212 anos de Pelotas: os potenciais e o redescobrimento da cidade

Princesa do Sul

212 anos de Pelotas: os potenciais e o redescobrimento da cidade

Lideranças apontam que caminho está na conexão entre tradições históricas e novas frentes de atuação, que passam pela logística favorável e ambiente de inovação e empreendedorismo pulsantes

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212 anos de Pelotas: os potenciais e o redescobrimento da cidade
Caminhada do Patrimônio Histórico ocorre na terça-feira (1º). (Foto: Felipe Neitzke)

Comemorando 212 anos de história, Pelotas concentra em uma só cidade riquezas culturais, belas paisagens naturais, arquitetura formada por patrimônios históricos, diversidade gastronômica, educação, inovação e infraestrutura. Diante da variedade de atrativos, entidades empresariais apostam no fortalecimento do turismo e na reindustrialização como fatores essenciais para o avanço do desenvolvimento econômico e social do município. Para os empreendedores, o futuro nasce do redescobrimento e da divulgação dos potenciais da Princesa do Sul, inclusive pelos próprios moradores.

Cidade polo da Zona Sul, Pelotas tem a capacidade de atrair cerca de 1,2 milhão de pessoas para o consumo local. Pensando nisso, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), trabalha na atração do público por meio do estímulo a eventos, exposições e feiras. Com isso, atrações gastronômicas, culturais e artísticas movimentam o comércio e o serviço, principais setores econômicos. “O segmento varejista está aquecido e fazer eventos como a Fenadoce e o Pelotas Doce Natal traz o público para dentro da cidade, para trazer o dinheiro de fora para o consumo aqui. No ano passado, vieram de ônibus para a Fenadoce quase 40 mil pessoas”, lembra o conselheiro gestor da CDL, Daniel Centeno.

Para o fortalecimento turístico, a entidade, em parcerias com outras organizações empresariais como Aliança Pelotas e Associação Comercial (ACP), está empenhada na revitalização do Centro Histórico da cidade. Com a expansão para outras áreas, principalmente com o crescimento dos bairros planejados, há um movimento para que o Centro não perca a visibilidade. Semanalmente, reuniões têm sido realizadas para o planejamento das melhorias.

Atração e desenvolvimento

Na mesma linha, o presidente da Aliança Pelotas, Jorge Almeida, diz que é preciso “vender melhor o município”. O foco da entidade tem sido promover as potencialidades de Pelotas com o propósito de estimular investimentos, principalmente no segmento industrial.

Três pilares para alçar novos voos

Com a CDL e a Aliança Pelotas também está integrada a Associação Comercial. Presidente da ACP, Fabrício Cagol elenca em três pilares as áreas que têm prioridade para impulsionar o crescimento econômico: indústrias, turismo e revitalização do Centro Histórico. “Nós temos uma região plana, um porto internacional aqui perto, um aeroporto e uma mão de obra qualificada. Se a gente conseguir agregar a indústria aqui, com o nosso perfil, estimular essa vinda para cá, a gente vai mudar o cenário”, projeta.

Assim como os representantes da CDL e Aliança Pelotas, Cagol ressalta a importância do avanço gerado pelo turismo fortalecido. Para isso, seria indispensável um Centro atrativo com novidades e aprazível para a circulação.

Para pensar no desenvolvimento de Pelotas, também é necessário traçar os atributos que já compõem o cenário infraestrutural do município. As universidades, o aeroporto e a própria cultura da cidade são exemplos prontos que servem de base para o movimento da economia pelotense e regional.

Universidades como berço da inovação

Criada em 1969, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) experimenta, nos últimos anos, o período de maior expansão, a partir de sua adesão ao Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).

Hoje, conta com 22 unidades acadêmicas e 103 cursos de graduação presenciais, entre bacharelados, licenciaturas, tecnólogos e cursos de graduação a distância. Na pós-graduação, são 26 doutorados, 50 mestrados, seis cursos de mestrado profissional e 34 cursos de especialização. Na área da pesquisa, estão em andamento 2.698 projetos. A universidade conta com seis campi.

