Entre a calmaria e a selvageria
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quinta-Feira19 de Setembro de 2024

Opinião

Douglas Dutra

Douglas Dutra

Repórter e colunista de política

Entre a calmaria e a selvageria

Por

Atualizado terça-feira,
17 de Setembro de 2024 às 09:51

A menos de 20 dias do primeiro turno, a campanha eleitoral de Pelotas mantém o clima calmo. Nos debates até agora, em poucos momentos se vê um fôlego para propostas apresentadas de forma clara, além das respostas decoradas. Muito se fala no que fazer, mas falta o como, com início, meio e fim.

Os candidatos demonstram sim ter boa vontade e convicção, mas nada que faça o eleitor indeciso se cativar. Os Fernandos Marroni (PT) e Estima (PSDB) deixam claro que a experiência no poder público é o diferencial de ambos. Por obrigação, eles devem ser capazes de apresentar propostas mais concretas e fugir da muleta de apelar para o governo Lula, no caso de Marroni, e para as gestões anteriores e o governo do Estado, no caso de Estima.

No último debate, Marroni apostou na promessa de fazer o município ter capacidade de investimentos próprios, sem detalhar como fazer isso sem aumentar taxas e impostos. Já Estima, escapou da armadilha de falar sobre o tamanho da coligação, de dez partidos, e usou a justificativa política: é o que é preciso fazer para governar com maioria na câmara.

Marciano Perondi (PL) tem dificuldade de avançar nas respostas sem recorrer ao mesmo argumento da desburocratização e da atração de investimentos. Sem dúvidas, são pautas importantes, mas não são a resposta para todos os problemas da cidade. Enquanto isso, Reginaldo Bacci (PDT) é incisivo em suas respostas na tentativa de se mostrar como uma alternativa às demais candidaturas. Já João Bourscheid (PCO), sem real viabilidade eleitoral, debate apenas pelo posicionamento ideológico, sem se aprofundar nos problemas locais reais.

Sem nenhuma pesquisa eleitoral formalmente registrada apontando a tendência dessa eleição, não parece que os candidatos estão dispostos a um embate mais agressivo. É claro que essa agressividade não precisa vir como violência ou ataques gratuitos, mas um pouco de energia é necessário, ainda mais a três semanas de ir às urnas.

***

Enquanto por aqui está tudo tranquilo, as imagens de domingo são preocupantes. Primeiro, em Bagé a violência escalou a um nível assustador após um homem mascarado disparar ao menos cinco tiros durante um comício da candidatura de Luiz Mainardi (PT). Cerca de 800 pessoas acompanhavam o evento político, incluindo famílias com crianças e idosos.

Ninguém ficou ferido e o homem fugiu, em meio à correria dos apoiadores assustados com o que aconteceu. O governador Eduardo Leite (PSDB) determinou reforço policial em Bagé e o candidato está sob proteção de policiais à paisana.

Esse não foi o primeiro caso de violência contra apoiadores da candidatura petista. Na sexta-feira, três homens invadiram a casa de um assessor de Mainardi e agrediram ele e seus dois filhos, um deles candidato a vereador. Os criminosos roubaram celulares e a chave de um carro. Os dois casos estão sendo investigados pela Polícia Civil, que ainda não estabeleceu uma motivação para os crimes.

Mais longe daqui, em São Paulo, o que aconteceu no debate dos candidatos a prefeito da maior cidade do país viralizou nas redes sociais e ofuscou qualquer proposta que pudesse ser apresentada. Pablo Marçal (PRTB) provocou José Luiz Datena (PSDB) chamando-o de estuprador e “arregão”. Descontrolado, Datena avançou sobre Marçal e o agrediu com uma cadeira.

É triste o nível do debate político, empobrecido por candidatos desesperados por visualizações nas redes sociais e desequilibrados diante de provocadores profissionais. Pouco importa o que os outros candidatos presentes tivessem a dizer de forma qualificada e democrática, o resultado das eleições de São Paulo já é conhecido: perde a civilidade, ganha a baixaria.

Acompanhe
nossas
redes sociais