isso, a gente tem um trabalho dentro e fora da sala de aula. Dentro das ações que a Ong faz, o preparatório para o Enem e alguns vestibulares é de fato um dos braços mais conhecidos.
Com quantos professores vocês contam?
Hoje a Ong tem 60 colaboradores voluntários espalhados pelo Brasil. A gente fica com vontade de fazer mais, mas como o trabalho voluntário temos que ir com calma.
Qual é o público da entidade?
É formado por pessoas que estão no Ensino Médio da rede pública ou que foram alunos da escola particular como bolsistas, principalmente perto do terceiro ano, então a partir dos 16 ou 17 anos até os 60 ou 65 anos. Porque temos no online um perfil muito mais adulto, do que um perfil mais adolescente como é no presencial, tanto em Pelotas quanto em Porto Alegre.
Quantos alunos a ong tem?
Temos 195 alunos. Em Porto Alegre são dez alunos frequentando as aulas, em Pelotas 35 e no online 150. Em quatro anos foram 2,1 mil inscrições, destas convertemos em pouco mais de 700 alunos.
Quais são os outros braços da ong?
O outro braço é o Festival Literário, que visa estimular a escrita dos estudantes do Ensino Médio. Tivemos a primeira edição no ano passado e agora a gente vai ter a segunda edição em Pelotas, em Porto Alegre e para os alunos que não moram nem em Pelotas, nem em Porto Alegre. Porque dentro dessas aulas preparatórias a gente tem aulas presenciais e aulas online à noite. Vamos testar para ver como vai funcionar possibilitar que todos os alunos participem. Também temos o Clube do Livro, que tem o objetivo de estimular a leitura. Agora vamos para a terceira edição, esse é aberto para todo mundo. São encontros quinzenais que acontecem de forma online onde a gente discute um livro em comum. É um livro por ano, por enquanto.
Qual é o quarto braço da ong?
Ele surgiu agora, é o trabalho dentro da APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Apenados). É um público formado por pessoas que estão privadas de liberdade, que a APAC chama de recuperandos. No Estado tem três Apacs, em Porto Alegre a gente já fez uma primeira ação, um encontro pensando em prepará-los para o Enem. Aqui em Pelotas estamos em vias de formalização, mas a ideia é alfabetizar os três adultos que estão lá hoje. Aqui em Pelotas temos 23 recuperandos. A cada ano, nesse grande ecossistema que a Ong vai permeando, a gente entende que pode fazer mais e mais. Temos um olhar pensando no cidadão, na semente que fica plantada ali dentro e como isso vai reverberar na sua comunidade. Somos conscientes que temos uma ferramenta em mãos que é a educação, ela é de fato transformadora. Usando a frase de Paulo Freire: “A educação não transforma o mundo, ela transforma as pessoas e as pessoas transformam o mundo”.