A autoliquidação da Cooperativa Sulriograndense de Laticínios repercutiu na Assembleia Legislativa numa audiência pública da Comissão de Assuntos Municipais. No encontro, marcado por críticas à ausência de representante do Ministério Público Federal, produtores associados e lideranças políticas de municípios da Região Sul apresentaram uma série de denúncias relativas ao processo, na tentativa de reverter o leilão da planta industrial da Cosulati.
“Vamos lutar até o fim para, pelo menos, modular os efeitos da liquidação e minimizar os prejuízos para os agricultores”, afirmou o proponente da audiência, deputado Dr. Thiago Duarte (União). O principal encaminhamento da reunião é assegurar o apoio institucional do Parlamento gaúcho ao movimento dos agricultores. Para isso, o deputado sugeriu que a Assembleia Legislativa, a partir das discussões da audiência pública, declare a suspeição do leilão do complexo industrial de laticínios, localizado no município de Capão do Leão por R$ 49 milhões.
O parlamentar propôs ainda que a ata da reunião seja encaminhada ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Tribunal de Contas do Estado, Tribunal Superior do Trabalho e Ministério Público Estadual e Federal. Além disso, uma nota deverá ser remetida ao Ministério Público Estadual e à Defensoria Pública lamentando ausência de representantes.
Impacto regional
O fim das atividades da cooperativa teve impacto negativo para produtores rurais e para uma série de municípios que viram, de uma hora para outra, suas arrecadações minguarem. O deputado Pedro Pereira (PSDB), que acompanha o processo desde o início, é categórico ao afirmar que “assaltaram a Consulati e quase quebraram Capão do Leão, Canguçu e Morro Redondo”. “Na época, falava-se em R$ 120 milhões de prejuízo. O pior é que quem fez isso continua solto e 234 produtores perderam tudo. Dez anos depois, os mesmos querem assaltar, pela segunda vez, o pouco que sobrou, arrematando a empresa por R$ 49 milhões”, criticou.
Prefeitos relataram os prejuízos que diversos municípios que tiveram. O prefeito de Morro Redondo, Rui Brizolara (UB), afirmou que, da noite para o dia, a cooperativa demitiu 200 funcionários e a arrecadação caiu 30%. Mas o pior, segundo ele, foi assistir ao desespero dos agricultores. “Muitos fizeram investimentos para aumentar a produção e ficaram só com as dívidas”, reportou.
Para o prefeito de Cerrito, Flávio Vieira (PP), a cooperativa traiu os produtores, apresentando prestações de contas que não eram reais. “Quem fez isso tem que ser responsabilizado. Não é justo que a conta caia nas costas de duas ou três gerações de agricultores”, apontou.
Críticas de produtores
O maior temor dos agricultores que autorizaram a Cosulati a fazer financiamentos para realização de investimentos nas propriedades é que tenham que pagar os empréstimos agora. Muitos alegam que foram coagidos. Outros dizem que assinaram os pedidos sem conhecer o conteúdo. “Alguns produtores foram coagidos até a dar terras como garantias”, denunciou Leonel Fonseca, produtor de leite que chefiou a comissão que fez uma investigação independente sobre a falência da cooperativa. Segundo ele, os desvios chegaram a R$ 140 milhões por meio de fraudes contábeis e fiscais e evasão de divisas.
O agricultor Gustavo Blanch, de Pelotas, disse que a Cosulati lhe deve R$ 75 mil. “Entreguei o leite, mas não vi o dinheiro. Em 2012, ela (cooperativa) já enfrentava dificuldades, mas a direção dizia que estava tudo bem e eu acreditei. O resultado é que não recebi o dinheiro e ainda corro o risco de ter que pagar uma conta que não fiz”, lamentou.
Já o deputado Zé Nunes (PT) sustentou que a falência da cooperativa é resultado de “gestão temerária, concentrada na mão de uma única pessoa, que administrou como se fosse uma propriedade particular”. Na sua opinião, o desafio colocado para os agricultores associados reside em demonstrar na Justiça que, se tiverem que pagar as dívidas da cooperativa, perderão suas propriedades ou ficarão sem condições de produzir.
Sindicato rebate
Em contato com o Grupo A Hora, o presidente do Sindicato da Alimentação de Pelotas, Lair de Mattos, criticou a postura dos políticos da região, dizendo ver com preocupação o movimento e considerando isso uma tentativa de “inviabilizar a retomada das atividades da Cosulati e do pagamento das dívidas trabalhistas dos ex-funcionários”. Ele também criticou a atual gestão da cooperativa, a quem chamou de incompetente. “Essa tentativa politiqueira e eleitoral não vai prosperar. O liquidante já tentou anular o leilão e fracassou”, rebate.
Segundo Lair, o leilão proporciona o pagamento aos ex-funcionários e irrigará a economia dos municípios. Ele também diz que em breve trabalhadores serão contratados para trabalhar na nova fábrica coordenada pela Oz.Earth.
