Instalação de bloqueadores no presídio prejudica comunicação na Cohab Tablada

Sinal

Instalação de bloqueadores no presídio prejudica comunicação na Cohab Tablada

Após uma semana de relatos de falhas no bairro, Estado sustenta que não há registro de interferência e que a instalação está em fase de calibragem

Por

Atualizado terça-feira,
18 de Novembro de 2025 às 09:17

Instalação de bloqueadores no presídio prejudica comunicação na Cohab Tablada
(Foto: Jô Folha)

Já imaginou ficar mais de uma semana em casa ou no trabalho sem acesso a sinal de telefone, ou internet? É isso que moradores da Cohab Tablada, em Pelotas, têm enfrentado desde a instalação de bloqueadores de sinal no Presídio Regional. O equipamento, que deveria impedir o uso de celulares dentro das celas, estaria interferindo na comunicação das famílias e dos comércios que ficam no entorno do prédio.

O problema começou entre terça e quarta-feira da semana anterior, quando técnicos instalaram e ligaram os novos bloqueadores. Desde então, segundo os relatos, moradores estão sem telefone fixo, sem chamadas de celular e com internet oscilando ou completamente indisponível. O problema vem afetando a rotina, a segurança e até a renda de quem trabalha na região.

A dona de casa Cloé Brockman, 72 anos, mora há duas décadas na avenida Cristóvão José dos Santos, em frente ao presídio. Ela conta que a falha começou logo após a instalação do equipamento. “Eles testaram no primeiro dia e até tinha sinal. Depois, acabou. Não consigo ligar para lugar nenhum. Tenho dois irmãos idosos no Fragata e não consigo falar com eles. Às vezes o WhatsApp entra, às vezes não”, conta.

Cloé relata que nem o telefone fixo funciona. A internet, segundo ela, está “muito lenta”, a ponto de impedir tarefas simples. O marido dela, Sérgio Medina, que trabalha em uma oficina, também está sem atendimento: clientes não conseguem telefonar nem efetuar pagamentos eletrônicos. “Quem não cometeu crime não tem internet; quem cometeu, talvez tenha”, ironiza a mulher.

Medina afirma que os bloqueadores foram ativados antes de todo o sistema estar instalado, o que ampliou o impacto sobre o bairro. “Eles colocam um aparelho, ligam, testam e só depois querem ajustar o perímetro. Está tudo errado.”

O vizinho do casal, Leandro Batista, 49 anos, também relata prejuízos. Sem internet, a casa ficou até sem televisão. E o comércio da esposa, parado. “Ninguém faz nada sem internet hoje. Estamos sendo prejudicados financeiramente. As máquinas não funcionam e os clientes não conseguem pagar”, relata.

Ele afirma que o bloqueio já se espalhou por várias quadras, não se limitando apenas à rua da unidade prisional: “Em um raio de 200 metros tem gente sem sinal. […] Estamos reféns dessa situação.” Moradores estudam um abaixo-assinado e já buscam advogado, orientados pela própria delegacia.

Sem telefone e sem internet, além de não conseguir trabalhar, Homero Queiroga, o primeiro a procurar o jornal, teme por emergências. Trabalhando em escala 12×36 e cuidando dos pais idosos – o pai em início de Alzheimer –, Homero diz que precisa manter contato com a mãe enquanto está no serviço, mas as ligações simplesmente não completam. “Ficamos incomunicáveis por algo que não é culpa nossa”, resume.

Resposta do Estado

A reportagem questionou a Secretaria de Serviços Penais e Socioeducativos do Rio Grande do Sul, responsável pelo presídio e pelos bloqueadores. Em nota, a Polícia Penal informou que a instalação dos bloqueadores “segue rigorosamente as normas definidas pela ANATEL e é acompanhada diariamente pelo órgão fiscalizador, pelas operadoras de telefonia e pela equipe técnica responsável pelo contrato”.

O órgão acrescenta que, até o momento, não recebeu nenhuma formalização de interferência registrada pelas operadoras ou pelos canais oficiais de atendimento ao usuário. Ainda destaca que a instalação dos equipamentos no Presídio de Pelotas continua em fase de testes e ajustes, etapa na qual são realizadas medições técnicas, calibrações e certificações para evitar impactos externos.

A nota finaliza: “Caso seja identificada qualquer inconsistência ou eventual vazamento de sinal durante essa fase, as operadoras e a empresa responsável ajustam os equipamentos para garantir que o bloqueio permaneça restrito à área interna da unidade”.

Acompanhe
nossas
redes sociais