Mais de dois meses após o início das cheias em Pelotas, o sentimento é de alívio pela superação do momento mais crítico da crise. No entanto, entre os moradores da Colônia de Pescadores Z-3, a preocupação persiste.
Nas últimas semanas, a localidade, vulnerável em relação às inundações, continua sofrendo com variações diárias dos níveis das águas da Lagoa dos Patos, trazendo insegurança para quem tenta se reconstruir. Segundo o poder Municipal, pelo menos 800 pessoas seguem desalojadas, em casa de familiares e amigos, e 61 no abrigo.
O governo municipal diz que, para a reconstrução, busca recursos do governo federal e tem feito reuniões regulares para discutir a questão das casasque tiveram danos estruturais mais severos. Os encontros envolvem a Defesa Civil municipal e as secretarias de Governo, Mobilidade, Habitação e Assistência Social.
São estudadas alternativas, especialmente, na busca de parceiros para doação de material de construção. Levantamento da Defesa Civil aponta que 64 edificações na orla da Colônia de Pescadores, entre peixarias e unidades habitacionais, foram impactadas pela enchente.
Cenário de destruição
Uma das imagens mais marcantes deixadas pelas enchentes de maio fica na entrada da Colônia Z-3. Às margens da lagoa, as tradicionais peixarias foram as primeiras estruturas a enfrentar a força das águas. Isso fez com que muitas paredes de concreto desses imóveis cedessem ou desmoronassem, causando um cenário de devastação que representa a intensidade das cheias neste ano.
Do lado oposto da rua, vive a proprietária de um estabelecimento, Maria de Lourdes Esteves, 42 anos. Como retornou para casa há pouco mais de dez dias, após 40 dias alojada em outro local, ela ainda tenta retomar a normalidade dentro da própria residência, mas conta sobre as perdas nos comércios.
“Ali, na minha filha, ela perdeu a cozinha, perdeu o banheiro, perdeu duas salas de trabalho. […] As mercadorias, a gente conseguiu tirar através da Emater, que nos apoiou, porque senão a gente perdia”, declarou Esteves
Instabilidade
A instabilidade das águas tem sido um problema para a família de Alex da Costa, 35 anos. A residência onde ele vive fica localizada entre um banhado. Por conta disso, a casa acaba sacrificada pela oscilação da Lagoa. Desde o início das enchentes, a família não voltou à normalidade.
Mesmo com a rua já seca, o cenário muda ao chegar no pátio dos fundos, onde a água ainda permanece sobre quase toda a área aberta. Dentro do imóvel, eletrodomésticos, móveis e roupas seguem levantados. Ele conta que a variação do nível tem sido de cerca de 30 centímetros de um dia para o outro, o que já é o bastante para invadir o lar.
“Nós estamos com tudo o que temos levantado. Porque já perdemos quase tudo: o guarda-roupa, o armário de banheiro, o armário da cozinha. Dia 13 [de junho] viemos para cá, mas não dá para se animar que vai abaixar, porque a água vem e volta. Se der um vento de fora, de uma hora para outra, a água pode vir com tudo de novo. Se não levantar as coisas, a gente perde o restinho que tem”, relata.