Há 33 anos a gaita é a companheira de estrada e de vida da Adriana. Natural de Guaíba, desde a infância a música tradicionalista a fascinou. Sua trajetória passa pelo grupo ‘Só Gurias’, primeira banda formada somente por mulheres a tocar música regional gaúcha, como também pela sala de aula: é professora na Fábrica de Gaiteiros, projeto idealizado pelo acordeonista Renato Borguetti, que oferece aulas gratuitas do acordeão para crianças e jovens de sete a 15 anos. Além disso, em 2026, será embaixadora do chamamé e da cultura gaúcha na Alemanha no Akkordeonale Internacional Accordion Festival.
São mais de 30 anos vivendo da música. Quando começou a relação com a gaita?
Comecei a estudar em 1991, em seguida participei de festivais de gaita ponto, depois veio o Só Gurias e de lá para cá muita coisa importante tem acontecido, em especial a luta em busca de mais espaço para as mulheres dentro da música regional, que a gente sabe que ainda é muito predominado por homens.
Como foi a escolha pela gaita?
O meu pai adora música, ele era caminhoneiro e sempre trazia algum instrumento das viagens. Passei pela guitarra, violão, pandeiro, mas quando ele chegou com o acordeon, senti algo diferente. Procuramos um professor e comecei a estudar. Minha família não tem vínculos com a tradição, foi por conta da gaita que começamos a frequentar o CTG e criarmos esse vínculo com a tradição.
És professora na Fábrica de Gaiteiros do Renato Borghetti. Qual o sentimento de poder ensinar algo que é a tua paixão?
Em 2014 recebi o convite para estar à frente da unidade de Butiá e 2020, em Encruzilhada do Sul. É um aprendizado muito grande porque tenho que me colocar no lugar do aluno e entender as dificuldades individualmente. Cada aluno é um talento que está ali para ser lapidado.
Como foi o convite para estares em um festival na Alemanha?
Estou muito feliz com a lembrança porque já estive em 2014 no mesmo festival e agora, para minha surpresa, fui convidada novamente para essa edição. É uma responsabilidade representar a nossa cultura e também a cultura argentina através do Chamamé.Foi uma experiência muito importante para a minha trajetória, agreguei muito conhecimento e não vejo a hora de voltar.
Qual o papel da mulher na música, em especial na tua pessoa, que com a gaita, leva não só a nossa tradição, mas também a força feminina para todos os cantos?
Não é um caminho fácil. A nossa música regional ainda tem muito preconceito a ser quebrado. Somos muitas em festivais, mas na música regional de baile, ainda existe uma invisibilidade. Aqui falo na busca por equidade, de trabalhar com os homens. Ainda somos tão poucas no meio gaúcho, tocando de bota e bombacha a música de baile. Temos tantas mulheres talentosas, cantoras, gaiteiras, instrumentistas, o Sul é tão rico e o gaúcho não vive sem a prenda, os dois tem que andar lado a lado, então desejo muito que tenhamos mais espaço.