O objetivo é abrir as portas

Opinião

Pedro Petrucci

Pedro Petrucci

Jornalista

O objetivo é abrir as portas

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A entrevista com Vittorio Ardizzone, novo presidente do Centro das Indústrias de Pelotas (Cipel), promoveu uma importante e fundamental reflexão. Na Rádio Pelotense, questionado sobre a estagnação industrial da cidade, o engenheiro foi direto: “é necessário arriscar”. Mas o risco a que ele se refere não é o da aventura ou do improviso, é o risco de investir. De colocar capital, energia e estratégia em algo maior que o próprio negócio.

Ardizzone usou o exemplo da Serra Gaúcha: lá, uma empresa do polo metalúrgico complementa a outra. Há encadeamento produtivo, visão de conjunto e, sobretudo, confiança. Quando uma cidade investe, todas crescem. Em Pelotas, ainda não chegamos lá, o que predomina é o movimento inverso.

O novo presidente do Cipel defende que a cidade precisa aflorar suas possibilidades. Pelotas tem universidade, tecnologia e gente preparada, mas falta aposta. E essa aposta começa no investimento, passa pela cooperação e chega ao diálogo entre o setor produtivo, o poder público e a academia. “Vivemos de costas”, disse Ardizzone, em uma imagem que serve de diagnóstico.

Nesse ponto, vale lembrar que Pelotas dispõe de instrumentos concretos para transformar discurso em prática. A Lei da Inovação, tanto em nível federal quanto estadual, permite que universidades e empresas compartilhem laboratórios, equipamentos e conhecimento. Autoriza a transferência de tecnologia, a criação de parcerias produtivas e até o uso de infraestrutura pública para projetos privados de inovação. Em outras palavras: o que Ardizzone propõe já tem respaldo legal.

A mudança que ele sugere não é ideológica. É estrutural. Menos ranços, mais acordos. Menos autoproteção, mais cadeia produtiva.
E, que fique claro, isso não significa flexibilidade fora da lei. O risco que o engenheiro propõe é o risco de crescer. De sair da sobrevivência para o desenvolvimento. De trocar a porta fechada pela vitrine aberta.

E, convenhamos, nada é mais arriscado, e mais necessário, do que voltar a acreditar que Pelotas pode ser uma cidade que produz.

Demandas ao Supremo

Em Brasília, os prefeitos da Zona Sul levaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma cobrança pela retomada do julgamento sobre a redistribuição dos royalties do petróleo, suspenso há mais de uma década por liminar da ministra Cármen Lúcia.

O encontro buscou esclarecer os próximos passos do processo que, se destravado, pode significar novo fôlego financeiro para municípios não produtores, caso da maioria na região. A comitiva da Azonasul reforçou que a indefinição impede a entrada de recursos que poderiam fortalecer investimentos locais. Os prefeitos foram recebidos por representantes do Supremo e acompanharam a mobilização nacional articulada por entidades municipalistas.

Nessa disputa sobre o modelo de desenvolvimento do país, de um lado estão os estados produtores, defensores de que a compensação é justa, já que enfrentam impactos ambientais e logísticos diretos da extração. Do outro, municípios como Pelotas e toda a Zona Sul, sustentadores de que o petróleo é um bem da União, e que seus recursos deveriam irrigar também as regiões que seguem à margem do ciclo de riqueza. Na prática, a redistribuição abriria a chance de Pelotas receber entre R$ 15 e 25 milhões anuais, valor suficiente para tirar do papel projetos e reduzir a dependência de emendas e repasses. A expectativa é que o STF defina nas próximas semanas o cronograma para o julgamento do mérito da ação.

Racismo nas redes

A deputada estadual Laura Sito (PT) encaminhou um ofício ao Ministério Público do Rio Grande do Sul denunciando comentários racistas feitos em uma publicação do jornal A Hora do Sul no Instagram, relacionada ao evento Corre Preto, que ocorreu em Pelotas.

O coletivo trouxe à Zona Sul uma edição especial marcada pela presença de dezenas de corredores. A publicação sobre o evento, contudo, foi alvo de ataques discriminatórios, motivando a deputada a solicitar que o MP apure a autoria e preserve as provas digitais, com base na Lei de Crimes Raciais e na Lei 14.532/2023, que equipara a injúria racial ao crime de racismo.

“O racismo não é liberdade de opinião, mas crime imprescritível e inafiançável”, destacou Laura, que é vice-presidenta da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. A corrida em Pelotas pretendia abrir espaço e ampliar vozes. O que se viu foi o retrato de um país que ainda hesita em lidar com o próprio racismo. Investigar é o mínimo; educar, o essencial.

ERRATA

No tópico das “Perguntas a serem feitas em Brasília”, a coluna errou ao questionar sobre “Quem pagará o novo Hospital Escola da UFPel”. A intenção do questionamento, e também um dos motivos da ida dos prefeitos a Brasília, é sobre recursos para equipamentos do hospital. A construção está garantida através de investimento do Governo Federal e com previsão de conclusão em 2028.

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