Já a Universidade Católica de Pelotas (UCPel) é a instituição de ensino superior mais antiga do interior do Rio Grande do Sul e tem espaço composto por 52 mil metros quadrados, divididos entre dois campi e o Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP). Com mais de cinco mil estudantes, inclui 30 cursos de graduação no módulo presencial e à distância, três programas de pós-graduação e 30 especializações com realização de processos seletivos ano a ano. Além disso, a universidade tem a maior oferta de vagas para o curso de Medicina no Estado, com seleção anual de 180 alunos.

Infraestrutura que pode atrair investimentos

Um dos grandes pilares do desenvolvimento da Região Sul é o Aeroporto Internacional de Pelotas João Simões Lopes Neto. Localizado a sete quilômetros de distância do Centro, o aeródromo garante facilidade na relação entre os modais de deslocamento em um Município cuja economia é forjada no agronegócio e no comércio. Desde 2022, a CCR Aeroportos realiza a gestão operacional do aeroporto.

Enfrentamento da crise

Desde o fechamento do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, os órgãos nacionais de aviação puderam contar com a estrutura do Aeroporto Internacional de Pelotas (PET) para ampliar a oferta de voos que conectam toda a região do Sul do Estado com o restante do Brasil. De acordo com o gerente do Aeroporto de Pelotas, Vinicius Bueno, para dar ainda mais segurança aos viajantes, as companhias aéreas decidiram manter os voos emergenciais até outubro.

Para receber os passageiros, a CCR Aeroportos investiu mais de R$ 20 milhões em obras que serão entregues até novembro, com a ampliação do terminal de passageiros, reformas em áreas importantes e ampliação da estrutura. “Isso possibilitará que o Aeroporto de Pelotas possa receber voos de destinos cada vez mais diversos e seja esse conector de sonhos e planos da nossa região com o Brasil”, aponta Bueno.

Porto conecta com o Mercosul

O Porto de Pelotas fica localizado às margens do canal São Gonçalo, que conecta a Lagoa Mirim à Lagoa dos Patos, administrado pela PortosRS. Trata-se de um porto fluvial que dispõe de um importante papel na logística de movimentação hidroviária interior e no processo de desenvolvimento econômico da Zona Sul. Segundo o chefe de Divisão do Porto de Pelotas, Antônio Ozório, o porto movimenta 1,3 milhão de toneladas de carga por ano, ficando atrás apenas do Porto de Rio Grande a nível estadual.

Fomento ao turismo é um dos caminhos para atração de visitantes à cidade. (Foto: Felipe Neitzke)

Cultura a favor do desenvolvimento

Em maio completou seis anos desde que foi tombado como Patrimônio Cultural Histórico, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O reconhecimento formal encontra raízes nas tantas atribuições da cidade, como a tradição doceira, a relevância histórica implantada nos edifícios, entre outras memórias que se sobressaem na trajetória do município.

A representatividade de Pelotas no cenário cultural também se explica porque, já no século 18, a cidade fluía como um robusto centro urbano, conforme explica o pesquisador, Guilherme Almeida, responsável pelo projeto do Almanaque do Bicentenário de Pelotas. “Graças à pujante economia do charque, baseada em um sistema escravista e por força do trabalho negro escravizado, Pelotas, a princesa ilustrada do Sul do Brasil, tornou-se, desde muito cedo, um centro urbano cosmopolita, de forte comércio, próspero e, portanto, atraente aos viajantes e imigrantes de diversas etnias”, ressalta o pesquisador.

Ainda, o historiador entende que o fluxo abundante de pessoas formou uma sociedade diversa, em que manifestações culturais, como a literatura, o carnaval, os saraus, os recitais, o teatro, os concertos, o cinema, a arte, a arquitetura e o saber-fazer doceiro, que encontraram terreno e material humano férteis para expressão.

Para Almeida, Pelotas tem capacidade de usufruir da sua maior riqueza: seu patrimônio; ou seja, sua história e cultura, em prol do progresso econômico e social, a começar pela reabertura do Theatro Sete de Abril. “O Theatro Sete de Abril precisa reabrir. […] Basta olharmos para o ‘turismo fabricado’ de cidades como Gramado e Canela, para nos darmos conta de que temos o que é mais difícil, o que estas cidades carecem: uma história bicentenária e um patrimônio digno de reconhecimento nacional pelo Iphan”, opina.

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