O dilema dos salários da Prefeitura e da Câmara
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quarta-Feira11 de Dezembro de 2024

Opinião

Douglas Dutra

Douglas Dutra

Jornalista

Repórter e colunista de política do A Hora do Sul

O dilema dos salários da Prefeitura e da Câmara

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Muitas pessoas comemoraram a decisão judicial que impediu o aumento dos salários de cargos políticos de Pelotas. No ano passado, os vereadores aprovaram a lei que eleva o salário de prefeito e presidente da Câmara para R$ 28,1 mil, de vereadores e secretários para R$ 18,7 mil e de vice-prefeito para R$ 19,6 mil a partir de 2025. 

Os valores chegam a ser 74% maiores que a remuneração atual. Numa região empobrecida, em que a maioria das pessoas sobrevive com um salário mínimo de R$ 1.412, soa ultrajante que um prefeito ganhe quase 20 vezes mais que um cidadão comum.

  • É preciso colocar esses valores em perspectiva. Em Caxias do Sul, com 463 mil habitantes, o salário do prefeito é de R$ 26,2 mil, o de secretário é R$ 16,4 mil e o de vereador será de R$ 15,8 mil. Já em Canoas, que tem 347 mil habitantes, os valores são parecidos: R$ 29 mil para prefeito e R$ 18 mil para secretários e vereadores. Enquanto isso, em Santa Maria, com 271 mil habitantes, o salário de prefeito a partir de 2025 será de R$ 31 mil, enquanto secretários e vereadores receberão um pouco menos: R$ 16,5 mil.

Um dos motivos para a demora no anúncio do secretariado de Fernando Marroni (PT) seria alguns quadros técnicos, especialmente os ligados à UFPel, ficarem reticentes diante da possibilidade de receber o salário de R$ 11,2 mil, ante a expectativa de receber R$ 18,7 mil. É natural, já que um professor de carreira que exerça funções de chefia pode facilmente receber acima de R$ 20 mil.

  • A mesma premissa vale para a iniciativa privada. Por qual motivo um profissional do setor privado bem remunerado aceitaria receber menos para trabalhar no setor público, com toda a responsabilidade envolvida? Uma remuneração incompatível com o padrão de mercado afasta profissionais qualificados e abre (ainda mais) margem para corrupção no setor público.

No caso da Câmara, a prerrogativa de escolher representantes qualificados é exclusiva do eleitor. Se um vereador ruim recebendo R$ 11,2 mil já é caro, imagina recebendo R$ 18,7 mil? E um bom vereador, quanto vale? O mesmo que um secretário de governo? São perguntas a serem respondidas nas urnas, e para serem acompanhadas de perto na próxima vez que a Câmara votar o aumento dos salários.

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