Olhar para os bairros de Pelotas é fundamental. Embora no nosso cotidiano a gente não use por aqui termos como “favela” e “comunidade” e isso soe muito restrito a grandes metrópoles, o Censo de 2022 do IBGE aponta que temos 36 localidades com essa definição. Não são morros, não são aquela cena clássica de filme que tenta retratar o Brasil. Mas são os nossos bairros e vilas, com peculiaridades e dificuldades inerentes de uma cidade que cresceu um tanto quanto desorganizada ao longo do tempo e tem desafios estruturais homéricos.
A vida acontece nos bairros e eles, em geral, ainda carecem do básico em muitas frentes. Basta sair das grandes avenidas ou das ruas viscerais que nos deparamos com valetas a céu aberto, com poeira do chão batido, com água parada em buracos enormes causados pela falta de drenagem urbana e falta de calçadas. É onde o poder público tem uma necessidade urgente de atuar. E não é questão de apontar o dedo para esse ou aquele governo, afinal, chegamos até aqui sem ninguém ter feito.
O crescimento ideal é organizado e pensado, como vemos nos novos bairros que surgem hoje na cidade, mas sabemos que via de regra urbanismo não se faz assim. Vilas e comunidades nascem a partir de um ou dois núcleos e se expandem, e ao poder público cabe a obrigação de correr atrás. Porque não importa se há regularização fundiária, se luz, água e afins estão legalizados. Ali, vivem pessoas e precisam de dignidade, que a realidade nua e crua muitas vezes esconde em ruas distantes e áreas que não são vistas pelos tomadores de decisão no dia a dia.
A questão de infraestrutura e a “cara bonita” são os grandes problemas de Pelotas há muito tempo. Foi, inclusive, um dos pontos nevrálgicos da última eleição e o calcanhar de aquiles do PSDB para perder a eleição. Pelotas tem um desafio homérico de tapar buracos, de fechar valetas, de asfaltar ruas e de oferecer infraestrutura, acessibilidade e dignidade para sua população. Isso obviamente custa caro, tanto financeiramente quanto em luta política por recursos. Mas se tem uma coisa que move a política é voto, e a maioria do eleitor pelotense vive no bairro. É fundamental lembrar disso.
