Indústria ajuda a tornar os doces finos conhecidos no país

Memórias

Indústria ajuda a tornar os doces finos conhecidos no país

Historiador Mario Osorio Magalhães explica porque os doces de frutas foram conhecidos primeiro

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Indústria ajuda a tornar os doces finos conhecidos no país
O pêssego é a estrela da industrialização dos doces em Pelotas 9F

O historiador pelotense Mario Osorio Magalhães  (1949-2012) comunica aos leitores no livro Doces de Pelotas: Tradição e história (Editora Armazém Literário, 2001) que antes mesmo dos doces finos feitos basicamente de ovos e açúcar, hoje patrimônios brasileiros, antigos registros literários sobre a famosa doçaria pelotense no início do século 20 apontavam que a industrialização e a consequente comercialização dos doces de frutas abriram espaço para o que se celebra na atualidade. 

O pesquisador relembra sobre a passagem da consagrada escritora e cronista carioca Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). No livro Jornadas pelo meu país (1921) Júlia, que conhecia a fama das passas de pêssego pelotenses, foi surpreendida em uma visita à região por outras iguarias não menos irresistíveis. “Não sei se por aqui houve conventos, mas se não foram ensinadas por mãos de freiras, exímias na fabricação de guloseimas, caíram do céu para as cozinhas pelotenses as receitas destes papinhos de anjo, casadinhas fofas e queijinhos de ovo, que tenho no meu prato e que são mesmo uma tentação”, escreveu. 

Para o historiador essa era a prova de que na década de 20 a “tradição doceira, muito mais do que cinquentenária no âmbito local, não se havia propagado no âmbito nacional”. 

Magalhães também joga luzes sobre o comentário a respeito das passas de pêssego e explica o motivo: “Conforme sublinhei em Opulência e Cultura na Província de São Pedro, só com a superação dos saladeiros,  no início do século, incrementou-se a industrialização, em nossa zona colonial, das frutas de clima temperado; utilizando-se então o pêssego (a fruta mais produzida) não só ao natural, também na forma de doce”.

A partir das geleias, conservas e passas se explora e propaga o seu consumo, chegando ao conhecimento da escritora Júlia, segundo Magalhães. “No final do século 19 começaram a surgir as primeiras indústrias de doces. Até então, a gente tem uma produção de doces que é para as festas e uso diário. Com a chegada dos colonos, eles vão pegar esse mercado que já existia aqui e vão ampliar, produzindo de uma forma industrial”, conta a professora e diretora do Museu do Doce, Nóris Mara Leal, da Universidade Federal de Pelotas.

 “Justamente a partir desse momento é que fugirão pelas portas, ganharão o centro da cidade e ainda mais as artérias e avenidas das capitais brasileiras, esses ‘papinhos de anjos, casadinhas fofas e queijinhos de ovo’”, afirma o historiador.

 

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