Projeto do Museu do Doce agrega mulheres em torno do bordado
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quarta-Feira30 de Outubro de 2024

Iniciativa

Projeto do Museu do Doce agrega mulheres em torno do bordado

Grupo Doces Linhas completa sete anos transmitindo saberes ancestrais, que entre outros benefícios pode gerar até renda extra

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Projeto do Museu do Doce agrega mulheres em torno do bordado
Grupo está decorando uma toalha para o Museu do Doce (Foto: Jô Folha)

Há sete anos o grupo Doces Linhas mistura aprendizado e trabalho artesanal a troca de experiências e memórias afetivas ao produzir peças decorativas ou utilitárias a partir do bordado. São 14 bordadeiras que se reúnem semanalmente em um local que tem muitas afinidades com o projeto: o Museu do Doce, responsável por salvaguardar saberes e fazeres. 

O grupo teve início em 2017 a partir da disciplina Bordaduras – a vida bordada da Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI), projeto da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PREC), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). As aulas eram no Museu do Doce e na época a diretora da entidade, a professora Carla Gastaud, estimulou a própria mãe, a professora aposentada da Faculdade de Educação (FaE) Maria Antonieta Dall’Igna, a ministrar essa matéria para a turma de 20 alunos. 

Maria Antonieta, 82, que borda desde jovem e fez cursos nesta área, conta que a experiência foi boa, mas achou que o bordado como disciplina não interessava a muitas pessoas. Então, surgiu a ideia de formar um grupo só para bordadeiras da terceira idade. “Tem uma onda de valorização do bordado no mundo inteiro hoje em dia”, comenta a artesã. A proposta teve adesão e virou um Projeto de Extensão do Museu intitulado Doces Linhas: Bordados no Museu do Doce, com coordenação das professoras Carla Gastaud e Noris Leal.

A mão livre

Nos encontros elas compartilham conhecimentos em bordados e memórias (Foto: Jô Folha)

Das mulheres que começaram no grupo cinco permanecem, mas ao longo dos anos outras foram se agregando ao projeto. As reuniões ocorrem nas tardes de quarta-feira. “É aberto para quem quer aprender a bordar”, fala Maria Antonieta.

As integrantes bordam a mão livre e cada uma delas leva seus conhecimentos e dúvidas para partilhar com o grupo. Algumas sabem mais, outras menos, mas todas desenvolvem habilidades nesta área. 

Coordenadora, Maria Antonieta propõe também trabalhos em grupo, como a toalha que elas estão bordando com desenhos dos estuques do casarão 8, da praça Coronel Pedro Osório, que abriga o Museu. A peça é um presente para a entidade.  

Na pandemia, elas fizeram sachês em forma de coração, doados aos profissionais da saúde da UPA do Areal e do Hospital de Clínicas. 

As bordadeiras também participam de projetos sociais, como o Blue Jeans Sisters da artista Belinda Smith, da Nova Zelândia, que usa a costura como forma de protestar contra o trabalho escravo de mulheres e meninas no universo da moda. Elas também bordaram quadros a partir de desenhos do artista Leandro Selister, para a Fenadoce em 2019.

Para a coordenadora, o fato de estarem no Museu é uma oportunidade de ampliar a visão do mundo e de se abrir a novas possibilidades. “Tem coisas que individualmente não vivenciaríamos, como fazemos aqui. É muito importante esse lugar para nós”, fala. 

Memória afetiva

Para a participante do grupo, a funcionária pública aposentada Iandora Martins Scherer, 62, bordar remete a uma memória afetiva. A mãe de Iandora bordava, mas ela não chegou a aprender a atividade. 

Quando uma colega de yoga falou para ela sobre o Doces Linhas, ela quis conhecer o trabalho. “Eu vim porque minha mãe bordava. Cheguei sem avisar e estou aqui já faz três anos”, conta.

O que começou despretensiosamente hoje é uma parte importante do cotidiano de Iandora. “Aqui a gente socializa e também aprende. A gente se sente útil”, diz.

Em clima de amizade e companheirismo elas produzem peças que podem gerar até uma renda extra. Mesmo sendo uma bordadeira profissional, Nara Berndt, 68, não dispensa estes encontros semanais. “Eu adoro bordar, é um relax mental maravilhoso. É uma terapia. Para mim, bordar é viver”, fala Nara.

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