Até julho, mais de quatro mil empreendimentos, sendo 3,4 mil microempreendedores individuais (MEIs), foram abertos em Pelotas. No mesmo período, cerca de três mil CNPJs foram encerrados. Já em Rio Grande foram duas mil empresas constituídas, sendo 1,7 mil MEIs, e mais de 1,4 mil extintas.
Conforme a análise de economistas, a maioria das empresas nas duas cidades são voltadas ao comércio e serviços, setores que têm apresentado dinamismo para se manter em atividade. De acordo com a Junta Comercial, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do RS, o MEI lidera entre as modalidades de abertura de negócios nos dois municípios, seguido por empresas de sociedade limitada (LTDA).
Os primeiros seis meses do ano apresentaram uma diminuição de 19% na manutenção de empresas de Microempreendedor Individual (MEI) ativas em Pelotas ante o mesmo período de 2023. Com cenário semelhante, a queda foi de 16% em Rio Grande. O percentual é o resultado da diferença entre a abertura e o fechamento de negócios. Mesmo assim, o saldo é visto como positivo por economistas diante dos impactos que ainda podem ser vistos nos próximos meses por causa das enchentes.
Para o economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Eduardo Tillmann, a variação na quantidade de Microempreendedores Individuais é pequena e tem origem na taxa de juros e no índice da inflação
Já Marcelo Passos, economista e professor na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), explica que tem observado um crescimento no setor de serviços tanto em Rio Grande quanto em Pelotas.
Impacto e oportunidades
Segundo a Pesquisa de Monitoramento de Impacto das Enchentes do Sebrae RS, realizada com mais de 16 mil empreendedores, 62% dos respondentes foram fortemente afetados pelas águas. Na Zona Sul, MEIs e Microempreendedores de Pelotas e Rio Grandes foram os mais impactados. De acordo com os empreendedores, a retomada gradual dos negócios levaria de dois a três meses, tendo como maiores desafios a interrupção da demanda, os danos de infraestrutura, os problemas de fornecimento de insumos e a falta de recursos/crédito.
Conforme avalia o gerente regional do Sebrae, Ciro Vives, a perspectiva desses impactos deve recair mais sobre o potencial fechamento de negócios no curto prazo, dado o grau de desestruturação física e de mercado, e menos no processo de abertura de novas empresas. Ele aponta ainda que o cenário atual apresenta desafios, mas também oportunidades para o empreendedorismo, “que pode desempenhar um papel crucial na recuperação das comunidades afetadas”.
A dificuldade de manter um MEI
Um dos MEIs que supera desafios para a manutenção da empresa é uma ótica de Pelotas. Ao ser aberto, o negócio foi abalado pela pandemia. Após funcionar em duas salas comerciais, o proprietário percebeu que a localização, no prédio, não era atrativa para os clientes. Diante disso, a óptica foi expandida, passando a operar em uma loja com vitrine, com a mudança também ocorreram as enchentes de maio. “O trabalho é bom e vamos tentando sobreviver em uma cidade que é basicamente comércio. Eu quero continuar acreditando que vai seguir dando certo”, diz o proprietário Marcelo Warner.