O que deveria ser um ano de recuperação, com uma safra de pêssego mais produtiva que a de 2024, acabou se tornando uma decepção para os produtores da região de Pelotas e Morro Redondo. O excedente de produção tem atrasado o recebimento das frutas por algumas das indústrias de conservas e, com isso, parte da colheita tem sido descartada devido ao apodrecimento.
Os prejuízos de toneladas ainda se somam às perdas causadas nos pomares pelas chuvas dos últimos dias.
No final de semana, filas de caminhões aguardavam para descarregar em uma indústria no Morro Redondo e em outra na Vila Nova, 7º Distrito de Pelotas. No entanto, nem todos os carregamentos foram absorvidos pelas empresas.
Parte de quem não conseguiu escoar retornou com frutas estragadas pelo calor para as propriedades. Próximo a uma das indústrias, caixas foram deixadas à beira da estrada. Nesta segunda-feira, o aglomerado de caminhões foi registrado novamente.

Carregamento deixado em estrada da Vila Nova, 7º distrito. (Foto: Jô Folha)
“No sábado, eles tinham combinado de receber até as três horas [da tarde], quem estivesse lá até as 11 [da manhã] iria descarregar. E aí, eram três horas, acabou a produção, eles mandaram todo mundo com pêssego de volta e vão receber só amanhã, pelo que eu sei”, relata o presidente da Associação dos Produtores de Pêssego, Adriano Bosenbecker, sobre uma das indústrias.
Impasse logístico
O escoamento da safra, principalmente da cultivar Esmeralda, quase simultaneamente na maioria das propriedades, somado à falta de mão de obra na indústria de conservas, resultou em um problema logístico. Segundo Bosenbecker, as frutas só são recebidas enquanto há disponibilidade para enlatamento imediato, o que atualmente ocorre apenas em turnos normais, sem a habitual extensão de trabalho de fim de ano.
“Só que, quando eles disseram que iriam baixar o preço, se comprometeriam em receber toda a fruta. Esta semana está começando a Esmeralda, e aí eles estão dizendo que não dão vencimento”, diz o presidente sobre as negociações do preço da fruta. Os produtores pediam R$ 2,70 por quilo, mas, após longo período de tratativas, acabaram aceitando os R$ 2,10 oferecidos pela indústria.
“Imagina, a indústria que a gente entrega processa em torno de cinco mil caixas por dia, e, nessa semana agora, a produção deve ser de 10 a 15 mil caixas por dia”, exemplifica Bosenbecker sobre o excedente.
Toneladas de perdas
Sem ter conseguido escoar a produção no final de semana, um dos produtores que aguardava com o caminhão na tarde de ontem em frente a uma indústria era Ademir Barcellos. Ele explica que, após as chuvas dos últimos dias e o amadurecimento das frutas, os fungos estão apodrecendo os pêssegos. Com isso, a estimativa de perda na propriedade de Barcellos é de 50 toneladas, cerca de 30% dos pomares.
“Tem vezes que viemos e nem avisam que não vai ter descarga e que não podemos colher. Nós estamos colhendo, chegamos aqui e simplesmente o portão está fechado”, relata.

Produtores esperavam conseguir escoar colheita do final de semana nesta segunda-feira (15). (Foto: Jô Folha)
Outro produtor do 7º Distrito de Pelotas, que prefere não ser identificado, conta que, após colher 300 caixas na sexta-feira, às 16h, foi informado de que a indústria não estava mais recebendo as frutas.
“Cerca de 20 toneladas ficaram na lavoura para ser colhidas segundo orientação da indústria, porém hoje praticamente não sobrou nada; a maior parte apodreceu”, diz. As perdas se somam aos prejuízos causados pelo ciclone na última semana. “Cerca de mil caixas acabaram caindo por conta do vento.”
Dezembro marca a reta final da colheita do pêssego e o período em que as indústrias enlatam toda a produção para o abastecimento do comércio do ano seguinte. Para 2025, a expectativa era colher 36 mil toneladas, 13 mil a mais que em 2024. No entanto, o atraso no escoamento e as chuvas de ontem devem acelerar o apodrecimento das frutas.
A reportagem entrou em contato com representantes da indústria de conservas de Pelotas e região, mas ainda não recebeu retorno.
