As paredes escorrendo entregam a umidade antes mesmo de o pelotense abrir a janela pela manhã e avistar o nevoeiro sobre a cidade. A umidade relativa do ar chegou a 99% nos últimos dias, uma somatória da predisposição natural de Pelotas, cercada por cursos de água, com a presença de um centro de baixa pressão sobre o Oceano Atlântico.
Para os próximos dias, no entanto, deve haver diminuição, de acordo com a meteorologista Carina Padilha, do CPPMet, mas ainda há a possibilidade de nevoeiros em praticamente toda a Zona Sul, especialmente nas regiões de Pelotas, Rio Grande e Santa Vitória do Palmar.
Os pelotenses acostumaram-se a conviver com as paredes molhadas, bem como com o mofo que invade as casas. Cuidados devem ser tomados, no entanto, com o intuito de prevenir problemas de saúde que os fungos podem acarretar.
De acordo com o otorrinolaringologista e professor da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Heithor de Castro Sell, a respiração em ambientes úmidos gera doenças nas vias áreas, “pela ação de microorganismos como as bactérias, fungos e ácaros”.
“Dentre eles a rinite alérgica, congestão nasal, secreção nasal intensa e coceira no nariz e nos olhos. A rinossinusite aguda e a asma também podem estar relacionadas ao aumento da umidade do ar”, detalha Sell.
O médico cita medidas que podem ser tomadas no intuito de evitar a proliferação destes microorganismos que podem ocasionar infecções. “A higienização de roupas de cama, travesseiro, tapetes, carpetes e mofos nas paredes”, diz.
Região propensa ao mofo
Sell destaca que a população de Pelotas e região é mais propensa a estas doenças, justamente pelas características que favorecem a umidade do ar acentuada. Fatores estruturais também contribuem para a proliferação dos fungos.
O contato do ar frio dos invernos rigorosos na região causa a condensação de água nas paredes das residências e faz com que surjam os fungos filamentosos, conhecidos como mofo ou bolor, explica o professor da Faculdade de Urbanismo (Faurb), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Eduardo Grala da Cunha.
Atenção às construções
Cunha participa de um grupo de estudos da Faurb que simula o transporte de umidade nas paredes internas das edificações. Ele também coordena o GT Umidade na ABNT, que está desenvolvendo a primeira norma de simulação de transporte de umidade em paredes.
“Ter o isolamento térmico externo ajuda na diminuição do nível de umidade relativa próxima das superfícies internas de paredes externas. O mofo precisa de pelo menos seis horas com umidade relativa do ar acima de 80% para surgir nas paredes”, explica Cunha.
A qualidade da construção interfere diretamente na saúde dos moradores, assegura Cunha. Em países europeus, como a Alemanha, as construções seguem um padrão de isolamento térmico e de aquecimento, que evita a elevação acima de 80% de umidade interna.
No Brasil, ainda está em desenvolvimento um regulamento neste sentido. Em Pelotas, as construções mais antigas não apresentam o sistema de isolamento térmico externo. Dentre as novas, algumas já têm um plano contra o mofo, outras não. “Nas construções, principalmente, com paredes de concreto armado, o problema do surgimento do mofo é uma realidade”, explica Cunha.
“É normal o proprietário receber a edificação nova já com mofo nas paredes. É necessário o entendimento de que o mofo não é simplesmente uma questão do clima, mas também uma questão da qualidade das construções”, conclui o arquiteto.