A profissão que o Ricardo Salada escolheu exige técnica, estudo e, principalmente, uma intuição aguçada em cada detalhe. Há mais de 30 anos, atua no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa, no Instituto de Criminalística de São Paulo, especializado em crimes contra a vida. O perito criminal tem a responsabilidade de analisar provas materiais em cenas dos mais variados crimes. De mais de 7 mil casos, os mais emblemáticos da carreira estão o de Elize Matsunaga, o Maníaco do Parque e o dos pais de Suzane Von Richthofen, que se tornou um livro intitulado ‘Na cena do crime – por trás da fita amarela’. Ricardo também participa da série documental “Perícia Lab”, com a fotógrafa pericial Telma Rocha, disponível no YouTube.
Como foi reunir em um livro todos os detalhes da família von Richthofen?
Quis trazer ao público aquilo que todo mundo quer saber e, ao chegar a uma cena de crime, as pessoas são barradas pela fita de isolamento, na cor amarela, por isso o nome do livro. Aquela cena de crime, às vezes umas barbáries que o ser humano é capaz de fazer, que a gente demora a aceitar, tentei trazer justamente essa outra visão que o público não tem acesso, mas tem curiosidade. O livro traz um pouco da dinâmica do que acontece, como é que a gente enxerga, quais as nossas preocupações dentro de uma cena de crime, na análise de um ato criminoso.
No primeiro momento desse caso, você já percebeu que era uma história que teria uma repercussão diferente?
Quando chego no dormitório onde está o casal, tive a ideia de que teria sido usada arma de fogo, porque, próximo à mão do Manfred, no chão, havia uma arma de fogo, mas, quando comecei a examinar a Marísia, vi que era uma situação completamente diferente. Tive que refazer toda a ideia inicial e acabou vindo à tona todas aquelas minúcias que me indicavam que era uma simulação de latrocínio, e, na verdade, foi um crime bárbaro.
Ser um perito criminal exige saber lidar com situações extremas. O que mais te impressiona ao longo desses 30 anos em tantos casos diferentes?
Acredito que é o fato do meu trabalho ter que lidar sempre com a vítima, com o efeito morte. Então, quando você tem as vítimas, em especial, crianças, bebês e adolescentes, é um tipo de crime que é sempre chocante, mexe, não tem como não ser. Atendi um caso em que a vítima era um bebê de dois meses. No primeiro momento, parei, não consegui fazer. Fiquei um tempo me concentrando para criar coragem, ir em frente e realizar meu trabalho. Foi um dos momentos mais delicados da minha carreira.