Rio Grande mira o Porto e novos negócios locais

Emprego e renda

Rio Grande mira o Porto e novos negócios locais

Enquanto terminal vive crescimento, tempo para microempresa formalizar o negócio é de 12 minutos

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Atualizado sábado,
06 de Julho de 2024 às 16:17

Rio Grande mira o Porto e novos negócios locais
Investimentos em infraestrutura no complexo do Porto de Rio Grande chegaram à casa dos R$ 350 milhões no último triênio (Foto: Jô Folha)

Enquanto o Porto volta a crescer, Rio Grande aposta na desburocratização na legislação para o fomento de empregos em outras frentes. Desde 2021, o Município é referência nacional na flexibilização para a abertura de empresas, o que gerou mais de 4 mil postos de trabalho formal nos últimos anos.

Há três anos, foi aprovada a lei municipal 8.857, que segundo a secretária de Desenvolvimento, Inovação e Turismo, a economista Paola Braga, reduziu a poucos minutos a abertura de uma empresa no município.

A lei, segundo a secretária, é pautada pelo “princípio da boa fé” em relação aos empreendedores. “Ela permite ao empreendimento iniciar a atividade econômica e o licenciamento dá-se ao longo do processo”, detalha. Essa flexibilização contempla 80% das atividades, consideradas de baixo risco ambiental, de saúde e segurança.

Como resultado, o número de empresas legalizadas no município chegou a quase 21 mil em 2024, aumento de 5 mil nos últimos três anos, segundo dados do Ministério da Economia. Como consequência, os postos de trabalho apresentaram aumento de 30% no mesmo período, chegando a quase 39 mil.

Duas cidades em uma

O município divide-se em duas frentes de negócios: o setor industrial pujante, na esteira do Porto, e os micro e pequenos empreendedores, que passaram a receber maior atenção do poder público. “São os que fazem a economia local girar, nós precisávamos entregar eficiência a eles”, justifica Braga.

Segundo a superintendente de empreendedorismo e gestora da Sala do Empreendedor de Rio Grande, Elisandra Luvier, o Município teve mais de 6 mil empresas atingidas com os alagamentos e mais de 43 mil famílias foram afetadas.

Neste sentido, há o foco em resgate aos programas que estavam em desenvolvimento ao setor empreendedor, em parceria com o Sebrae e o Senac. “A gente começa a pensar na recuperação de crédito. Qual programa a gente desenvolve para que chegue às empresas atingidas, como desenvolver a autoestima para que a economia continue girando? Pensamos em uma cidade forte para a reconstrução e superação”, relata.

Com os olhos voltados às águas, na chamada economia azul, o Município trabalha na diversificação deste potencial. “Temos muito forte a educação formal, universidade e instituto federais e de ensino privado. Observando o cenário de desenvolver nossa principal potencialidade, de segmentos ligados ao mar, a gente percebe o crescimento dos serviços qualificados”, ressalta.
São oito setores impactados pela economia do mar e outros 52 indiretamente. “Por exemplo a bioeconomy, a ciência de robótica, as buscas pelos fármacos dos plânctons. Toda essa linha de pesquisa das universidades torna-se desenvolvimento econômico”, conclui Braga.

Setor industrial é puxado pelo Porto de Rio Grande

O setor industrial de Rio Grande é o maior em área no Estado, de acordo com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico. A maior parte dos investimentos no local está diretamente ligada à atividade do Porto, dividido entre o terminal público e arrendados ou privados.

As movimentações portuárias estão ligadas principalmente ao agronegócio gaúcho, na exportação de grãos e de pecuária, e na importação de insumos para a produção de fertilizantes, cujo setor industrial do município contempla empresas da área.

Enquanto as micro e pequenas empresas representam 19,6 mil unidades, as de maior porte estão em 1,1 mil, em especial dos setores alimentício e químico. Esses são os que apresentam, inclusive, o maior crescimento das indústrias.

Cristiano Klinger, presidente da PortosRS, empresa estadual que administra o Porto de Rio Grande, salienta o potencial logístico do espaço para a importação, pela infraestrutura destacada que o complexo portuário tem no cenário nacional. “Em comparativo aos demais portos do país e da região Sul, o nosso calado de 15 metros e a estrutura do terminal de contêineres, a gente pode trazer grandes navios para abastecer o mercado nacional e do Uruguai e Argentina”, exalta.

A ideia é ampliar a importação dos produtos industrializados, aliando-se à vocação para os granéis sólidos e líquidos. “Nossa estratégia é ser um hub da região, o terminal busca este papel pela posição e capacidade de fazer operação, com toda a tecnologia”, ressalta Klinger.

Números

Em 2023, o Porto de Rio Grande movimentou 42 milhões de toneladas em cargas, um aumento de 15% em relação a 2022.

Neste ano, são 15,4 milhões de toneladas movimentadas entre janeiro e maio, variação de -2,27% em relação ao mesmo período no ano passado.

Granéis sólidos lideram os tipos de carga, com 8,9 milhões de toneladas neste ano.

Soja em grão representa 2,5 milhões de toneladas.

Trigo em grão representa 2,3 milhões de toneladas.

Matéria prima para fertilizantes representam 1,7 milhões de toneladas.

Empregos diretos no complexo portuário: 10 mil.

Melhorias

No final de 2020, houve a grande obra de dragagem no Porto de Rio Grande, que homologou os 15 metros de calado. Em maio de 2022, com a criação da PortosRS, os investimentos aumentaram bastante: como superintendência, em dez anos o investimento em infraestrutura no complexo portuário foi de R$ 31 milhões. No triênio como PortosRS, esse número saltou para R$ 350 milhões.

“Todo ano a gente precisa dessas obras de manutenção de calado, que é o principal volume dos recursos essas obras de dragagem. O canal de acesso é o que garante a segurança da navegação e das operações nos terminais”, ressalta Klinger. “Os maiores navios podem entrar no Porto de Rio Grande”, acrescenta.

A ampliação do complexo envolve, ainda, o leilão do ano passado do terminal de granéis em Rio Grande, outro leilão marcado para agosto de licitação de área no cais público, a qualificação de um terminal de líquidos, dentre outros.

Gás é outra possibilidade

O governo do Estado trabalha, também, na elaboração de um terminal de gás natural, envolvendo o distrito industrial de Rio Grande e o Porto. O investimento previsto é de R$ 5 bilhões do Grupo Cobra, da Espanha, para implantação do projeto, que ainda depende de regularização junto ao governo federal.

Arroio do Sal

A região acompanha, à distância, a movimentação de empresários da Serra gaúcha na construção de um porto no litoral norte do Estado, no município de Arroio do Sal. Na avaliação de Klinger, os esforços do setor deveriam ser para a ampliação do complexo em Rio Grande. “Temos em Rio Grande e São José do Norte áreas disponíveis a novos terminais, com molhes, terminais de acesso, todo o complexo em funcionamento”, ressalta. “Somos favoráveis ao investimento privado, mas é importante olhar para o complexo e hidrovia que já temos. A indústria do centro do estado está perto de colocar o contêiner na água, descer a Rio Grande e ganhar o mundo”, completa.

Demandas

A principal demanda para o complexo portuário é pela duplicação do acesso ao Porto de Rio Grande, do lote 4 da BR-392. “A obra está com o Dnit, é importante a gente ter essa demanda fortalecida”. A obra, segundo Klinger, “vai reduzir custo, tempo de operação e toda a produção do Estado ganha competitividade”.

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