A 51ª Feira do Livro de Pelotas começou na última quinta-feira e deve repetir o sucesso de sempre. Vamos respirar, por 18 dias, a cultura nas páginas de obras consagradas, tradicionais e novas. Quase um enfrentamento à realidade local, estadual e nacional frente ao hábito da leitura. Respectivamente, 49%, 48% e 51% das populações do município, do Rio Grande do Sul e do Brasil não cultivam uma das práticas mais saudáveis às pessoas: a leitura. Acessível, leve e responsável por abrir a mente ao conhecimento humano.
A frase “Quem lê, sabe” é verdadeira. Não se trata de buscar inteligência por meio dos livros, mas de estimular a imaginação e colher os bons frutos dessa rotina. Sobram estudos que apresentam a fórmula para a boa vida mental — e, em todos, a leitura é destaque. Um deles, feito pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos, mostra até mesmo a relação do hábito com a longevidade. Quem lê livros tem vantagem de sobrevivência em relação a quem não lê. Sim, é possível ganhar alguns anos a mais através de páginas folheadas todos os meses.
O Brasil faz o caminho inverso — e esse é o desafio. Mesmo com o cansaço já observado em relação às telas, a última edição do Retratos da Leitura apontou que 53% dos brasileiros não leram nem mesmo parte de uma obra nos 90 dias anteriores à pesquisa. É difícil imaginar que mais de 100 milhões de pessoas não tenham encontrado tempo, no dia a dia ou nos finais de semana, para dedicar 20 minutos a alguns capítulos. Pela primeira vez, desde o início da série histórica, o levantamento concluiu que a maioria da população não reserva tempo para as obras.
A Feira do Livro de Pelotas desafia as estatísticas. Gostamos do evento, visitamos mais de uma vez as bancas, compramos e dedicamos, ao longo de novembro, minutos do dia à leitura. Mas, e no restante do ano, como nos comportamos? Repetimos a preguiçosa rotina nacional?
O Retratos da Leitura trouxe ainda outro alerta: a queda na identificação da escola como o lugar de referência para ler. E, se a sala de aula já não é mais atraente às crianças e aos adolescentes no contato com os clássicos e outros gêneros, qual local será? Outra vez na contramão, o estudo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) revelou que estudantes que leem textos mais longos têm maior chance de obter melhores resultados nas avaliações, até mesmo em disciplinas como matemática e ciências. Na América do Sul, somos o país com o menor índice de alunos leitores de mais de 100 páginas por ano. Temos míseros 9,5%, contra 64% do Chile, 25,4% da Argentina e 25,8% da Colômbia.
A praça Coronel Pedro Osório será, até o dia 16 de novembro, a grande vitrine para estimular o hábito que precisa, urgentemente, ser resgatado. É necessário migrar o tempo oferecido ao aparelho celular para as páginas, trocar os likes pelas palavras impressas, os vídeos que brotam aos milhares nas telas pela interação com o imaginário, os influenciadores de ocasião pelos escritores do mundo. Precisamos.
Ler é uma escolha de vida. Quem lê, sabe. Simples e saudável assim.