Antes de se destacarem, tanto de forma individual quanto coletiva, em festivais de dança, existe todo um trabalho de formação realizado pelo Colégio Gonzaga. A equipe de dança da escola conta com 15 turmas e tem ensaios semanais nos quais muito mais do que a técnica é compartilhada.
O trabalho, iniciado há 11 anos com aproximadamente 30 alunas, tornou-se referência dentro e fora da escola, acumulando prêmios em festivais e consolidando resultados que vão além do palco.
À frente da disciplina, a professora e coordenadora Tesla Ferraz conta que um dos momentos mais aguardados pelos estudantes é a participação nos festivais de dança, que começam a ocorrer para alunos do primeiro ano do ensino fundamental inscritos na atividade.
“O palco é a casa deles. Então, para eles, subir no palco é algo difícil de dimensionar. As alunas pequenas esperam chegar ao primeiro ano para começarem a participar dos festivais”, conta Tesla.
A professora explica que as turmas são divididas por idade, mas convivem de forma integrada. Para aqueles que estão chegando, os passos de dança começam a ser ensinados a partir da prática dos exercícios de base. “Com o tempo, o aluno começa a se igualar ao nível em que os outros integrantes do grupo estão”, afirma.
Um exemplo, relata a professora, ocorre no exercício de abertura: “Tem algumas alunas que já conseguem fazer; então outras alunas também começam a querer fazer. Elas vão indo atrás desse avanço.”
No primeiro semestre, predomina o estudo de técnicas e ritmos; paralelamente, o grupo participa de quatro a cinco festivais anuais, com coreografias apresentadas originalmente no espetáculo de dezembro do ano anterior.
A partir de agosto, o foco se volta totalmente para a grande apresentação final. Cada turma recebe orientações específicas, constrói personagens e elabora conceitos cênicos, o que estimula a imaginação e a identidade artística das crianças.
Formação integral
A vivência em grupo é estruturante. O trabalho técnico é acompanhado da construção de vínculos, do respeito às diferenças e da valorização do coletivo. A cooperação se manifesta em ações cotidianas: trocar figurinos em equipe, arrumar o cabelo da colega, revisar passos juntas.
Em viagens a festivais, esse senso de pertencimento se aprofunda. “A vitória de uma é a vitória de todas”, resume a coordenadora.
Mesmo fora de sala, circulam juntas, assistem às apresentações umas das outras e torcem coletivamente — em um ambiente que, segundo a professora, favorece autonomia e senso de responsabilidade.
Reflexos também são percebidos em casa, conforme relata a empresária Margot Kaminsk, mãe da estudante Helena. “Os estudantes tornam-se mais organizados, passam a arrumar as próprias malas, cuidar dos materiais e administrar seus horários.”
A evolução corporal é parte importante do processo. A conquista de força, flexibilidade e percepção de limites é estimulada, sempre acompanhada de orientações pedagógicas e de saúde.
Tesla destaca que a alimentação é fundamental para o desenvolvimento técnico: “Não adianta querer flexibilidade ou força sem cuidar do que está por trás. Muitas alunas mudam hábitos em casa para alcançar melhores resultados.”
Crescimento
Conforme lembra Margot, foi quando a filha completou três anos que surgiu a ideia de matriculá-la na atividade de dança do Gonzaga. “A Helena sempre foi uma criança muito alegre, que gostava de música, de cantar e de dançar”, relembra.
Também ex-aluna do Gonzaga, Margot conta que o sentimento nutrido pelo colégio acabou influenciando a decisão da escolha da escola para a filha, assim como a qualidade da educação infantil disponibilizada.
“Ela sempre participou de muitas atividades da escola. Até hoje ela está com os mesmos colegas do maternal. Eu vejo ela criando vínculos; ela é filha única e, por isso, as amigas têm uma importância enorme na vida dela”, reflete.
Helena Maciel conta que iniciou na dança influenciada pelas amigas e tem no movimento de abertura — algo que não conseguia executar no começo — o seu movimento favorito. O tempo, a prática e o incentivo das professoras ajudaram a dominar a técnica.
Apresentação de fim de ano
Neste ano, a festa de final de ano vai tratar sobre a história da Cinderela, em narrativa construída inteiramente pela dança. Desde o anúncio do tema, as crianças mergulham no universo do conto, incorporando personagens e celebrando a grande noite no palco do teatro do colégio.
Helena ressalta o entusiasmo pelas coreografias do espetáculo de fim de ano, em que interpreta uma das gatas borralheiras da narrativa. Os ensaios, afirma, têm sido intensos e divertidos. Entre suas melhores memórias, destaca o primeiro lugar em um festival e os figurinos preferidos, especialmente o das “Jujubas”, colorido e vibrante.
Para Helena, a grande expectativa do ano é a encenação desse espetáculo. “Eu acho que vai ser legal, e vamos ganhar vários prêmios com ele. No ano que vem, vamos apresentá-lo no campeonato do Colégio Pelotense, e temos a expectativa de ficarmos em primeiro lugar.”
Ambiente afetivo
Tesla lembra que recebeu o convite do professor Carlos com o desafio de criar um grupo de dança dentro do colégio. O que poderia ter sido apenas uma atividade extracurricular transformou-se em um projeto de formação integral, pautado por valores como disciplina, responsabilidade e coletividade.
Curiosamente, as duas docentes que compõem a equipe — Luísa e Teodora — foram alunas do próprio grupo. Para Tesla, vê-las hoje no papel de professoras é motivo de comoção: “Elas começaram comigo muito pequenas. É muito gratificante ver o trabalho delas.”
Para além do aprendizado técnico, constrói-se diariamente uma comunidade que se reconhece, se apoia e se fortalece. Em cada roda de conversa, em cada ensaio, em cada troca de figurino, a dança no Gonzaga revela sua função mais profunda: formar cidadãos sensíveis, comprometidos, solidários e conscientes do próprio corpo e do outro.
Mais do que prêmios, viagens e palcos, o projeto ressignifica laços dentro e fora da escola. A dança segue, assim, como expressão artística, espaço de convivência e instrumento transformador — uma tradição viva que afirma, ano após ano, sua importância na história do colégio.
